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CELSO PINTO
O avanço da armada espanhola
O leilão da Telebrás consolidou o extraordinário avanço dos
investimentos espanhóis no Brasil, que passam também pelo setor elétrico, de gás e financeiro. A
armada espanhola veio para ganhar.
A Telefónica de España faz parte de um grupo de empresas interligadas. O Banco Bilbao Viscaya (BBV) tem 7% do capital da
Telefónica, 10% do capital da
Iberdrola (energia elétrica e telecomunicações) e 7% do capital
da Repsol (petróleo e gás).
Ontem, a Telefónica e a Iberdrola arremataram a telefonia fixa da Telesp, por R$ 5,783 bilhões, a Tele Sudeste Celular, por
R$ 1,36 bilhão e a Tele Leste Celular, por R$ 428 milhões. Um
total impressionante de R$ 7,571
bilhões, dos quais 40% têm que
ser pagos à vista, ou R$ 3,028
bilhões.
O grupo ficou com a telefonia
fixa paulista, o filé do mercado, e
as celulares do Rio, Espírito Santo e Bahia. A Telefónica já tinha
o controle da CRT gaúcha, onde
a Portugal Telecom participa
com 20%.
Pelas regras da telefonia, os espanhóis terão que vender o controle da CRT. Os portugueses levaram a Telesp Celular, mas não
têm telefonia fixa. Supondo que
os portugueses se interessem em
comprar o controle da CRT, a
Península Ibérica poderá dominar a telefonia brasileira, graças
aos acordos que já existem entre
a Telefónica de España e a Portugal Telecom.
Nesse caso, os portugueses ficariam com a telefonia fixa gaúcha
e celular paulista, enquanto os
espanhóis ficariam com a fixa
paulista e a celular carioca, capixaba e baiana. Em 2003, quando
acabam as amarras, poderia haver um rearranjo de controles.
Mesmo sem considerar essa hipótese, é notável o avanço dos
espanhóis. Além da CRT, a Iberdrola comprou as empresas elétricas da Bahia (Coelba) e do Rio
Grande do Norte (Cosern). A
Iberdrola, com a Repsol, levou as
companhias de gás da cidade do
Rio (CEG) e do Estado do Rio
(Rio Gás). O BBV está concluindo
a compra do Banco Exel-Econômico.
As compras dos espanhóis não
devem parar por aí. Eles estão de
olho em outras empresas elétricas
do Nordeste (Pernambuco, Paraíba e Alagoas estarão à venda
em breve), estão examinando a
hipótese de entrar na geração de
energia (a Gerasul deve ser vendida em setembro), são candidatos a comprar outras empresas de
gás e de água e saneamento,
quando forem privatizadas.
O capital espanhol está presente, também, através da Endesa,
outra empresa na área de energia
elétrica, que levou a carioca Cerj
e a cearense Coelce. Na área financeira, o Santander comprou o
Geral do Comércio e o Noroeste.
Como entender a invasão espanhola? É uma resposta estratégica à união européia. Os espanhóis não têm cacife para disputar alguns dos grandes mercados
europeus e verão outros gigantes
europeus brigando pelo seu próprio mercado. Como contrapartida, os grupos espanhóis decidiram conquistar o mercado latino-americano.
A Telefónica de España, é bom
lembrar, comprou uma das duas
grandes empresas telefônicas argentinas, a telefônica do Peru, a
maior telefônica chilena (CTC) e
tem uma participação de 7% na
telefônica da Venezuela. O BBV e
o Santander já dominam vários
mercados financeiros latino-americanos; a Iberdrola e a Endesa controlam várias empresas
elétricas.
Tomada a decisão estratégica, o
grupo Telefónica/Iberdrola/BBV
começou a montar a viabilidade
financeira de sua consolidação
no Brasil há vários meses. Em
maio, a Telefónica levantou quase US$ 3 bilhões numa emissão de
ações na Espanha. Em junho, a
CTC chilena lançou US$ 600 milhões em ações. A telefônica do
Peru emitiu US$ 250 milhões em
títulos de renda fixa e a argentina US$ 400 milhões.
A "holding" da Telefónica na
CRT gaúcha, por sua vez, vendeu
7% do capital para o BBV, 7%
para a Iberdrola e 20% para a
Portugal Telecom, um total de
US$ 400 milhões. Algo como US$
4,6 bilhões em recursos levantados por várias empresas do mesmo grupo.
A Espanha passa por um excelente momento em seu mercado
acionário, que subiu 45% este
ano. O mercado internacional
continua muito difícil para colocação de papéis de países emergentes, mas há boa receptividade
para financiar empresas européias interessadas em comprar
ativos latino-americanos.
Se tudo der certo, a médio prazo a Bolsa da Espanha vai acabar
sendo o mercado de negociações
de ações dessas empresas latino-americanas, lançando os Spanish Depositary Receits (SDR,
equivalentes aos ADRs americanos). Com a união das Bolsas de
Londres e Frankfurt, a Bolsa espanhola perdeu lugar na Europa
unificada. Quer se habilitar a ser
o centro europeu de negociação
de ações latino-americanas.
Preços na lua
Os preços de venda de muitas
empresas da Telebrás superaram
as expectativas e os parâmetros
internacionais. No caso da telefonia fixa, empresas internacionais têm sido negociadas a um
valor equivalente a US$ 2.000 a
US$ 3.500 por cliente. A Telesp
fixa foi vendida pelo equivalente
a US$ 7.400 por cliente e a Tele
Norte Leste a US$ 4.000, nos cálculos de um banco de investimentos.
No caso das celulares a diferença é ainda mais espantosa. A britânica Orange, considerada uma
das mais caras do mundo, é negociada ao equivalente a US$
6.000 por cliente. A Telesp Celular foi vendida a US$ 16.500 por
cliente, a Sudeste a US$ 16.100
por cliente, a Telemig a US$
9.000, a Sul a US$ 11.000. Considerando outro parâmetro, a Telesp saiu por US$ 680 por habitante de sua região e as outras
saíram acima de US$ 400.
É claro que, no caso da Telebrás, o valor das empresas como
um todo é uma extrapolação do
preço pago por 15% dela. Ou seja,
com 15% o comprador ficou com
o controle do ativo total e dos
ganhos sobre eles. Se tivesse que
pagar por 100% da empresa, o
ágio certamente seria menor.
Ainda assim, os prêmios superaram todas as projeções.
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