São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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ELEIÇÕES 2004/RIO DE JANEIRO

Com poucas chances no Rio, entorno passa a ser decisivo em estratégia para eleição presidencial

PT e Garotinho disputam a Baixada de olho em 2006

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O controle político da Baixada Fluminense se tornou nesta eleição uma questão estratégica tanto para o PT quanto para o governo do casal Garotinho, em sua segunda gestão no Estado do Rio.
Com a perspectiva de uma derrota na capital, onde o candidato que apóiam, Luiz Paulo Conde (PMDB), aparece em terceiro lugar nas pesquisas, a governadora Rosinha Matheus (PMDB) e o marido Anthony Garotinho estão investindo de maneira maciça na Baixada, com obras e presença ostensiva nas campanhas a prefeito.
Já o PT, também mal na campanha carioca -o candidato Jorge Bittar é o quinto nas pesquisas-, decidiu tentar o maior número possível de municípios na região metropolitana do Estado, de modo a atrapalhar as pretensões de Garotinho, candidato potencial do PMDB a presidente em 2006.
Há justificativa para tanto interesse pela Baixada Fluminense. Formada por 14 cidades, a região tem cerca de 3,3 milhões de habitantes, de acordo com o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As condições de vida dessa população são muito ruins. A Baixada, à exceção de alguns agrupamentos das classes média e alta, se transformou em uma favela que se espalha por grande parte da região metropolitana fluminense. Faltam saneamento, hospitais, escolas, áreas de lazer, empregos, oportunidades de ascensão social.
O quadro torna a Baixada um terreno fértil para as ações políticas assistencialistas. Só em Duque de Caxias, com 715 mil habitantes, há 35 centros sociais criados por candidatos e que oferecem à população, gratuitamente, de tratamentos médico e dentário a corte de cabelo e cestas de alimentos.
A compra de votos é outra prática na Baixada. Os candidatos a prefeito na Baixada podem recorrer a currais controlados por vereadores veteranos. Um voto pode valer até R$ 50, conforme a Folha apurou em conversa com militantes dos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita e Paracambi.

Garotinho lidera
Na disputa pela Baixada, até agora, os Garotinho estão na frente. Segundo as últimas pesquisas, seus candidatos lideram em Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Magé, três dos maiores municípios da Baixada. Também estão na frente em Niterói e São Gonçalo, cidades que não ficam na Baixada, mas integram a região metropolitana.
O PT só vai bem em Mesquita e Paracambi, cidades de importância menor em relação aos controlados pela governadora e o marido. O partido prioriza a campanha do deputado federal Lindberg Farias para a Prefeitura de Nova Iguaçu. Ele aparece em terceiro nas pesquisas, mas diz que chegará ao segundo turno contra Mário Marques (PMDB), empatado tecnicamente na liderança com Fernando Gonçalves (PTB).
A equipe de produção do programa eleitoral de Lindberg veio toda de São Paulo. Está radicada há dois meses em um hotel no município. Seus integrantes são da agência MPM, comandada pela publicitário Nizan Guanaes.
Para apoiar Lindberg, o presidente do PT, José Genoino, esteve há dez dias em Nova Iguaçu, onde participou de panfletagens.
Também para reforçar a campanha, são esperados em Nova Iguaçu os ministros Tarso Genro (Educação) e Humberto Costa (Saúde) e o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha. Amanhã, a dupla Zezé Di Camargo e Luciano faz, no município, show pró-Lindberg.
Na análise da cúpula petista, conquistando as prefeituras de Niterói e das cidades mais importantes da Baixada, o partido confinará o poder de Garotinho, no ano da eleição presidencial, ao pouco expressivo politicamente interior do Estado do Rio.
O PT aposta ainda que, em 2006, o prestígio da governadora atingirá patamares baixos, o que atrapalharia ainda mais os planos de Garotinho de disputar com chances o pleito presidencial.


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