São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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Diversidade católica marca posse de dom Odilo em São Paulo

Membros das mais diversas linhas da igreja tiveram espaço na cerimônia que ocorreu ontem à tarde na Catedral da Sé

O presidente Lula enviou uma mensagem ao novo arcebispo; o prefeito da capital, Gilberto Kassab, também esteve presente


LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A diversidade católica marcou a posse de dom Odilo Scherer, 57, como novo arcebispo de São Paulo.
A cerimônia ocorreu ontem na Catedral da Sé, no centro da capital paulista, e contou tanto com a presença dos Arautos do Evangelho, uma dissidência da conservadora TFP (Tradição, Família e Propriedade), quanto com representantes da Pastoral da Juventude, uma das linhas mais à esquerda da igreja.
O estilo da missa demonstra que d. Odilo deve dar continuidade ao trabalho de seus dois antecessores vivos -d. Cláudio Hummes e d. Paulo Evaristo Arns- à frente da terceira maior arquidiocese católica do planeta. Enquanto d. Cláudio, hoje "ministro" do papa no Vaticano, tentou conciliar as diferentes alas da igreja, d. Paulo criou comunidades na periferia da cidade e criou uma infinidade de pastorais dedicadas a migrantes, negros e jovens.
A homilia do novo arcebispo para as cerca de 3 mil pessoas que lotaram a igreja tornou claras suas intenções. Ao explicar o sentido dos trechos bíblicos lidos durante a sua posse, d. Odilo pediu a todos os setores da igreja que trabalhassem juntos em prol dos "desígnios de Deus". E em um trecho que foi muito aplaudido pelos padres, freiras e fiéis presentes, disse: "Abençôo e conforto os pobres de nossa cidade e todas as pessoas que sofrem. Asseguro-lhes que Deus não os esquece. Por isso, podem contar também com a solidariedade da igreja na afirmação de sua dignidade e do seu direito e na busca de superação de seus sofrimentos e da condição injusta que lhes é muitas vezes imposta".
Entre os padres presentes, houve quem dissesse que d. Odilo pode não simpatizar com a teologia da libertação, corrente católica que vê a igreja a serviço da transformação social e se inspirou no marxismo para analisar a realidade, mas que certamente está de acordo com alguns de seus ditames. Entre eles, a maior participação dos católicos na política e o engajamento em causas sociais.
A cerimônia de posse contou com a presença do prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL), do deputado José Carlos Stangarlini (PSDB), que representou o governador do Estado, José Serra (PSDB), do deputado Aldo Rebelo (PC do B), do rabino Henry Sobel e do xeque Armando Hussein Saleh. O presidente Lula não foi, mas enviou uma mensagem de congratulação ao novo arcebispo.

Perfil
D. Odilo terá, como uma de suas tarefas imediatas, a organização da visita que o papa Bento 16 fará ao Brasil entre 9 e 13 de maio.
Atual secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ele permanecerá no cargo ao menos até as eleições da entidade, que ocorrem a partir de terça-feira, em Indaiatuba (SP).
Até ontem, era bispo-auxiliar de SP, cargo para o qual foi escolhido por d. Cláudio, de quem sempre foi bastante próximo.
Gaúcho como seu antecessor -é natural de Cerro Lago-, d. Odilo foi ordenado padre em 7 de dezembro de 1976 e sagrado bispo em 2 de fevereiro de 2002. É parente distante de d. Vicente Scherer, cardeal brasileiro que chefiou a Arquidiocese de Porto Alegre entre 1946 e 1981. Com mestrado e doutorado em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, é considerado um religioso alinhado à Santa Sé e ao papa Bento 16.
Responsável de modo mais efetivo pela linha política da CNBB nos últimos anos, ele é visto como um bispo disciplinado e rigoroso.


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