São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Acusado envolve deputado na venda de cota

Apontado como articulador de esquema diz que negociações tinham autorização dos congressistas, muitas vezes por escrito

Segundo Vagdar Fortunato Ferreira, sua agência de turismo emitia a deputados passagens de companhias não cadastradas na Câmara

MARIA CLARA CABRAL
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontado pela comissão que investigou a farra aérea na Câmara como um dos principais articuladores do esquema de venda de passagens da cota parlamentar, o empresário Vagdar Fortunato Ferreira disse à Folha que as negociações tinham autorização dos deputados, muitas vezes por escrito.
Proprietário da agência de turismo Polo, em Brasília, Ferreira diz que emitia passagens aos deputados de companhias não cadastradas na Câmara.
Os congressistas, em vez de pagarem com cheque ou cartão, davam os créditos fornecidos pela Casa, que eram posteriormente vendidos para terceiros, como passagens normais.
Depois de 90 dias de investigações, a comissão de sindicância encontrou indícios da participação direta de pelo menos três deputados no esquema de comercialização das cotas de passagens aéreas. Outros 44 servidores ou ex-servidores responderão a processos administrativos.

 

FOLHA - Como eram feitas as negociações das passagens?
VAGDAR FORTUNATO FERREIRA -
Eu fazia em forma de permuta. Eles [os deputados] me autorizavam a fazer a emissão das passagens. Às vezes eu emitia para terceiros, de acordo com crédito recebido de negociação feita com o gabinete.

FOLHA - Qual gabinete?
FERREIRA -
Não vou citar nome. Quando o gabinete me procurava para fazer a emissão de uma passagem de uma companhia que não tivesse vínculo com a Câmara, eu fazia e depois faria o acerto. Eu fazia a emissão e recebia com créditos.

FOLHA - O senhor não considera isso ilegal?
FERREIRA -
Tinha um ato de Mesa que dizia que o crédito do parlamentar era pessoal e o deputado podia fazer uso dele da forma que interessasse.

FOLHA - Como o senhor lucrava com essas negociações?
FERREIRA -
Eu recebia comissão na emissão do primeiro bilhete, de 5% até 10%. Com os deputados mesmo eu quase nunca falava, porque eu quase sempre fazia por meio dos secretários. O secretário vinha, aí falava: "O deputado está precisando disso e disso". Aí eu fazia.

FOLHA - Mas o senhor podia pegar os créditos?
FERREIRA -
Os créditos precisavam ser de uma pessoa autorizada do gabinete. Às vezes o próprio deputado fazia uma autorização em papel ofício permitindo a utilização do crédito para emissão para terceiros.

FOLHA - E, quando eram os funcionários, eles usavam os nomes dos deputados?
FERREIRA -
Só com autorização dos deputados, isso na conversa dos funcionários. Porque o deputado fazia autorização para os funcionários nas companhias e na Terceira Secretaria.

FOLHA - As negociações eram feitas com mais de um gabinete?
FERREIRA -
Sim, vários gabinetes. Não sei precisar quantos, uns dez mais ou menos.

FOLHA - O senhor confirma que utilizou créditos para um dos bilhetes usados pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal?
FERREIRA -
Eu intermediei a compra do gabinete com a agência de turismo que vendeu a passagem para o ministro Gilmar. Tinha meu nome no crédito. Eu presto serviço para vários gabinetes, inclusive favores também. Se eu trocasse uma requisição para um deputado, ia ter o meu nome, porque fui eu que fiz só a troca.

FOLHA - Desde quando o senhor faz isso?
FERREIRA -
Eu tenho a agência desde 2000.


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