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Região onde Marina nasceu se divide sobre candidatura
No Seringal Bagaço (AC), admiração por senadora é dividida com gratidão a Lula
Marina saiu há 35 anos da comunidade, aos 16; "ela era magrinha, mas ajudava o pai na roça, uma menina muito esperta", conta moradora
Jorge Araújo/Folha Imagem
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Moradores do Seringal Bagaço (AC), terra natal de Marina, na sede da associação de produtores rurais
DO ENVIADO AO SERINGAL BAGAÇO (AC)
Se a construção da imagem
de Lula remonta a Garanhuns
(PE), a de Marina Silva tem sua
origem numa comunidade de
120 pessoas sem carro e sem
energia elétrica, que sofre a ressaca da crise da borracha.
O Seringal Bagaço está a apenas 40 km de Rio Branco (AC),
mas o acesso é precário. A estrada de terra que vem da capital termina no rio Acre e, de lá,
só de barco se alcança o local de
onde a senadora e agora pré-candidata à Presidência saiu
aos 16 anos, analfabeta.
Marina é heroína local, mas o
apoio de que ela desfruta na pequena comunidade rural não é
unânime como o de Lula no
agreste pernambucano.
A admiração pela filha da terra é dividida com a gratidão ao
presidente, cujo governo fornece Bolsa Família e promete a
chegada do Luz para Todos para ainda este ano.
A lembrança da senadora é
difusa. Marina saiu há 35 anos e
nunca mais voltou até fevereiro
deste ano, prometendo ajuda
numa disputa com o Banco do
Brasil pela titularidade de parte
das terras. Nenhum parente
dela ficou na comunidade.
Ao anunciar sua saída do PT,
Marina comparou a experiência ao dia em que deixou o seringal para estudar na cidade.
"Nunca esperava que ela virasse senadora. Mas quando
Deus quer, Deus realiza. Se
Deus quiser, vai ser presidente", diz Maria da Costa Santos,
62, uma das poucas a dizer que
se lembra de Marina quando
criança. "Ela era magrinha, mas
ajudava o pai na roça. Uma menina muito esperta."
Numa manhã de frio, em que
moradores recebiam filtros e
cobertores da Prefeitura de Rio
Branco, a candidatura de Marina e sua relação com Lula dividiam opiniões.
"Sair do PT foi o que o coração dela pediu e o que Deus decidiu. Ela é serva de Deus, ela
segue o que Deus decide", diz
Maria do Carmo Araújo, que
preside a associação dos moradores. "Mas, se não fosse o presidente, ela não teria chegado
onde chegou."
É interrompida por Josinaldo Ferreira, 45, um fã incondicional da senadora. "Não foi o
Lula. Foi a capacidade dela. Ela
foi senadora antes de o Lula ser
presidente."
Como muitos seringais no
Acre, o Bagaço foi pego de surpresa pela queda no preço da
borracha. A extração do látex
parou há dez anos nas "colocações", como são chamados os
locais de coleta. Agora, sobrevive-se da pequena agricultura e
da coleta da castanha para venda na cidade.
Hoje, com o fim da atividade
seringueira, a fonte de renda no
fim do mês não é mais assegurada, mas há compensações.
Existem barcos para cruzar o
rio, um caminhão para levar à
cidade e escola para as crianças.
Todos vivem em casas de madeira suspensas um metro do
chão por estacas. Alguns moradores têm TVs, movidas a gerador enquanto a luz não chega, e
por isso já se sabe que a preferida de Lula é uma senhora que
alguns chamam de "Dilma
Houssein" -na verdade, Rousseff, ministra da Casa Civil.
Muitos simpatizam. "Se a
candidata do Lula for essa Dilma, é nela que eu voto. A Marina vai se queimar. É partido novo o dela, vai demorar 20 anos
para crescer", diz Antônio Carlos de Menezes, 59.
Outros torcem o nariz . "Parece que essa Dilma se preocupa pouco com os pobres e muito com os fazendeiros", afirma
Maria do Carmo Araújo.
(FÁBIO ZANINI)
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