São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Mascarados acuam a PM no protesto


SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

PATRICIA ZORZAN
enviada especial ao Rio

Estudantes, punks, anarquistas, "carecas", militantes de partidos políticos, de sindicatos, dos Movimentos Sem Terra e Sem Teto e até mendigos formaram uma milícia mascarada que acuou a Polícia Militar no centro do Rio ontem.
O combate aos policiais não teve organização prévia. Representantes de grupos ideologicamente rivais se uniram na hora para enfrentar com pedradas 3.000 policiais bem armados e protegidos por viseiras e escudos.
Inimigos tradicionais, punks e "carecas" atuaram em parceria nas agressões. Da mesma forma, estudantes de facções políticas rivais uniram-se para recolher as pedras atiradas contra policiais.
A reação dos manifestantes teve a adesão imediata de pessoas que habitam as ruas do centro, camelôs e desempregados.
O "buraco do Lume" (largo de pedestres entre as ruas São José e Nilo Peçanha) foi o ponto de concentração da milícia improvisada. Dali, com os rostos cobertos com camisas, máscaras e panos, seus integrantes partiam com o objetivo de apedrejar os policiais.
A preferência pelo "buraco do Lume" é explicada pela abundância de pedras soltas no calçamento, além de, no início dos tumultos, ter sido um local de pouco policiamento.
Os primeiros a cobrir o rosto foram os sem-terra afugentados pela PM do acampamento em frente à Assembléia Legislativa. Estudantes e militantes dispostos a enfrentar a PM os imitaram. A seguir, mendigos e menores de rua aderiram aos mascarados.
Os organizadores do protesto contra a privatização da Telebrás admitiram ter perdido o controle sobre o ato.
Transtornados, sindicalistas e membros de partidos políticos se colocavam entre manifestantes e policiais e pediam aos gritos o fim da guerra de pedras e bombas de efeito moral e de gás.
"Perdemos o carro de som, que era a nossa voz. Aí a coisa ficou feia", declarou Paulo Novaes, diretor da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Sinttel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações) do Rio de Janeiro.
"Tentamos controlar o pessoal, mas os ânimos se exaltaram. Quem leva pancada tem de revidar", explicou Paulo César Anchieta Capela, diretor da Sinttel.



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