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Acusado envolve deputado na venda de cota
Apontado como articulador de esquema diz que negociações tinham autorização dos congressistas, muitas vezes por escrito
Segundo Vagdar Fortunato Ferreira, sua agência de turismo emitia a deputados passagens de companhias não cadastradas na Câmara
MARIA CLARA CABRAL
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado pela comissão que
investigou a farra aérea na Câmara como um dos principais
articuladores do esquema de
venda de passagens da cota parlamentar, o empresário Vagdar
Fortunato Ferreira disse à Folha que as negociações tinham
autorização dos deputados,
muitas vezes por escrito.
Proprietário da agência de
turismo Polo, em Brasília, Ferreira diz que emitia passagens
aos deputados de companhias
não cadastradas na Câmara.
Os congressistas, em vez de
pagarem com cheque ou cartão,
davam os créditos fornecidos
pela Casa, que eram posteriormente vendidos para terceiros,
como passagens normais.
Depois de 90 dias de investigações, a comissão de sindicância encontrou indícios da participação direta de pelo menos
três deputados no esquema de
comercialização das cotas de
passagens aéreas. Outros 44
servidores ou ex-servidores
responderão a processos administrativos.
FOLHA - Como eram feitas as negociações das passagens?
VAGDAR FORTUNATO FERREIRA - Eu
fazia em forma de permuta.
Eles [os deputados] me autorizavam a fazer a emissão das
passagens. Às vezes eu emitia
para terceiros, de acordo com
crédito recebido de negociação
feita com o gabinete.
FOLHA - Qual gabinete?
FERREIRA - Não vou citar nome.
Quando o gabinete me procurava para fazer a emissão de
uma passagem de uma companhia que não tivesse vínculo
com a Câmara, eu fazia e depois
faria o acerto. Eu fazia a emissão e recebia com créditos.
FOLHA - O senhor não considera isso ilegal?
FERREIRA - Tinha um ato de Mesa que dizia que o crédito do
parlamentar era pessoal e o deputado podia fazer uso dele da
forma que interessasse.
FOLHA - Como o senhor lucrava
com essas negociações?
FERREIRA - Eu recebia comissão
na emissão do primeiro bilhete,
de 5% até 10%.
Com os deputados mesmo eu
quase nunca falava, porque eu
quase sempre fazia por meio
dos secretários. O secretário vinha, aí falava: "O deputado está
precisando disso e disso". Aí eu
fazia.
FOLHA - Mas o senhor podia pegar
os créditos?
FERREIRA - Os créditos precisavam ser de uma pessoa autorizada do gabinete. Às vezes o
próprio deputado fazia uma autorização em papel ofício permitindo a utilização do crédito
para emissão para terceiros.
FOLHA - E, quando eram os funcionários, eles usavam os nomes dos
deputados?
FERREIRA - Só com autorização
dos deputados, isso na conversa dos funcionários. Porque o
deputado fazia autorização para os funcionários nas companhias e na Terceira Secretaria.
FOLHA - As negociações eram feitas com mais de um gabinete?
FERREIRA - Sim, vários gabinetes. Não sei precisar quantos,
uns dez mais ou menos.
FOLHA - O senhor confirma que
utilizou créditos para um dos bilhetes usados pelo ministro Gilmar
Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal?
FERREIRA - Eu intermediei a
compra do gabinete com a
agência de turismo que vendeu
a passagem para o ministro Gilmar. Tinha meu nome no crédito. Eu presto serviço para vários gabinetes, inclusive favores também.
Se eu trocasse uma requisição para um deputado, ia ter o
meu nome, porque fui eu que
fiz só a troca.
FOLHA - Desde quando o senhor
faz isso?
FERREIRA - Eu tenho a agência
desde 2000.
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