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Empresário foi obstinado por independência e novidades
Depois da infância com dificuldades, Frias passou pelos setores financeiro, agropecuário, imobiliário e, a partir de 1962, quando adquiriu a Folha, transformou-a no jornal mais influente e de maior circulação do país
DA REDAÇÃO
Obcecado pelo trabalho, estabeleceu para a imprensa brasileira um patamar inédito de
distanciamento frente aos poderes político e econômico, baseado na pluralidade e no espírito público do jornalismo.
Penúltimo dos nove filhos do
casal Luiz Torres de Oliveira e
Elvira Frias de Oliveira, Frias
nasceu em Copacabana, em 5
de agosto de 1912.
Pertencia a uma família tradicional do Rio de Janeiro. Seu
bisavô fora o Barão de Itambi,
político influente no Segundo
Reinado. Seu avô, Luiz Plinio
d'Oliveira, construiu os Arcos
da Lapa, adutora que trazia
água de Santa Tereza para o
centro da capital.
Apesar dessas raízes, sua infância foi marcada por dificuldades. Em 1918, seu pai, que era
juiz de direito em Queluz (SP),
licenciou-se para trabalhar
com o industrial Jorge Street,
casado com uma tia de Elvira,
um pioneiro do setor têxtil. A
família mudou-se para São
Paulo, e Frias foi estudar no
Colégio São Luís, mantido por
padres jesuítas e um dos mais
conceituados da cidade.
Antes de completar oito
anos, Frias perdeu a mãe. Em
seguida, a família foi abalada
com a quebra da indústria de
Street e passou a viver apuros
financeiros. Já não era mais
possível pagar em dia as mensalidades do colégio, freqüentado pela elite paulista, e o menino Frias ia às aulas com sapato
furado, forrado com jornal por
dentro para tapar o buraco.
Gostava de história universal,
sonhava em ser advogado, mas
resolveu abandonar os estudos
aos 14 anos para começar a trabalhar.
Seu primeiro emprego (1926)
foi como office-boy na Companhia de Gás de São Paulo, que
pertencia, como grande parte
dos serviços públicos da época,
a empresários ingleses.
Passou a ajudar nas despesas
da casa e chamou a atenção de
seus chefes. Em três meses foi
promovido a mecanógrafo, ou
seja, operador de máquinas de
contabilidade.
Em 1930, foi convidado e
aceitou um posto na Secretaria
da Fazenda do governo do Estado, a fim de organizar a confecção mecânica dos tributos.
Para aumentar a renda, vendia
rádios à noite. Em 1940, já era
diretor do Departamento Estadual do Serviço Público, respondendo pela diretoria de
Contabilidade e Planejamento.
Embora adotasse, desde cedo, uma atitude cética em relação à política, alistou-se nas
tropas da Revolução Constitucionalista, que eclodiu em julho
de 1932. Permaneceu dois meses em Cunha, na região do Vale do Paraíba, onde passou o
aniversário na trincheira, participou de escaramuças e viu
companheiros serem mortos.
Acreditava que a ação militar
contra o governo central, entretanto, era uma aventura fadada ao fracasso e não alimentava simpatia pela liderança
oligárquica do movimento.
Nos anos seguintes, manteve-se distante tanto do comunismo como do integralismo, as
duas correntes que empolgavam a juventude. Seus interesses estavam na atividade empresarial. Passou a se dedicar
aos negócios a partir do início
da década de 40, contrariamente aos conselhos de seu pai, que
prezava a estabilidade do serviço público.
Quando garoto, Frias assistiu
a inúmeras discussões entre
seu pai e seu tio-avô, o empresário Jorge Street, que ergueu
três impérios empresariais e foi
três vezes à falência.
Construiu, 15 anos antes da
Revolução de 1930 e do advento das leis trabalhistas, a Vila
Maria Zélia, no Brás, que provia
os operários de moradia, escola
e assistência médica. Freqüentemente, as discussões entre o
juiz e o industrial, parentes por
casamento, versavam sobre as
vantagens e desvantagens da
social-democracia escandinava, que despertava, então, grande curiosidade.
Em 1943, Frias participou, na
condição de um dos acionistas-fundadores, do estabelecimento do Banco Nacional Imobiliário (BNI, mais tarde Banco Nacional Interamericano), sob a
liderança de Orozimbo Roxo
Loureiro. Como diretor da carteira imobiliária, lançou um
programa de condomínios a
preço de custo. Foram construídos, assim, mais de uma dezena de prédios, entre eles o
Copan, que viria a se tornar um
dos símbolos de São Paulo.
Convidado por Frias, de
quem se tornou amigo, Oscar
Niemeyer projetou ainda, além
do Copan, a Galeria Califórnia,
na rua Barão de Itapetininga,
um prédio na praça da República e outro na rua Direita, antiga
sede das Indústrias Matarazzo.
Um discípulo de Niemeyer, o
arquiteto e pintor Carlos Lemos, projetou na mesma época,
com financiamento do BNI, o
Teatro Maria Della Costa. Cândido Portinari e Di Cavalcanti
fizeram painéis para alguns
desses edifícios e também se
tornaram amigos de Frias.
Como diretor de banco, viajou várias vezes aos Estados
Unidos, onde tomou contato
com a cultura empresarial norte-americana e foi fortemente
influenciado por ela.
O BNI inovou ao criar o "canguru-mirim", campanha de estímulo à poupança infantil.
Chegou a vender prédios para o
advogado José Nabantino Ramos, então controlador da Folha e um dos pioneiros na introdução da psicanálise em São
Paulo.
Por divergências quanto à
administração, Frias deixou o
banco. No dia seguinte ao rompimento com Loureiro, Frias
caiu do cavalo e quase teve uma
fratura de espinha. Ficou seis
meses engessado. Semanas depois, o automóvel que dirigia
entrou na traseira de um caminhão parado, sem sinalização,
na via Dutra. Morreram Zuleika Lara de Oliveira, sua primeira mulher, e um irmão dele, José. Seis meses após sua saída do
banco, o BNI foi adquirido pelo
Bradesco, depois de ter entrado
em liquidação.
Frias fundou, em 1953, uma
empresa própria (Transaco
-Transações Comerciais), uma
das primeiras firmas especializadas na venda de ações diretamente ao público.
Traduziu para o português o
livro "Do Fracasso ao Sucesso
na Arte de Vender", clássico comercial do norte-americano
Frank Bettger. Organizou cursos de vendas -algo inédito no
Brasil-, para uma equipe que
chegou a contar com 500 vendedores.
Frias se casou novamente
com Dagmar de Arruda Camargo, que já tinha uma filha de casamento anterior, Maria Helena, e com quem teve três filhos:
Otavio, Luís e Maria Cristina.
Data desse período na Transaco sua primeira ligação com a
imprensa: a empresa prestou
serviços profissionais à "Tribuna da Imprensa", o jornal carioca de Carlos Lacerda, e à "Folha
da Manhã" de Nabantino.
Este havia transformado um
diário pouco expressivo num
jornal moderno. Em 1960, foram reunidos três títulos da
empresa (o carro-chefe "Folha
da Manhã", a "Folha da Tarde"
e a mais antiga "Folha da Noite", fundada por Olival Costa e
Pedro Cunha em 19 de fevereiro de 1921) num só jornal -a
Folha de S.Paulo.
Em 1954, o empresário comprou um pequeno sítio nas proximidades de São José dos
Campos, no interior paulista.
Mas as intenções de lazer não
duraram muito tempo.
Logo o sítio se transformou
em granja e depois num empreendimento avícola de porte,
que chegou a manter um plantel de 2 milhões de aves. Atualmente, a Granja Itambi se dedica apenas à pecuária.
Associado ao empresário
Carlos Caldeira Filho, Frias
fundou a Estação Rodoviária de
São Paulo, inaugurada em 1961.
Mas o principal empreendimento dos dois sócios seria
concretizado pouco depois, em
13 de agosto de 1962, com a
aquisição da Folha de S.Paulo,
que disputava, com o "Diário
de S.Paulo", a posição de segundo jornal da capital paulista, e que atravessava período de
dificuldades financeiras.
Agastado com a greve dos
jornalistas de 1961, Nabantino
decidira se desfazer do controle acionário do jornal.
Frias e Caldeira, respectivamente presidente e superintendente da empresa, voltaram-se à tarefa prioritária de
recuperar o equilíbrio financeiro do jornal. Para dirigir a Redação, Frias nomeou o cientista José Reis, um dos criadores
da Sociedade Brasileira Para o
Progresso da Ciência (SBPC).
Trouxe para integrar a equipe o responsável pela modernização do rival "O Estado de S.
Paulo", o jornalista Cláudio
Abramo, que viria a suceder
Reis e manter, com Frias, uma
produtiva convivência profissional que se prolongou por
mais de 20 anos.
Em 1964, a Folha apoiou a
derrubada do presidente João
Goulart e o estabelecimento de
um regime de tutela militar
-temporária, conforme se
acreditava- sobre o país.
Superada a fase de adversidades econômico-financeiras,
a nova gestão passou a se dedicar à modernização industrial e
à montagem de uma estrutura
de distribuição que alicerçou
os saltos de circulação que estavam por vir. Foram comprados novos equipamentos e impressoras nos EUA.
Em 1968, a Folha se tornava
o primeiro jornal latino-americano a ser impresso no sistema
offset. Em 1971, outro pioneirismo: o jornal adotava composição "a frio", abandonando os
tradicionais moldes de chumbo. A Folha crescia em circulação e melhorava sua participação no mercado publicitário.
No final dos anos 60, Frias
chegou a organizar o embrião
de uma rede nacional de televisão, congregando à TV Excelsior de São Paulo, líder de audiência cujo controle adquiriu
em 1967, mais três emissoras
no Rio de Janeiro, em Minas
Gerais e no Rio Grande do Sul.
Por insistência de Caldeira, porém, os dois sócios abandonaram a empreitada em 1969.
Mais ágil e inovador do que o
concorrente tradicional, a Folha ganhava espaço junto às camadas médias que ascenderam
com o "milagre econômico", fixando-se como publicação de
grande presença entre jovens e
mulheres.
Ao mesmo tempo, dedicava-se com desenvoltura crescentea áreas do jornalismo até então pouco exploradas, como o
noticiário econômico, esportivo, educacional e de serviços.
Em 1968, em companhia de
Carlos Caldeira, Frias assumiu
a Fundação Cásper Líbero, na
época em sérias dificuldades financeiras. O equilíbrio econômico foi alcançado, a TV Gazeta, inaugurada. Ambos se retiraram tão logo a situação se
normalizou.
A partir do final de 1973, o
jornal passou a adotar uma atitude política mais independente e afirmativa, em vez da "neutralidade" acrítica do intervalo
1968-1973.
A Folha apoiou a idéia da
abertura política e se colocou a
serviço da redemocratização,
abriu suas páginas para todas
as tendências de opinião e incrementou o teor crítico de
suas edições.
Frias acreditava firmemente
na filosofia de uma publicação
isenta e pluralista, capaz de
oferecer o mais amplo leque de
visões sobre os fatos. Encontrou um colaborador habilitado em Cláudio Abramo, responsável pela área editorial entre 1965 e 1973, sucedido por
Ruy Lopes (1973), e Boris Casoy (1974), reconduzido a essa
função em 1975, onde permaneceu até 1977, quando Casoy,
em meio à crise provocada por
uma tentativa de golpe militar
contra o presidente Ernesto
Geisel, foi convidado por Frias
a retornar ao cargo.
Abramo reformulou o jornal
e fez a primeira (1976) de uma
série de reformas gráficas que
se sucederiam.
Reuniu colunistas como Janio de Freitas, Paulo Francis,
Tarso de Castro, Glauber Rocha, Flavio Rangel, Alberto Dines, Mino Carta, Osvaldo Peralva, Luiz Alberto Bahia e Fernando Henrique Cardoso.
A Folha se transformava
num dos principais focos de
debate público do país. Ao contrário de algumas expectativas,
essa linha editorial foi preservada e desenvolvida durante o
período em que Casoy foi editor-responsável.
Em 1983-84, a Folha foi o
baluarte, na imprensa, do movimento Diretas-Já, a favor de
eleições populares para a Presidência da República. Apoiou o
Plano Cruzado, em 1986, e fez
campanhas contra o fisiologismo político durante o governo
José Sarney, manifestando-se
contrária à prorrogação do
mandato presidencial.
O jornal manteve-se em posição crítica durante a ascensão
e o apogeu de Fernando Collor.
Embora apoiasse suas propostas de liberalização econômica,
foi a primeira publicação a recomendar o impeachment do
chefe do governo, que acabou
caindo em 1992.
Em 1986, tornou-se o jornal
de maior circulação em todo o
país, liderança que mantém
desde então. Em 1995, um ano
depois de ultrapassar a marca
de 1 milhão de exemplares aosdomingos, a Folha inaugurou
seu novo parque gráfico, considerado o maior e tecnologicamente mais atualizado na
América Latina, um projeto orçado em U$S 120 milhões.
Em 1991, Frias e Caldeira decidiram dissolver a sociedade
que mantinham, cabendo ao
primeiro a empresa de comunicações e ao segundo os demais negócios e imóveis em comum.
A partir de meados da década
de 80, Octavio Frias de Oliveira
começou a transferir a operação executiva para seus filhos
Luís e Otavio, respectivamente
nas funções de presidente
e diretor editorial do Grupo
Folha.
Até poucos meses atrás, o
publisher participava do dia-a-dia do jornal, seja acompanhando os números da empresa, seja definindo a linha dos
editoriais, seja criticando reportagens ou recomendando
pautas jornalísticas.
Embora tenha sempre afirmado não ser jornalista, mas
empresário, trouxe furos de reportagem, como a notícia de
que o estado de saúde de Tancredo Neves era muito mais
grave do que afirmavam, em
março de 1985, médicos e autoridades do novo governo.
Consolidado o seu papel na
imprensa brasileira, o Grupo
Folha passou a investir em novas tecnologias. Em 1996, lançou o Universo Online (UOL),
principal provedor de conteúdo e de acesso à internet do
país. Líder absoluto na categoria de notícias da rede brasileira, o UOL é hoje uma empresa
de capital aberto, na qual o
Grupo Folha tem 41,9% das
ações, o grupo de telefonia Portugal Telecom tem 29% e o restante está em poder do público.
Atualmente, a Folha é o centro de uma série de atividades
na esfera da indústria das comunicações, abrangendo outros jornais -o "Agora São
Paulo", campeão de vendas em
bancas no Estado de São Paulo,
o "Valor Econômico", lançado
em 2000 em associação com as
Organizações Globo, e o "Alô
Negócios", o maior jornal de
Curitiba em número de classificados.
Fazem parte também do grupo: o Datafolha, instituto de
pesquisas de opinião, a Publifolha, editora de livros, o Banco
de Dados da Folha, a Folhapress, agência de notícias, a
Plural, maior indústria gráfica
de impressão offset do país, a
São Paulo Distribuição e Logística, em parceria com o Grupo
Estado, e a Transfolha.
Na construção de todas essas
empresas, Frias mostrou seus
traços mais marcantes: inteligência prática e intuitiva, o tino
comercial, a informalidade no
trato, a curiosidade pelos empreendimentos produtivos. De
hábitos simples, quase espartanos, ele era agnóstico em religião, liberal em política e economia e, até alguns anos atrás,
praticante de esportes.
Nos últimos anos, recebeu
uma série de homenagens.
No79º aniversário da Folha,
em fevereiro de 2000, a Câmara dos Deputados, em seção solene, homenageou o Grupo Folha e seu publisher. Em 2002, a
Fiam (Faculdades Integradas
Alcântara Machado) inaugurou a cátedra Octavio Frias de
Oliveira, com programação de
seminários mensais. Frias recebeu da entidade o título de
professor honoris causa em fevereiro.
Em dezembro, a Fundação
Professor Edevaldo Alves da
Silva, do Centro Universitário
Alcântara Machado, em São
Paulo, lançou o livro "Octavio
Frias de Oliveira: 40 Anos de
Liderança no Grupo Folha",
reunindo textos de jornalistas
que trabalharam ou trabalham
na empresa.
Em 3 de maio do ano passado, o publisher da Folha recebeu o prêmio Personalidade da
Comunicação 2006, concedido
pelo 9º Congresso Brasileiro de
Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.
Em agosto, foi lançado no
Instituto Tomie Ohtake, em
São Paulo, o livro "A Trajetória
de Octavio Frias de Oliveira",
escrito pelo jornalista Engel
Paschoal e editado pela Mega
Brasil. A Publifolha relançou o
livro em março deste ano (328
págs.). A obra traça um perfil
do empresário e traz depoimentos de diversas personalidades do mundo político, empresarial e jornalístico.
No dia 4 de setembro passado, o então governador Cláudio
Lembo condecorou Frias com
a Ordem do Ipiranga, a mais
elevada honraria do Estado de
São Paulo.
De franqueza desconcertante, mas avesso a entrevistas,
surpreendeu ao dar uma declaração em 2003 comentando o
estado de endividamento da
mídia no país. Estava em discussão a possibilidade de o
BNDES conceder empréstimos
ao setor. Disse Frias: "O que interessa ao governo é a mídia de
joelhos. Não uma mídia morta.
Uma mídia independente não
interessa a governo nenhum".
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