EDUARDO SUPLICY
ESPECIAL PARA A FOLHA

EM 1975, O BRASIL vivia uma situação muito difícil do ponto de vista das liberdades democráticas e de imprensa. Um movimento particularmente tenso ocorrera quando Vladimir Herzog e Rodolfo Konder haviam sido presos. Daí, houve a morte de Herzog nas dependências do DOI-Codi. Foi nesse ano que Cláudio Abramo, depois de conversar com Octavio Frias, convidou-me para trabalhar na Folha.
Num almoço, me fizeram o convite para ser redator de assuntos econômicos e ajudar na editoria de economia.
Efetivei minha colaboração a partir de 1976, quando passei a escrever de três a quatro artigos assinados por semana. Foi então que tive uma convivência maior com Octavio Frias, que resolveu transformar a Folha num jornal de grande importância na vida brasileira em todos os campos. Alguns dos mais importantes pensadores passaram a publicar artigos de grande repercussão. A seção "Tendências/Debates" se tornou um marco significativo do pensamento brasileiro.
Octavio Frias cuidava de ter uma formidável equipe de jornalistas. E com especial carinho preparava seus filhos Otavio, Luís e Maria Cristina cada um em sua área de especialização, para que todos pudessem dar continuidade ao seu trabalho, com uma qualidade ainda maior de formação do que a dele próprio.
Com muita coragem e assertividade, Octavio Frias enfrentou momentos difíceis quando o governo militar quase interveio no jornal querendo que algumas pessoas-chave, de grande talento, fossem afastadas. As dificuldades acabaram sendo superadas, e o jornal foi mais e mais se fortalecendo. Com cada vez maior influência, passou a abraçar algumas das principais bandeiras da democratização do país, tendo sido o seu engajamento direto na campanha das Diretas-Já um dos maiores exemplos.
Foi justamente por meus artigos na Folha que alguns amigos vieram me dizer: "Seus artigos estão sendo muito lidos, e seria bom você defender suas idéias no Parlamento". Daí para a frente, elegi-me deputado estadual, federal, vereador e depois senador. Minha contribuição regular e profissional na Folha se deu de 1976 a 1980. Daí para frente, fui convidado a escrever em "Tendências/Debates" sempre que tivesse uma contribuição relevante, e eu tenho feito com muito gosto.
De tempos em tempos, retornei à Folha para visitar Octavio Frias e seus filhos. A última foi por volta de setembro passado. Os três estavam presentes, juntos a seu pai. Fiquei emocionado de constatar o extraordinário legado que ele havia construído para que seus filhos tivessem condições de tão bem continuar a sua obra e fazer da Folha um jornal que contribuirá cada vez mais para que o Brasil se torne uma nação democrática, com uma imprensa de qualidade cada vez maior, de forma a nos ajudar a construir um Brasil onde os princípios de Justiça possam prevalecer.