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Terreno mostra elo entre Roriz e dono da Gol
Lei da Câmara do DF valorizou em R$ 72 mi terreno adquirido por empresa de grupo que tem Nenê Constantino entre investidores
Presidente do Conselho de Administração da Gol é o dono do cheque de R$ 2,23 mi que pode levar à abertura de processo contra senador
ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma empresa que tem entre
seus investidores o empresário
Nenê Constantino, presidente
do Conselho de Administração
da Gol, conseguiu uma valorização de 129% em um terreno,
no prazo de um ano, por conta
de uma lei aprovada por aliados
políticos do senador Joaquim
Roriz (PMDB-DF). Em números absolutos, a valorização
corresponde a R$ 72 milhões.
Constantino é o dono do cheque de R$ 2,23 milhões que pode levar à abertura de processo
contra o senador. Roriz foi flagrado em grampo combinando
a partilha do valor com o ex-presidente do BRB (Banco de
Brasília) Tarcísio Moura.
A empresa beneficiada pela
valorização é a Antares, que
constrói pelo menos três empreendimentos imobiliários no
DF e que têm Constantino como investidor, segundo o advogado da própria Antares.
Tudo começou em março de
2006, quando o então deputado distrital Wigberto Tartuce
(PMDB), aliado e ex-secretário
do governo de Joaquim Roriz,
adquiriu de um conjunto de estatais do Distrito Federal, por
R$ 15,21 milhões, um terreno
de 80 mil m2 no Setor de Áreas
Isoladas Oeste de Brasília
Entre as estatais que venderam o terreno ao então deputado estava o BRB, investigado
pelo Ministério Público e Polícia Civil devido à suspeita de
que R$ 50 milhões foram desviados de seus cofres.
Em maio deste ano, a Aldebaram -empresa ligada à Antares-, adquiriu o terreno do
agora ex-deputado por R$ 45,9
milhões, duas vezes mais do
que ele desembolsara.
Para o presidente do Conselho Regional dos Corretores de
Imóveis de Brasília, Luiz Carlos Attié, em valores de mercado, o terreno vale hoje cerca de
R$ 128 milhões, com base no
cálculo da área do terreno em
que pode haver construção.
Portanto, há indícios de subfaturamento da negociação
imobiliária tanto na venda para
Tartuce quanto no repasse para a Aldebaram.
Deixados de lado os valores
declarados aos cartórios nas
negociações, o terreno realmente teve uma valorização de
mercado de R$ 72 milhões em
um ano, graças a um projeto de
lei aprovado em apenas um dia,
em dezembro de 2006. O projeto foi proposto pelo Executivo e apoiado pelos aliados de
Roriz na Câmara Distrital.
A proposta da lei foi assinada
pela então governadora Maria
de Lourdes Abadia, vice de Roriz e aliada do peemedebista.
Ela assumiu quando Roriz foi
disputar uma vaga no Senado.
A lei autorizou ampliar a
área construída do imóvel de
56.000 m2 para 128.000 m2 .
Miro
Funcionário administrativo
da Antares, Deodemiro Alves
Silva foi quem encaminhou ao
cartório de imóveis os documentos em que o ex-deputado
Tartuce transfere para a Aldebaram o terreno.
Tomou a iniciativa em 22 de
junho, véspera do dia em que as
revistas "Veja" e "Época" tornaram público o teor do diálogo
em que Roriz e o ex-presidente
do BRB combinam dividir o dinheiro do cheque.
Conhecido como Miro, Deodemiro caiu no grampo da investigação relacionada à Operação Aquarela.
Em um diálogo gravado em 9
de março, Miro fala por telefone com Nilson Lacerda Wanderlei, um dos alvos da investigação. Diz Miro ao interlocutor: "Só tem peso pesado aqui.
Se a Polícia Federal baixar aqui
agora, leva todo mundo. Tô eu,
o Gim Argelo [ex-deputado distrital e hoje suplente de Roriz
no Senado], e o Nenê Constantino [presidente do Conselho
de Administração da Gol]".
O Ministério Público investiga a suspeita de que Gim Argelo
intermediou o negocio.
O cheque de R$ 2,23 milhões
é emitido pela Agrícola Xingu,
mas é nominal ao empresário
Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê.
Constantino disse que recebeu o cheque da Agrícola Xingu
como parte do pagamento de
uma fazenda que vendeu à empresa na Bahia.
O senador Roriz apresentou
um contrato particular de empréstimo firmado com Nenê,
mas sem registro em cartório.
O peemedebista diz ter usado o
dinheiro para comprar, por R$
271 mil, o embrião de um bezerro. Outros R$ 29 mil, afirma,
teria doado ao primo Benjamim Roriz.
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