São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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Terreno mostra elo entre Roriz e dono da Gol

Lei da Câmara do DF valorizou em R$ 72 mi terreno adquirido por empresa de grupo que tem Nenê Constantino entre investidores

Presidente do Conselho de Administração da Gol é o dono do cheque de R$ 2,23 mi que pode levar à abertura de processo contra senador

ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma empresa que tem entre seus investidores o empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol, conseguiu uma valorização de 129% em um terreno, no prazo de um ano, por conta de uma lei aprovada por aliados políticos do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Em números absolutos, a valorização corresponde a R$ 72 milhões.
Constantino é o dono do cheque de R$ 2,23 milhões que pode levar à abertura de processo contra o senador. Roriz foi flagrado em grampo combinando a partilha do valor com o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Moura.
A empresa beneficiada pela valorização é a Antares, que constrói pelo menos três empreendimentos imobiliários no DF e que têm Constantino como investidor, segundo o advogado da própria Antares.
Tudo começou em março de 2006, quando o então deputado distrital Wigberto Tartuce (PMDB), aliado e ex-secretário do governo de Joaquim Roriz, adquiriu de um conjunto de estatais do Distrito Federal, por R$ 15,21 milhões, um terreno de 80 mil m2 no Setor de Áreas Isoladas Oeste de Brasília
Entre as estatais que venderam o terreno ao então deputado estava o BRB, investigado pelo Ministério Público e Polícia Civil devido à suspeita de que R$ 50 milhões foram desviados de seus cofres.
Em maio deste ano, a Aldebaram -empresa ligada à Antares-, adquiriu o terreno do agora ex-deputado por R$ 45,9 milhões, duas vezes mais do que ele desembolsara.
Para o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Brasília, Luiz Carlos Attié, em valores de mercado, o terreno vale hoje cerca de R$ 128 milhões, com base no cálculo da área do terreno em que pode haver construção.
Portanto, há indícios de subfaturamento da negociação imobiliária tanto na venda para Tartuce quanto no repasse para a Aldebaram.
Deixados de lado os valores declarados aos cartórios nas negociações, o terreno realmente teve uma valorização de mercado de R$ 72 milhões em um ano, graças a um projeto de lei aprovado em apenas um dia, em dezembro de 2006. O projeto foi proposto pelo Executivo e apoiado pelos aliados de Roriz na Câmara Distrital.
A proposta da lei foi assinada pela então governadora Maria de Lourdes Abadia, vice de Roriz e aliada do peemedebista. Ela assumiu quando Roriz foi disputar uma vaga no Senado.
A lei autorizou ampliar a área construída do imóvel de 56.000 m2 para 128.000 m2 .

Miro
Funcionário administrativo da Antares, Deodemiro Alves Silva foi quem encaminhou ao cartório de imóveis os documentos em que o ex-deputado Tartuce transfere para a Aldebaram o terreno.
Tomou a iniciativa em 22 de junho, véspera do dia em que as revistas "Veja" e "Época" tornaram público o teor do diálogo em que Roriz e o ex-presidente do BRB combinam dividir o dinheiro do cheque.
Conhecido como Miro, Deodemiro caiu no grampo da investigação relacionada à Operação Aquarela.
Em um diálogo gravado em 9 de março, Miro fala por telefone com Nilson Lacerda Wanderlei, um dos alvos da investigação. Diz Miro ao interlocutor: "Só tem peso pesado aqui. Se a Polícia Federal baixar aqui agora, leva todo mundo. Tô eu, o Gim Argelo [ex-deputado distrital e hoje suplente de Roriz no Senado], e o Nenê Constantino [presidente do Conselho de Administração da Gol]".
O Ministério Público investiga a suspeita de que Gim Argelo intermediou o negocio.
O cheque de R$ 2,23 milhões é emitido pela Agrícola Xingu, mas é nominal ao empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê.
Constantino disse que recebeu o cheque da Agrícola Xingu como parte do pagamento de uma fazenda que vendeu à empresa na Bahia.
O senador Roriz apresentou um contrato particular de empréstimo firmado com Nenê, mas sem registro em cartório. O peemedebista diz ter usado o dinheiro para comprar, por R$ 271 mil, o embrião de um bezerro. Outros R$ 29 mil, afirma, teria doado ao primo Benjamim Roriz.


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