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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Governistas não conseguiram evitar que o pedido fosse colocado em votação; saques de empresas também serão investigados
CPI aprova quebra de sigilos de Valério
FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o governo ter tentado
impedir sua votação, a CPI dos
Correios aprovou ontem a quebra
dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Em retaliação, os petistas estenderam a
abertura dessas informações aos
últimos cinco anos, abrangendo o
final do mandato de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
A comissão deve votar hoje a
quebra dos sigilos das agências de
Valério, a DNA e a SMPB.
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) listou pagamentos
registrados no Siafi, sistema de
acompanhamento de gastos do
Executivo federal, para as duas
agências desde 2001, como forma
de justificar a quebra dos sigilos
de cinco anos para cá.
"No governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001 e 2002, foram pagos R$ 39,4 milhões à DNA
e à SMP&B. Neste governo, em
2003 e 2004, foram R$ 14,8 milhões", disse ele, citando contratos com ministérios e com a Câmara dos Deputados.
O discurso do petista acirrou
ainda mais os ânimos na CPI. "Já
se quer politizar a questão. Não
temos problema em investigar o
governo FHC. Foi no governo deles [PT] que começaram as suspeitas de que esse cidadão é instrumento para pagar mesada para
o funcionamento da Câmara",
afirmou o deputado Eduardo
Paes (PSDB-RJ).
Valério é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ)
como operador do tesoureiro do
PT, Delúbio Soares, no pagamento do "mensalão" de R$ 30 mil a
deputados do PP e do PL para que
votassem com o governo.
O presidente da CPI, senador
Delcídio Amaral (PT-MS), teve
que intervir para controlar a sessão. "Temos que ter responsabilidade inclusive para discutir e avaliar os requerimentos. Se não tivermos clareza na linha de investigação essa CPI não vai dar em
nada. No afã de querer abrir o leque das investigações vamos perder o foco", disse ele, repreendendo os parlamentares.
As votações de quebras de sigilo
são nominais, de forma que cada
parlamentar precisa se expor,
anunciando seu voto. A quebra
dos sigilos de Valério foi aprovada
pelos 21 integrantes da CPI que
estavam presentes no momento.
O relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), ressaltou que
a comissão só poderá dar publicidade aos dados de Valério relativos aos Correios. "Confio na nossa auto tutela e que não extrapolaremos os direitos individuais",
disse Serraglio.
Antes da votação, parlamentares governistas e da oposição se
reuniram por cerca de três horas
em uma sala anexa tentando fechar um acordo em torno dos requerimentos que seriam votados.
Os gritos, de tão altos, podiam ser
ouvidos do lado de fora.
Os petistas não queriam incluir
na pauta de votações a quebra dos
sigilos do publicitário. A alegação
era que é praxe primeiro ouvir o
depoimento para só depois requerer essas informações.
A resistência dos governistas
começou mais cedo. Em uma reunião feita antes do início dos trabalhos para definir a agenda das
próximas semanas, o deputado
Maurício Rands (PT-PE) e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) queriam cancelar o depoimento de
Valério, marcado para a próxima
quarta-feira.
"Até parece que é o [presidente
dos EUA, George W.] Bush que
vai cair nessa reunião. Ele [Valério] vai vir sim", disse o presidente da CPI, de acordo com participantes da reunião, ao pôr um
ponto final no assunto.
Os governistas insistem, no entanto, que o publicitário falará na
CPI sobre seus contratos com os
Correios, e não sobre o saque de
R$ 20,9 milhões em dinheiro feitos por suas empresas entre julho
de 2003 e maio de 2005.
Além de Valério, a comissão
aprovou ontem a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário do
empresário Arthur Washeck,
mandante da gravação que flagrou pagamento de propina nos
Correios e motivou a CPI.
A CPI também chegou a aprovar 15 requerimentos em bloco,
porque havia consenso. Entre eles
estava a solicitação ao Banco Rural de identificação, em até 15 dias,
de todos os saques realizados em
dinheiro nas agências de Belo Horizonte, desde janeiro de 2003, superiores a R$ 100 mil, pela SMPB,
pela DNA e por seus sócios.
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