São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Arsenal jurídico

AUGUSTO MARZAGÃO

Na galeria dos tipos emblemáticos do regime democrático da constituição de 46, o nome do senador Vitorino Freire era presença obrigatória nos fatos políticos e na agenda da imprensa. Nascido em Pernambuco, mas enraizado e formatado no Maranhão, Vitorino levou para o cenário nacional qualidades e defeitos da vivência nordestina e terminou produzindo um saldo interessante para sua biografia, na qual se inclui uma candidatura à vice-presidência da República na infausta chapa pessedista de Cristiano Machado. De jeito rústico, era dotado de talento verbal e manejava bem a verve na conversa política, sublinhada de ditos metafóricos caipiras como "a situação está de vaca não reconhecer o seu bezerro". Não lhe faltavam valentia e capacidade de cultivar adversários, tendo sido o ex-presidente José Sarney um dos seus alvos implacáveis, até chegarem à reconciliação. Já o jornalista Assis Chateaubriand só conseguiu uma cadeira no Senado graças, principalmente, às incríveis manobras de Vitorino Freire.
Habitué da "copa e cozinha" do presidente Dutra, (a primeira-dama D. Santinha tratava-o com especial deferência), amigo da família Geisel, o prestígio do senador maranhense (autor do livro de memórias "A Laje da Raposa") fundamentava-se sobretudo em meios militares. Daí é que surgem muitas histórias do seu folclore, a exemplo da que se segue:
Em certos momentos dos anos 60, a raposa maranhense estava caminhando no Senado quando encontrou o senador Cesar Vergueiro, que discutia com um grupo de colegas a interpretação de um artigo da Constituição. Não chegavam a um acordo, até que Vergueiro pareceu encontrar a saída, dizendo: ali está o Vitorino, vou submeter a ele a minha interpretação desse dispositivo polêmico. O consultado responde: "Meu caro senador, em matéria de interpretação constitucional eu estou com o professor Sherman". Vergueiro indaga: "É alemão ou inglês esse jurista?". E Vitorino explica: "Não sei, ele me foi apresentado pelo presidente Dutra. E quando saiu da Vila Militar, já trazia a Constituição toda interpretada".
Decifração do enigma autoral: Sherman era a marca dos tanques que o Exército brasileiro tinha na época...


AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista, autor do livro "Memorial do Presente", secretário particular dos presidentes Jânio Quadros e José Sarney e secretário de Comunicação Institucional do presidente Itamar Franco, escreve às sextas nesta seção



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