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Egípcio divide países, e 9 vão disputar Unesco
Prazo para inscrição de candidatos à direção geral da organização acaba domingo; Itamaraty mantém apoio a Farouk Hosny
Chance de a candidatura do brasileiro Márcio Barbosa ser formalizada é pequena; processo eleitoral é longo e desfecho será em outubro
DA SUCURSAL DO RIO
As controvérsias em torno da
candidatura do ministro da
Cultura do Egito, Farouk
Hosny, apoiado pelo Brasil,
provocaram uma proliferação
de candidatos à direção geral
da Unesco, a organização da
ONU para a educação, a ciência
e a cultura.
Até ontem, dois dias antes do
fim do prazo das inscrições,
eram nove nomes, incluindo o
da equatoriana Ivonne Baki,
presidente do Parlamento Andino -o que evidencia a divisão
entre os países sul-americanos
quanto ao apoio ao egípcio, que
o Itamaraty justifica como parte do processo de aproximação
com países árabes.
As chances de formalização
da candidatura do brasileiro
Márcio Barbosa, vice-diretor
da Unesco há oito anos, eram
consideradas pequenas ontem.
Embora Barbosa pudesse ser
lançado por outros países que
não o Brasil, fonte de seu gabinete, em Paris, considerava difícil que isso acontecesse a menos que o Itamaraty recuasse
do apoio a Hosny.
O Itamaraty informou que
nesta etapa da escolha mantém
o endosso ao egípcio.
O processo eleitoral na Unesco é longo e cheio de manobras
de bastidores -a hora da verdade só virá em setembro, quando
o Conselho Executivo, com 58
países, reúne-se para escolher
um nome que em outubro será
apresentado à conferência geral de 193 nações.
Não pode ser descartada a
possibilidade de que candidaturas sejam aceitas depois de
domingo, incluindo a de Barbosa, caso nenhum dos candidatos se perfile como favorito.
Candidatos
Entre os nomes hoje na disputa pela sucessão do japonês
Koichiro Matsuura, à frente da
organização desde 1999, são
considerados fortes o do Benin,
Noureini Tidjani-Serpos, atual
diretor-geral-assistente da
Unesco para África, e o da Rússia, o vice-ministro do Exterior
Alexander Yakovenko.
A Áustria apresentou a candidatura da comissária europeia de Relações Exteriores,
Benita Ferraro-Waldner. Pela
posição e por ser mulher, é considerada um bom nome, mas
esbarra no fator geopolítico, já
que europeus ocidentais estiveram várias vezes à frente da
Unesco em seus 64 anos.
Apenas árabes e europeus do
Leste -que, pela divisão geográfica da organização, ficam
em bloco separado do formado
por europeus ocidentais, israelenses e canadenses- nunca
dirigiram a entidade.
Esse é um dos fatores pelos
quais a candidatura de Farouk
Hosny era considerada muito
forte até maio de 2008, quando
ele fez na Assembleia Nacional
egípcia a declaração de que
queimaria livros em hebraico
encontrados em instituição oficial. Ele diz que a frase foi tirada de contexto e foi resposta às
cobranças de um deputado da
Irmandade Muçulmana.
No início da semana, jornais
israelenses e egípcios informaram que, após acordo com o governo do Egito, Israel retirou o
veto a Hosny e disse que suspenderia a campanha contra
ele, acusado de antissemitismo
por grupos judaicos. Mas a decisão pode ter chegado tarde.
Embora o Egito tenha sido o
primeiro país árabe a reconhecer Israel, as relações bilaterais
são tumultuadas. À Folha, na
semana passada, Hosny, ministro há 22 anos, confirmou que
se opõe à normalização das trocas culturais com israelenses.
Outro fator que joga contra
sua candidatura é o regime ditatorial do Egito, sob estado de
emergência desde o assassinato do presidente Anwar Sadat,
em 1981, por extremistas islâmicos. Episódios de censura e
denúncias de uso de tortura
contra opositores se chocam
com os princípios da Unesco.
O Brasil faz parte do Conselho Executivo da Unesco, com
mais dez latino-americanos e
caribenhos, dos quais outros
dois, Chile e Cuba, apoiam
Hosny. Da América do Sul, ainda estão no conselho Colômbia
e Argentina, que não revelaram
o voto.
(CLAUDIA ANTUNES)
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