São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ BASE PARTIDA

Presidente do PMDB oficializa rejeição da ala oposicionita, e petista reduz oferta ao partido

Lula ouve "não" de Temer e oferece só 3 pastas ao PMDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, oficializou por carta a rejeição da ala oposicionista do partido à ampliação do espaço no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu membros da ala governista e ofereceu três pastas na reforma ministerial e não mais quatro, como fizera na sexta.
Os governistas do PMDB, representados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP) almoçaram com Lula e insistiram que, se o presidente mantiver a oferta de quatro ministérios, eles terão munição para tentar reduzir a oposição dentro do partido.
Ontem foi um dia confuso para a sigla. A lista que 51 deputados federais assinaram em apoio à governabilidade -feita anteontem após uma reunião da bancada da Câmara que acabou esvaziada- perdeu nove assinaturas depois que os governistas fizeram uma modificação no texto.
Anteontem, a lista falava apenas em apoio à governabilidade de Lula no Congresso. Ontem, em nota conjunta, os líderes das duas Casas, senador Ney Suassuna (PB) e deputado José Borba (PR), expressaram apoio ao pacto, "que inclui a participação do partido no governo, a elaboração de políticas públicas e a divisão de responsabilidade na gestão do país". O trecho "responsabilidade na gestão do país" levou à retirada das assinaturas da lista.

"Satisfação"
Após o fracasso na tentativa de compor com o PMDB inteiro, avaliando que precisa aumentar sua proteção política no Congresso devido às acusações de corrupção contra a sua administração, o presidente Lula vai realizar uma reforma ministerial levando em conta as forças peemedebistas que já o apóiam.
Segundo Renan, Lula expressou "satisfação" com o apoio das bancadas da Câmara e do Senado à sua proposta da semana passada, na qual o PMDB teria quatro pastas na Esplanada.
De acordo com o presidente do Senado, Lula pretende fazer a reforma "o mais rápido possível". Para Renan, o "pacto de governabilidade" depende prioritariamente do PMDB no Congresso, não nos Estados.
O PMDB tem a maior bancada do Senado, onde 19 dos 23 membros fecham com Lula. Na Câmara, o partido é a segunda bancada. Dos 85 deputados, 42 ficaram na lista que defende governabilidade e ampliação dos cargos -ou seja, uma divisão ao meio. A depender das votações, Lula tem entre 40 e 50 votos do PMDB da Câmara.

Mal-estar
Houve mal-estar entre Lula e Temer. Anteontem, Temer ligou para o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, que marcou audiência para as 9h30 de ontem. Uma intervenção de membros da ala governista levou Lula a cancelar a audiência. Temer, então, protocolou carta no Planalto às 13h35. O documento peemedebista afirma que "a responsabilidade do PMDB com o país importa conduta preservadora das instituições sem a contrapartida de ocupação de cargos".
Na semana passada, o presidente chamou líderes do partido, entre os quais Temer, para discutir a participação do PMDB no governo. Para ter o apoio da legenda num momento de crise política no Congresso, Lula ofereceu as pastas das Cidades, da Integração Nacional, da Saúde e de Minas e Energia. Disse que o partido poderia continuar com Previdência e Comunicações, desde que, ao final, ficasse com quatro ministérios em sua cota.
Durante a reunião da última sexta-feira chegou a ser tirada uma fotografia em que Lula, Temer, Renan e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo na Casa, aparecem de mãos dadas e sorridentes.
Com a rejeição do PMDB, a imagem causou constrangimento ao governo e fez com que parte do Planalto ficasse irritada com Mercadante, um dos avalistas da negociação com os peemedebistas.

Divisão
"O quadro partidário não me permite afirmar que o partido estará inteiramente unido, nos termos propostos por Vossa Excelência", disse o presidente do PMDB na carta, após descrever que o partido está "dividido" e que "uma parcela expressiva do PMDB registra não desejar cargos para cumprir essa tarefa [apoio à governabilidade]".
De acordo com Temer, após ouvir governadores, diretórios estaduais e as bancadas no Congresso, concluiu que, embora nem todos queiram a participação no governo, há "apoio integral à governabilidade" e o partido não participará de atos que poderiam agravar a crise política. (JULIA DUAILIBI, LEILA SUWWAN E KENNEDY ALENCAR)

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