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DISSE-QUE-DISSE
Nem publicitário aguenta o horário político
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem mesmo especialistas em
vender produtos e idéias, os
publicitários, aguentam o que está no ar para vender candidatos a
prefeito e vereador.
A conclusão foi possível depois
de ouvir três gerações da premiada publicidade brasileira: Francesc Petit, da DPZ, Washington
Olivetto, da W/Brasil, Rodrigo
Butori, da recém-criada Cápsula,
e, também para dar o indispensável toque feminino, Ana Carmen
Longobardi, da Talent.
Todos eles têm um dado em comum: não fazem campanha política. Invertendo a "hierarquia"
de gerações, fala Butori, 26 anos:
"A coisa está ruim. Acho que é o
pior ano que já vi. Geralmente, a
propaganda política é muito mal
produzida, feia, malcuidada, não
dá tempo de produzir vídeos muito bonitos devido à necessidade
de respostas rápidas. A mais bonitinha das que estão no ar é a do
PT: é propaganda disfarçada no
formato de entretenimento, de diversão. É mais agradável. A propaganda do Maluf, ao contrário
dos outros anos, está muito feia."
Agora, Olivetto, para quem o
horário eleitoral, se fosse bom,
"não seria obrigatório" e que não
faz propaganda política porque
não anuncia "um produto que
não pode ser devolvido":
"No mundo inteiro são raras as
brilhantes campanhas políticas.
Dois momentos importantes na
história: a campanha de Ronald
Reagan (ex-presidente dos EUA),
que era muito interessante, e a
realizada por Jacques Seguelá para a primeira candidatura do
Mitterrand (François Miterrand,
duas vezes presidente francês): ele
mandou serrar os dentes caninos
do Miterrand, porque eles eram
muito compridos e deixavam o
candidato com cara de diabo..."
"Se no mundo as boas campanhas já são raras, no Brasil é ainda pior. O pessoal faz pesquisa e
pega um tema que pressupõe ser
uma ansiedade do consumidor
e/ou eleitor. Então, está todo
mundo falando de segurança. E
como todos usam aquela formulazinha ensaiada, artificial, parece que o candidato está dublado."
"Nos comerciais avulsos, o problema chave é a falta de conteúdo, que é fundamental em campanhas políticas. O produto deve
ter algo a dizer para eu fazer propaganda boa."
Qual seria, então, a solução?
"Eu gosto muito dos debates. E
acho que a legislação deveria ter
alguma coisa para evitar que um
cara candidato a vereador prometa impunemente que vai fazer
distribuição de renda. Precisamos
de mais informação verdadeira e
menos persuasão artificializada."
Petit fez uma revelação: sempre
sonhou em elaborar campanhas,
embora nunca as tenha feito. "A
política me fascina", disse.
Como exercício, propôs quatro
campanhas para candidatos que
escolheu, criando em cima dos
"protótipos políticos". Eis um resumo: "Luiza Erundina, fervorosa lutadora da esquerda mais radical, tem por obrigação assumir
o seu papel, com discursos inflamados e propostas revolucionárias, chamando o proletariado
para as grandes injustiças sociais,
gritando aos marreteiros seus direitos como brasileiros, como patriotas que devem lutar pelo seu
espaço, pelo seu barraco, num
discurso bem fundamentado nos
princípios esquerdistas".
"Para o sr. Paulo Maluf, faria
uma campanha inspirada nas
suas qualidades, homem de finos
costumes, frequentador das
maiores metrópoles do mundo.
Não é um defeito, pois São Paulo
é rica, pujante e não pode cair nas
mãos de um pé de chinelo."
"O candidato Romeu Tuma
merece uma campanha muito especial, pois não me parece adequado chamá-lo de xerife. Não
podemos colocar o sr. Tuma na
mesma prateleira dos famosos xerifes interpretados por Clint Eastwood, Gary Cooper ou John Wayne. O sr. Tuma é um profissional.
Faria uma campanha de um patriota brasileiro bravo, enfadado
com o crime, um homem que diz
com o olhar que não está para
sorrisos e brincadeiras."
"Para Marta Suplicy, faria outro logotipo, um Marta mais pessoal, escrito à mão. Sua campanha não deve combater os outros
candidatos; ela deve se centralizar nas suas qualidades e suas
causas e esquecer os defeitos dos
outros. Ela deve representar de fato a mulher pública moderna disposta a lutar pelas grandes causas, mas sem a retórica anacrônica do PT."
Por último, a opinião feminina
e abalizada de Ana Carmen Longobardi: "Eu observei que existem
partidos (um deles é o PT) que
têm procurado fazer uma campanha mais elaborada. Você vê que
existe uma produção bem cuidada, existem comerciais no modelo
do que se faz para um produto.
Não estou falando de conteúdo,
mas sim de forma: a mais profissional é a campanha do PT".
"Mas o que mais atrapalha a vida da gente é o produto anunciado. Quando você começa a ouvir,
a prestar atenção nas plataformas, você fica desesperada. É
muito difícil avaliar em que grau
uma campanha bem elaborada
ou eventualmente um conteúdo
menos enganador vai surtir efeito. Porque é uma sopa tudo o que
você vê. Culminando com a cara
de pau de políticos como Miguel
Colassuono e Brasil Vita, que até
outro dia estavam fazendo o
maior conchavo."
"Não gosto de que a propaganda seja obrigatória, ainda mais
aquele filme de terror de fotos três
por quatro sem nenhuma mensagem. São irrelevantes em termos
de conteúdo e chegam a chamar a
gente de palhaço. Acho que deveria ter alguma coisa dizendo que
o horário político pode causar
prejuízo para sua saúde."
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