São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PSDB debate dosagem de discurso de satanização da imagem de Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há um debate no comando da campanha presidencial do PSDB sobre a dosagem da estratégia de associar o petista Luiz Inácio Lula da Silva à eventual argentinização do Brasil e classificar o tucano José Serra como o candidato mais bem preparado para evitar o caos econômico. O resultado do debate marcará o tom da propaganda tucana no horário eleitoral gratuito, marcado para começar em 20 de agosto. O marqueteiro Nizan Guanaes e sua equipe já estão elaborando peças de campanha para a TV e o rádio.
A Folha apurou que o presidente Fernando Henrique Cardoso e Nizan Guanaes fizeram uma autocrítica em relação à associação de Lula à Argentina, país onde a economia derreteu e gerou crise política e social.
Essa associação teria contribuído, em boa parte, para a turbulência econômica que vem assolando o Brasil nas últimas semanas, elevando o dólar a patamares inéditos e aumentando o risco-país (indicador que mostraria a capacidade de o Brasil honrar seus compromissos externos).
O governo já pisou no freio, mas os tucanos, para efeito eleitoral, acham que o estrago econômico já está feito e que têm de bater mesmo é na tecla de que o governo Lula significará o caos.
Já o time de marketing de Serra teme que essa linha de demonização de Lula traga um carimbo incômodo para Serra, o de candidato do mercado financeiro que precisa ser eleito a ferro e fogo.
Além de transmitir uma imagem de antipatia aos formadores de opinião, que apontam a vulnerabilidade externa como nosso maior flanco, Nizan e cia. temem que o eleitorado resista à vontade do mercado financeiro internacional e do empresariado brasileiro. Em outras palavras, Serra estaria se transformando no candidato dos ricos, exatamente a imagem que a campanha petista tenta colar no candidato do PSDB.
Interessa a Nizan fazer a associação Lula-caos econômico de forma mais sutil, insistindo no suposto despreparo de Lula.
A Folha apurou que o marqueteiro de Serra está colecionando declarações infelizes e contraditórias de Lula, para usá-las no horário eleitoral gratuito. Com isso, pretende usar Lula para criticar Lula. Um exemplo de exagero que pode prejudicar Serra, na opinião da cúpula da campanha do tucano, foi o discurso da última terça-feira feito pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Depois de ficar meses cobrando do PT um documento comprometido com a estabilidade, o que veio após divergências fortes entre os economistas petistas, Malan falou que seria bom para acalmar o mercado manter Armínio Fraga por um tempo na direção do Banco Central, qualquer que seja o próximo presidente eleito.
Nizan teme que, se a dosagem da satanização de Lula não for correta, o eleitorado veja Serra como imposição e o rejeite. ""Não pode passar a impressão do pai que diz ao filho que ele pode se casar com quem quiser, desde que a moça se chame Marlene, seja loira e trabalhe de aeromoça na TAM", disse Nizan de brincadeira a um interlocutor.


Texto Anterior: Serra anuncia programa da "manutenção"
Próximo Texto: Empresas de brindes esperam lucro alto nas eleições
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.