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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O ACUSADOR
Deputado diz que soube da partilha de R$ 3 mi ao mês por diretor da estatal, não localizado
Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz Jefferson
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
Na noite de terça-feira, antevéspera de seu depoimento à CPI dos
Correios, Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB, relatou
à Folha um esquema de desvio de
dinheiro a partir de Furnas Centrais Elétricas que lhe teria sido
descrito pelo diretor de Engenharia da estatal, Dimas Toledo.
"Ele explicou que sobram R$ 3
milhões por mês em Furnas", diz.
"Desse total, R$ 1 milhão vai para
o PT nacional, pelas mãos do Delúbio [Soares, tesoureiro do partido]. R$ 1 milhão vai para o PT de
Minas Gerais, por meio do doutor
Rodrigo [Botelho Campos, diretor de Administração, ex-dirigente da CUT-MG]."
Dimas não foi localizado ontem
pela Folha para comentar as declarações de Jefferson. Sua secretária informou que ele está em férias, em local desconhecido.
No relato do deputado, o dinheiro restante, segundo lhe teria
dito Dimas, era dividido meio a
meio: "R$ 500 mil ficam com a diretoria de Furnas" e "R$ 500 mil
são repartidos entre um pequeno
grupo de deputados".
Pertencem ao grupo, segundo
Jefferson, parlamentares que, no
início do governo Lula, trocaram
o PSDB por siglas da base aliada
por influência da Casa Civil, à
época chefiada por José Dirceu.
Jefferson nomeia três integrantes desse grupo de ex-tucanos:
Luiz Piauhylino (PE), que passou
pelo PTB e hoje está no PDT, Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PTB-SP).
"Esse grupo conseguiu nomear
o diretor financeiro de Furnas",
diz Jefferson. Trata-se de José Roberto Cesaroni Cury, formado na
Unicamp. Campinas é a base eleitoral de Salvador Zimbaldi.
Todos esses detalhes teriam sido apresentados a Jefferson numa
visita que Dimas Toledo fez ao
apartamento funcional do deputado, em Brasília, na noite de 13 de
abril passado. O encontro faria
parte do esforço do diretor de Engenharia de Furnas para reverter
a decisão do presidente Lula de
entregar o cargo ao PTB.
"O Dimas me disse tudo isso
sentado aí nessa poltrona", conta
Jefferson, apontando para o local
da sala de estar onde, anteontem,
estava uma de suas assessoras.
Pressões
Jefferson diz que, mesmo antes
da visita, já se dera conta das pressões contrárias à substituição em
Furnas. Nesse ponto, repete os
nomes citados em sua segunda
entrevista à Folha, publicada em
12 de junho. Aécio Neves, Itamar
Franco, Severino Cavalcanti e
grandes empreiteiras seriam alguns dos defensores, segundo Jefferson diz ter ouvido de Dirceu,
da permanência de Dimas.
Na noite da visita, Jefferson havia saído com sua mulher, Ana,
para assistir a uma apresentação
da cantora lírica Denise Tavares,
que dá aulas ao deputado. Na volta, encontrou o diretor de Engenharia à sua espera.
"Tudo o que o Dimas me explicou eu relatei depois ao Zé Dirceu.
Ele confirmou que era isso mesmo", diz o deputado. "Percebi claramente que o Zé Dirceu estava
jogando contra a nomeação do
Pirandel [Francisco Pirandel, nome que o PTB havia escolhido para o posto em Furnas]."
Na conversa posterior à visita de
Dimas Toledo, Jefferson diz ter
ouvido a seguinte proposta do então ministro da Casa Civil: "Roberto, vamos resolver esse negócio por cima. Deixa o Dimas lá. A
gente faz um acerto direto entre o
PT e o PTB". Jefferson teria respondido com uma frase então recorrente em suas tratativas com
os petistas: "Eu não sou problema". Aceitou a proposta.
Lula
Até que, às 10h de 26 de abril,
Jefferson esteve no Palácio do Planalto para o que foi, segundo ele,
seu último encontro com Lula.
Estavam presentes também Dirceu e o ministro do PTB, Walfrido
dos Mares Guia (Turismo).
A dada altura da conversa, o
presidente teria cobrado um desfecho para a novela de Furnas:
"Roberto, por que está demorando tanto?". Jefferson diz ter mencionado as pressões, sem entrar
nos detalhes discutidos com Dimas e Dirceu, e se declarado disposto a aceitar solução de compromisso. "Nada disso", teria rebatido Lula. "O Dimas vai sair."
Pouco mais de duas semanas
depois, em 14 de maio, a revista
"Veja" trouxe gravação em que
Jefferson é acusado de comandar
a corrupção nos Correios. Em seguida, a ministra Dilma Rousseff,
então nas Minas e Energia e hoje
na Casa Civil, mandou suspender
o processo de substituição em
Furnas. Dimas Toledo permanece
como diretor de Engenharia.
Em seu depoimento de hoje à
CPI dos Correios, Jefferson usará
o caso de Furnas para ilustrar três
pontos básicos do discurso que
tem repetido desde que declarou
guerra à cúpula petista.
Primeiro, a idéia de que, a despeito do carimbo fisiológico aplicado aos partidos aliados, é o PT
que comanda os postos mais rentáveis da administração federal.
Segundo, a caracterização de José
Dirceu como responsável maior
pelas irregularidades.
Por fim, Jefferson segue inocentando Lula de suas acusações. Ou,
numa hipótese menos branda,
tratando o presidente como alguém que desconhecia o que supostamente se passava em seu governo. "Quando ele perguntou
sobre a substituição do Dimas, ficou claro para mim que ele não
estava sabendo de nada."
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