São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006

Rio deu R$ 26 mi para firma com um funcionário

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O Inep (Instituto Nacional de Pesquisa e Ensino da Administração), sociedade de Luiz Antônio Motta Roncoli -cuja empresa Virtual Line doou R$ 50 mil para a pré-campanha de Anthony Garotinho-, tinha apenas um funcionário oficialmente registrado em outubro de 2004, ano em que recebeu da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp) R$ 26,5 milhões em contratos.
O número foi constatado pelo Ministério Público do Trabalho, a partir de pedido de informações feito pelo deputado estadual José Nader (PTB) naquele ano. Desde 2003, o Inep recebeu R$ 52,1 milhões, sem licitação, da Fesp.
Em discurso no plenário da Assembléia na quinta-feira, Nader afirmou ainda que o Inaap (Instituto Nacional de Aperfeiçoamento da Administração Pública) contava com 158 funcionários no mesmo ano, quando recebeu R$ 10,25 milhões da Fesp.
O Inaap é sociedade de Nildo Jorge Nogueira Raja, Célio Direnna e Luciana Souza Luz e recebeu R$ 34,8 milhões da Fesp sem licitação, desde 2003. Nildo Raja aparece como sócio da Emprin (Empresa de Projetos de Informática), que doou R$ 200 mil para a campanha de Anthony Garotinho.
Ele também é sócio-gerente do IBDT (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento e Treinamento), que firmou R$ 26,89 milhões em contratos com a Fesp desde 2004.
Em 2004, um ano e meio antes do escândalo recente que descobriu a ligação entre as ONGs e Garotinho, José Nader, Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) e Marcos Abrahão (PSL) investigavam institutos que estavam prestando serviços para a Fesp.
"Quero falar a respeito dos contratos do Inep e do Inaap com o Estado. O Inaap possui 158 funcionários e tem um contrato com a Fesp no valor de R$ 3,17 milhões e outro de R$ 3,8 milhões. O Inep tem contrato em andamento cujo valor é astronômico, R$ 20,59 milhões, outro de R$ 1,13 milhão e um de R$ 3,18 milhões. Creio que o problema aí devem ser os centavos", disse o deputado Nader.

Institutos de fachada
Os dois institutos são de fachada e ficam em Rio Bonito (a 74 km do Rio de Janeiro), cidade onde a alíquota de ISS é mais baixa que em outros lugares, de 1%.
Marcos Abrahão informou que foi às supostas sedes dos institutos. "O que vi não foi nada agradável: eram apenas três funcionários, numa sala muito pequena."
No discurso da semana passada, Nader lembrou suas denúncias de 2004 e citou Ricardo Secco, parceiro de Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio do Inep e da Virtual Line. Secco é acusado por cooperados, em processo no Ministério Público do Trabalho, de ter recrutado trabalhadores para a cooperativa Coopersonal, de Luiz Antônio e seu irmão, Pedro Augusto Roncoli.
"Podemos detectar que em 2004 denunciei esses dois institutos, inclusive vi numa dessas reportagens o nome de Ricardo Secco, o grande mentor desses institutos -de todos eles, não só de um."
A Coopersonal e a Pro Service, segundo o MPT sociedade dos irmãos, foram acusadas de contratação fraudulenta de mão-de-obra. Os procuradores pediram a indisponibilidade de bens dos Motta Roncoli, e que se abstenham de trabalhar para empresas públicas, sob acusação de intermediação fraudulenta de mão-de-obra pelas empresas.
A primeira delas prestou serviços de atendimento no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio, como a Folha mostrou na quinta-feira.
Nildo Raja e Luiz Antônio Motta Roncoli não foram localizados para comentar o conteúdo da reportagem até a conclusão desta edição.
O Ministério Público Federal no Rio instaurou na última terça-feira procedimento de investigação preliminar e requisitou à Polícia Federal o início de apuração para identificar suposta "falsidade ideológica" das empresas que fizeram doações no total de R$ 650 mil à pré-campanha de Garotinho à Presidência.


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