São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO

Governistas não conseguiram evitar que o pedido fosse colocado em votação; saques de empresas também serão investigados

CPI aprova quebra de sigilos de Valério

FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o governo ter tentado impedir sua votação, a CPI dos Correios aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Em retaliação, os petistas estenderam a abertura dessas informações aos últimos cinco anos, abrangendo o final do mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
A comissão deve votar hoje a quebra dos sigilos das agências de Valério, a DNA e a SMPB.
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) listou pagamentos registrados no Siafi, sistema de acompanhamento de gastos do Executivo federal, para as duas agências desde 2001, como forma de justificar a quebra dos sigilos de cinco anos para cá.
"No governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001 e 2002, foram pagos R$ 39,4 milhões à DNA e à SMP&B. Neste governo, em 2003 e 2004, foram R$ 14,8 milhões", disse ele, citando contratos com ministérios e com a Câmara dos Deputados.
O discurso do petista acirrou ainda mais os ânimos na CPI. "Já se quer politizar a questão. Não temos problema em investigar o governo FHC. Foi no governo deles [PT] que começaram as suspeitas de que esse cidadão é instrumento para pagar mesada para o funcionamento da Câmara", afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
Valério é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, no pagamento do "mensalão" de R$ 30 mil a deputados do PP e do PL para que votassem com o governo.
O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), teve que intervir para controlar a sessão. "Temos que ter responsabilidade inclusive para discutir e avaliar os requerimentos. Se não tivermos clareza na linha de investigação essa CPI não vai dar em nada. No afã de querer abrir o leque das investigações vamos perder o foco", disse ele, repreendendo os parlamentares.
As votações de quebras de sigilo são nominais, de forma que cada parlamentar precisa se expor, anunciando seu voto. A quebra dos sigilos de Valério foi aprovada pelos 21 integrantes da CPI que estavam presentes no momento.
O relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), ressaltou que a comissão só poderá dar publicidade aos dados de Valério relativos aos Correios. "Confio na nossa auto tutela e que não extrapolaremos os direitos individuais", disse Serraglio.
Antes da votação, parlamentares governistas e da oposição se reuniram por cerca de três horas em uma sala anexa tentando fechar um acordo em torno dos requerimentos que seriam votados. Os gritos, de tão altos, podiam ser ouvidos do lado de fora.
Os petistas não queriam incluir na pauta de votações a quebra dos sigilos do publicitário. A alegação era que é praxe primeiro ouvir o depoimento para só depois requerer essas informações.
A resistência dos governistas começou mais cedo. Em uma reunião feita antes do início dos trabalhos para definir a agenda das próximas semanas, o deputado Maurício Rands (PT-PE) e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) queriam cancelar o depoimento de Valério, marcado para a próxima quarta-feira.
"Até parece que é o [presidente dos EUA, George W.] Bush que vai cair nessa reunião. Ele [Valério] vai vir sim", disse o presidente da CPI, de acordo com participantes da reunião, ao pôr um ponto final no assunto.
Os governistas insistem, no entanto, que o publicitário falará na CPI sobre seus contratos com os Correios, e não sobre o saque de R$ 20,9 milhões em dinheiro feitos por suas empresas entre julho de 2003 e maio de 2005.
Além de Valério, a comissão aprovou ontem a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário do empresário Arthur Washeck, mandante da gravação que flagrou pagamento de propina nos Correios e motivou a CPI.
A CPI também chegou a aprovar 15 requerimentos em bloco, porque havia consenso. Entre eles estava a solicitação ao Banco Rural de identificação, em até 15 dias, de todos os saques realizados em dinheiro nas agências de Belo Horizonte, desde janeiro de 2003, superiores a R$ 100 mil, pela SMPB, pela DNA e por seus sócios.


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