São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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Lula fez investigação paralela sobre Vavá

Sindicância informal do Planalto conclui que irmão de presidente tentou fazer lobby em órgãos públicos, mas não teve êxito

Nelson Passos Alfonso, advogado de Vavá, não foi localizado ontem; o filho dele, Edson Inácio, afirmou que preferia não comentar


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma sindicância informal conduzida diretamente pelo gabinete presidencial constatou que Genival Inácio da Silva, o Vavá, fez tentativas de lobby em órgãos públicos, mas não teria tido sucesso.
Segundo a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu investigação paralela à da Polícia Federal assim que retornou de uma viagem internacional no início de junho. Queria se tranqüilizar politicamente, evitando ser surpreendido por alguma revelação de supostas ações irregulares de seu irmão Vavá.
O jornal não obteve detalhes das tentativas de lobby (órgãos públicos eventualmente procurados e assuntos tratados).
Na última quinta-feira, em reunião no quarto andar do Palácio do Planalto com os chefes-de-gabinete dos 37 ministérios, o chefe do gabinete particular de Lula, Gilberto Carvalho, deu a orientação presidencial para tratar de eventuais tentativas de lobby de pessoas que se digam familiares ou amigas de Lula.
Dizendo que falava em nome do presidente, Carvalho afirmou que qualquer familiar ou amigo do presidente que tentasse intermediar audiência, apresentar projeto ou defender interesses privados deveria receber não como resposta. Pediu ainda que o Palácio do Planalto fosse avisado imediatamente da tentativa.
Em 5 de junho, em Nova Déli (Índia), na primeira declaração a respeito da Operação Xeque-Mate, deflagrada pela PF (Polícia Federal) para investigar a máfia dos caça-níqueis, Lula disse que não acreditava que o irmão havia feito lobby, mas defendeu a investigação policial. "Se o nome dele [Vavá] aparecia [nos grampos], paciência".
A PF indiciou Vavá por tráfico de influência e exploração de prestígio no judiciário. O Ministério Público, porém, não o incluiu na denúncia à Justiça sobre a Operação Xeque-Mate. Concluiu que não havia provas contra o irmão do presidente.
Apesar de ter declarado que não acreditava que Vavá fizera lobby, Lula já admitia nas conversas reservadas que ele havia pelo menos tentado. No entanto, dizia ter certeza do insucesso das incursões do irmão no governo porque avaliava que ele não tinha "cabeça" para operações desse tipo.
Na volta ao Brasil, Lula pediu que Carvalho comandasse a averiguação de eventuais ações de lobby do irmão no governo. O chefe-de-gabinete já havia prevenido ministros a respeito de Vavá no primeiro mandato. Em 2003, foi avisado pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que Vavá estaria tentando apresentar empresários em órgãos públicos. Na época, fez reunião semelhante à da última quinta-feira com chefes-de-gabinete para dar o recado do presidente.
Outro irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o "Frei Chico", chegou a alertar Lula e o próprio Carvalho mais de uma vez a respeito de tentativas de Vavá. Tais avisos resultaram em determinações para que os ministérios barrassem movimentações de Vavá.
Em conversas reservadas, Lula reitera ter "carinho" por Vavá, mas diz que, em certas horas, não sabe se tem mais "raiva" ou "pena" dele. Já comentou que, numa escala de esperteza de zero a dez, Vavá receberia grau dois.
No alerta de quinta aos chefes-de-gabinete, Carvalho frisou a inclusão de "amigos" para que o governo se previna contra eventuais lobbies de pessoas como o compadre de Lula Dario Morelli.
O envolvimento de Morelli na Operação Xeque-Mate surpreendeu Lula, de acordo com relatos de ministros à Folha. Morelli e outras 38 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público, sob acusação de integrar a máfia dos caça-níqueis.

Outro lado
O advogado de Vavá, Nelson Passos Alfonso, não foi encontrado ontem. Seu celular estava desligado e ele não foi localizado em seu escritório, que fica em Campo Grande. O filho de Vavá, Edson Inácio, disse que preferia não comentar e que tentaria localizar o advogado. Até o fechamento desta edição, ele não havia ligado de volta.
Em entrevista em 10 de junho, os dois negaram as supostas atividades de Vavá. Ao falar sobre as suspeitas de lobby e de recebimento de dinheiro por parte de Vavá, Alfonso afirmou que seu cliente "nunca fez, nunca recebeu, nunca pediu".


Colaborou a Reportagem Local


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