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ELIO GASPARI
"1808", um sucesso de simplicidade e trabalho
A história de d. João 6º chegou a 100 semanas na lista de mais vendidos porque o autor botou o pé na estrada
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O "1808", do jornalista Laurentino
Gomes, bateu a marca mágica dos
sucessos editoriais e entrou na
100ª semana de presença nas listas dos
livros mais vendidos. Para quem acha
que brasileiro não lê, foram 500 mil
exemplares. Na categoria de trabalhos
de não-ficção de autores nacionais, a melhor marca está com "Estação Carandiru", do médico Drauzio Varela, lançado
em 1999, que chegou a 160 semanas.
Há poucas semanas a professora canadense Margaret MacMillan publicou um
livro sobre as atuais dificuldades da historiografia, contando que uma estudante
decidiu estudar um período porque ele
estava "subteorizado". Laurentino foi na
direção oposta. No "1808" não se encontram expressões como "burguesia mercantil" ou "pacto colonial". É uma obra
simples, dividida em 29 pequenos capítulos, contando a chegada de d. João 6º ao
Brasil. Mostra que ele não foi o paspalho
retratado pela burrice convencional.
Por trás do sucesso de "1808" há uma
lição. Em 2007, quando Laurentino percebeu o próprio êxito, resolveu cavalgá-lo. Contratou uma assessoria que rastreou as vendas do livro, reinventou a
obra lançando uma edição juvenil, um
audiolivro, uma caixa com DVD, criou
um sítio na internet e entrou no Twitter.
Gastou R$ 300 mil do seu bolso (mas ganhou R$ 2 milhões). Deixou o emprego
que tinha na Editora Abril e, nas suas palavras, "botei o pé na estrada". Visitou 60
cidades, fez 250 palestras, autografou
5.000 exemplares e respondeu a 10.000
e-mails.
É dura a vida de um autor. Há seis meses ele descobriu (graças aos leitores)
que a Editora Planeta rodara 8.000
exemplares embaralhando capítulos
de uma biografia de Indira Gandhi.
Pior: esse reparte fora mandado para
livrarias da internet para ser vendido a
R$ 9,90 e acabara em livrarias a R$ 40.
Laurentino publicará em setembro
de 2010 seu novo livro, "1822", pela
Ediouro. Para recontar a história da
Independência, ele foi ao sertão
piauiense e visitou o campo da batalha
de Jenipapo, em Campo Maior.
Nela morreram 400 brasileiros ignorados pela história. Deles há a lembrança dos túmulos e um monumento
de concreto, perdido numa mata de
carnaúba.
O MAPA DO TESOURO DA ILHA DE FURNAS
Prossegue a caça ao tesouro
da Fundação Real Grandeza, o
fundo de pensão dos trabalhadores de Furnas, onde há um
ervanário de R$ 8 bilhões. Começou a eleição dos três representantes dos funcionários no
conselho da instituição. É um
um processo que mobiliza 14
mil pessoas e dura cerca de um
mês, culminando com a posse
dos escolhidos, em outubro,
quando termina o mandato da
atual diretoria do fundo. O novo conselho escolherá a próxima diretoria.
Numa das últimas reuniões
da diretoria de Furnas, que não
tem poder sobre o conselho, ouviu-se um curioso comentário:
se os conselheiros não atenderem aos desejos de Brasília, a
Fundação Real Grandeza sofrerá intervenção da Secretaria de
Previdência Complementar.
Caso clássico de ameaça de
golpe antes de se saber o resultado de uma votação. Se o Real
Grandeza deve sofrer intervenção, ela deveria ter sido feita ontem. Usar essa ameaça para influenciar os conselheiros é
coisa de quem quer criar mais
uma encrenca, como se não
bastassem as existentes.
A principal pressão sobre o
Real Grandeza vem da Câmara, mais precisamente, da banda ágil do PMDB, que já perseguiu a diligência em três outras
ocasiões. O período de esplendor desse poderio sobre Furnas deu-se entre 2007 e 2008
quando a estatal foi presidida
pelo ex-prefeito do Rio Luis
Paulo Conde, um arquiteto
que se doutorou em artes elétricas sob a orientação do deputado Eduardo Cunha. O
PMDB do Rio tenta dominar as
arcas de Furnas com tanto
afinco que há poucos meses
um diretor da estatal recebeu
um pedido para fazer do departamento de produção de
Campos um pudim de amigos.
FISCAIS DA VIÚVA
O ministro Guido Mantega
pôs o dedo na ferida ao revelar
que, durante sua gestão (mais
precisamente, em 2008), fortaleceu-se o setor de fiscalização
da Receita Federal sobre instituições financeiras, que "estava
carente". Põe carente nisso, até
então a Viúva tinha 29 funcionários na fiscalização externa
da banca paulista. Apesar dos
muxoxos, esse número está em
44 e os novos auditores começaram a trabalhar há poucos
meses. Numa atividade que nada tem a ver com o trabalho da
Receita, a Prefeitura de São
Paulo tem 602 fiscais para vigiar os ônibus fretados.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e procura abandonar essa condição
acompanhando o programa juvenil "Viva Pitágoras", da TV
Cultura de São Paulo, mantida
pela Viúva. Na quarta-feira o
idiota surpreendeu-se com três
interrupções para que se divulgasse a inauguração da "Universidade Virtual" criada pelo
governo do Estado. Uma das interrupções durou quatro minutos e propagou um discurso do
governador José Serra. Eremildo é um frequentador da TV
Brasil, do governo federal e garante que nunca teve o prazer
de ouvir Nosso Guia durante
quatro minutos ininterruptos.
O idiota concorda com Serra:
"Não me venham escrever de
novo que isso aqui é um lance
para a campanha presidencial".
FÉRIAS
Nos próximos quatro domingos o signatário prestará sua
solidariedade às centrais sindicais que lutam pela redução da
jornada de trabalho, radicalizando a proposta: cumprirá
jornadas sem trabalho.
TED KENNEDY
Para quem acredita na eternidade do poder e na memória
curta das gentes. No dia 12 de
julho de 1973, sendo presidente
da República o general Emílio
Garrastazu Médici e ministro
da Justiça o professor Alfredo
Buzaid, a censura emitiu a seguinte nota para a imprensa: "É
proibido divulgar as denúncias
do senador Edward Kennedy
sobre torturas no Brasil".
VAMOS ALMOÇAR?
Está nas livrarias "Kissinger
e o Brasil", do professor Matias
Spektor. É um estudo exemplar
da articulação (fracassada) do
secretário de Estado Henry
Kissinger para criar uma relação preferencial com o Brasil,
entre 1974 e 1977. Poucas vezes
uma fase da diplomacia nacional foi pesquisada com tamanha riqueza documental. O livro de Spektor conta dois episódios ilustrativos da displicência com que os americanos tratavam as relações com o Brasil.
Em 1974, o vice-presidente Gerald Ford acabara de assumir o
lugar de Richard Nixon e tinha
uma reunião com o chanceler
brasileiro Azeredo da Silveira.
Recebera documentos preparatórios para a conversa e Kissinger procurou atualizá-lo.
Deu-se o seguinte diálogo:
Ford: "Deixei meu papel na
residência."
Kissinger fez o possível:
"Geisel é o presidente, Silveira
é o ministro das Relações Exteriores".
Noutro lance, Kissinger reuniu-se com o chanceler soviético Andrei Gromiko. O russo estava preocupado com o acordo
nuclear assinado pelo Brasil e
Alemanha e temia que disso resultassem bombas em Bonn e
Brasília. O secretário de Estado
americano deu uma resposta
tranquilizadora, porém breve, e
concluiu: "Vamos almoçar?"
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