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Diversidade católica marca posse de dom Odilo em São Paulo
Membros das mais diversas linhas da igreja tiveram espaço na cerimônia que ocorreu ontem à tarde na Catedral da Sé
O presidente Lula enviou uma mensagem ao novo arcebispo; o prefeito da
capital, Gilberto Kassab, também esteve presente
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A diversidade católica marcou a posse de dom Odilo Scherer, 57, como novo arcebispo de
São Paulo.
A cerimônia ocorreu ontem
na Catedral da Sé, no centro da
capital paulista, e contou tanto
com a presença dos Arautos do
Evangelho, uma dissidência da
conservadora TFP (Tradição,
Família e Propriedade), quanto
com representantes da Pastoral da Juventude, uma das linhas mais à esquerda da igreja.
O estilo da missa demonstra
que d. Odilo deve dar continuidade ao trabalho de seus dois
antecessores vivos -d. Cláudio
Hummes e d. Paulo Evaristo
Arns- à frente da terceira
maior arquidiocese católica do
planeta. Enquanto d. Cláudio,
hoje "ministro" do papa no Vaticano, tentou conciliar as diferentes alas da igreja, d. Paulo
criou comunidades na periferia
da cidade e criou uma infinidade de pastorais dedicadas a migrantes, negros e jovens.
A homilia do novo arcebispo
para as cerca de 3 mil pessoas
que lotaram a igreja tornou claras suas intenções. Ao explicar
o sentido dos trechos bíblicos
lidos durante a sua posse, d.
Odilo pediu a todos os setores
da igreja que trabalhassem juntos em prol dos "desígnios de
Deus". E em um trecho que foi
muito aplaudido pelos padres,
freiras e fiéis presentes, disse:
"Abençôo e conforto os pobres
de nossa cidade e todas as pessoas que sofrem. Asseguro-lhes
que Deus não os esquece. Por
isso, podem contar também
com a solidariedade da igreja
na afirmação de sua dignidade
e do seu direito e na busca de
superação de seus sofrimentos
e da condição injusta que lhes é
muitas vezes imposta".
Entre os padres presentes,
houve quem dissesse que d.
Odilo pode não simpatizar com
a teologia da libertação, corrente católica que vê a igreja a serviço da transformação social e
se inspirou no marxismo para
analisar a realidade, mas que
certamente está de acordo com
alguns de seus ditames. Entre
eles, a maior participação dos
católicos na política e o engajamento em causas sociais.
A cerimônia de posse contou
com a presença do prefeito da
capital, Gilberto Kassab (DEM,
ex-PFL), do deputado José
Carlos Stangarlini (PSDB), que
representou o governador do
Estado, José Serra (PSDB), do
deputado Aldo Rebelo (PC do
B), do rabino Henry Sobel e do
xeque Armando Hussein Saleh.
O presidente Lula não foi, mas
enviou uma mensagem de congratulação ao novo arcebispo.
Perfil
D. Odilo terá, como uma de
suas tarefas imediatas, a organização da visita que o papa
Bento 16 fará ao Brasil entre 9 e
13 de maio.
Atual secretário-geral da
CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil), ele permanecerá no cargo ao menos
até as eleições da entidade, que
ocorrem a partir de terça-feira,
em Indaiatuba (SP).
Até ontem, era bispo-auxiliar
de SP, cargo para o qual foi escolhido por d. Cláudio, de quem
sempre foi bastante próximo.
Gaúcho como seu antecessor
-é natural de Cerro Lago-, d.
Odilo foi ordenado padre em 7
de dezembro de 1976 e sagrado
bispo em 2 de fevereiro de
2002. É parente distante de d.
Vicente Scherer, cardeal brasileiro que chefiou a Arquidiocese de Porto Alegre entre 1946 e
1981. Com mestrado e doutorado em teologia pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de
Roma, é considerado um religioso alinhado à Santa Sé e ao
papa Bento 16.
Responsável de modo mais
efetivo pela linha política da
CNBB nos últimos anos, ele é
visto como um bispo disciplinado e rigoroso.
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