São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2000

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FORTALEZA
Candidato à reeleição, peemedebista "afaga" tucano em busca de aliança para o 2º turno
Juraci diz que apoiaria Tasso à Presidência

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA EM FORTALEZA

O prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães (PMDB), forte candidato à reeleição, disse ontem que apoiará o governador Tasso Jereissati (PSDB) para a Presidência da República se a aliança dos dois partidos for mantida para 2002. Tasso e Juraci são adversários há mais de uma década.
"Se a aliança for PMDB, PSDB e PFL, e o Tasso for o candidato, eu apóio. Em política, tudo é possível, tudo é diálogo e negociação", disse o prefeito, que tem um longo histórico de disputas e acusações com Tasso e o PSDB.
Ele, inclusive, já sugere o nome de um candidato a vice-presidente: o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos (PMDB).
"O povo adora o Tasso, que está inclusive muito melhor do que eu (na opinião pública). O problema dele é que ele não sabe transferir voto", disse o prefeito ontem, em mangas de camisa, na prefeitura.
Líder nas pesquisas para as eleições de amanhã (33% no último Datafolha) e presença tida como certa no segundo turno, Juraci sinalizou assim que quer uma aliança tácita com o governador e os tucanos para se reeleger.
A dois dias do pleito, o velho e experiente político já "elegia" ontem o seu adversário no segundo turno: o candidato das esquerdas, Inácio Arruda (PC do B).
Aliado ao PT, PDT, PSB e PCB, o deputado federal Inácio Arruda está embolado em segundo lugar com Moroni Torgan (PFL) e Patrícia Gomes (PPS), candidata de Tasso e do também presidenciável Ciro Gomes.
A possibilidade de uma aliança entre Juraci e Tasso num eventual segundo turno contra Arruda não surpreende o próprio candidato do PC do B: "Esse é o caminho natural, porque desde o primeiro turno já enfrento o poder econômico do governo estadual e a máquina do governo municipal".
Arruda, entretanto, diz que uma aliança de cúpulas não se refletirá necessariamente em votos: "Eles, os caciques, podem até fazer acordo, mas e os eleitores do PSDB e do PPS? Será que vão com eles?"
Sem saber da entrevista de Juraci, Tasso o acusou de ser um legítimo representante da política "coronelista" cearense: "O Juraci representa tudo o que combati a minha vida inteira".
De fato, o prefeito, de 69 anos, representa a velha política nordestina, no jeito de falar, de gesticular, de contar casos e de fazer campanha -no corpo-a-corpo, de bairro em bairro. É, por isso, o preferido do eleitorado de baixa renda e menos escolarizado.
Ele não se incomoda nem um pouco com a dimensão e a visibilidade na política nacional que tanto Tasso quanto Ciro conseguiram ao longo da carreira: "Eu sou o pato, quietinho. A galinha é que canta quando põe ovo".
A velha rivalidade, porém, não resiste ao pragmatismo de lado a lado, e a tendência é Tasso e Juraci se unirem contra a esquerda, se Arruda for para o segundo turno.
A relação de cada um com o presidente Fernando Henrique Cardoso também é bem diferente, apesar de ambos serem de partidos aliados ao Planalto.
Juraci ressalva que o seu PMDB é aquele do também velho político Paes de Andrade, que é refratário ao Planalto e contra a cúpula e os ministros do partido.
O prefeito, porém, teve pesada ajuda financeira de Brasília para encher a cidade de obras bem no meio da campanha. Talvez por isso tenha um discurso dúbio em relação a FHC.
"Eu não estou de mal com o presidente, mas não sou aliado dele. Também não tomo café da manhã, não almoço, não janto com ele. Não tenho intimidade. Eu não sou do partido dele, eu sou do PMDB, o PMDB do Paes, o MDB histórico."
Na sua opinião, porém, "FHC vai se recuperar na entrada do novo século, porque vai se beneficiar da recuperação da economia". Leia-se: goste-se ou não, não está na hora de brigar com FHC.


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