São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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Ex-radialista segue passos do marido

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A distância de cinco metros que separa o trio elétrico no qual Rosinha Garotinho Matheus discursou na quarta-feira passada, em Anchieta (zona norte do Rio), do seu carro, percorrida em longos 15 minutos por causa da multidão em volta dela, atesta o que as pesquisas de opinião mostram com números: a candidata do PSB ao governo do Estado conquistou um eleitorado, quase imune às críticas dos adversários, que pode elegê-la no primeiro turno.
Rosinha, 39, mulher do ex-governador e candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB), é tratada como um artista de novela, principalmente pelos eleitores de renda mais baixa. As pessoas gritam seu nome, se empurram para pegar um autógrafo, para abraçá-la ou tirar uma foto.
Apesar da queda na mais recente pesquisa do Datafolha, Rosinha continua com chances de vencer no primeiro turno e com baixo índice de rejeição (23%) para quem que tem sofrido constantes ataques desde o início da campanha.
"Ela é um fenômeno de carisma. Em 45 anos de profissão, nunca vi coisa igual", afirma o publicitário Cid Pacheco, 80, consultor da campanha de Rosinha.
Segundo seus críticos, a ex-radialista -que teve o primeiro cargo público no governo do marido- estabeleceu, na passagem pela Secretaria de Estado de Ação Social e Cidadania, uma rede paternalista de distribuição de benefícios, sem critérios técnicos e com o objetivo político de impulsionar sua imagem.
Um exemplo: o Cheque Cidadão, programa social mais lembrado por Rosinha, beneficiou, até o fim de sua gestão na secretaria, 52 mil famílias em 39 municípios. Os dez municípios do Estado com os piores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano), no entanto, ficaram de fora.
Os restaurantes populares que vendem refeições a R$ 1, outra marca da administração de Garotinho e Rosinha, também não estão nessas cidades. Um dos sete em funcionamento fica em Niterói, cidade com maior IDH do Estado e reduto eleitoral do candidato ao governo do Rio pela Frente Trabalhista (PDT-PPS-PTB), Jorge Roberto Silveira.
Segundo dados da atual administração da Secretaria de Ação Social, dinheiro não faltou na gestão da ex-primeira-dama. Em 1999, antes do rompimento do PT com Garotinho, quando o petista Antônio Pitanga era secretário, o orçamento foi de R$ 76,5 milhões. Em 2000, já com Rosinha, aumentou 63%, chegando a R$ 124,5 milhões. Em 2001, cresceu mais ainda: R$ 152,7 milhões.
A principal crítica do PT, entretanto, é que Rosinha teria deixado armadilhas para a equipe de Benedita da Silva, que assumiu o governo em abril e é candidata à reeleição, e espalhado o boato de que o PT acabaria com os programas.
"A atuação dela na ação social não foi apenas assistencialista. Teve também uma dose de crueldade política. No caso do programa de distribuição do leite, por exemplo, os contratos estavam vencidos quando assumimos e só podíamos comprar com licitação, o que levaria 90 dias. Por isso, houve problemas no início", afirma Jailson Souza e Silva, atual subsecretário de Ação Social.
A rejeição a Rosinha é maior entre os eleitores de maior escolaridade e na zona sul do Rio, onde surgiu o movimento "Rosinha, Não!". "A candidatura da Rosinha é uma jogada oportunista do Garotinho. Para nós, ela representa uma ameaça como foi o [político ultraconservador Jean-Marie" Le Pen para a França", diz o estudante de direito Luiz Pareto, 26.
Rosinha responde às críticas afirmando que recursos da pasta que dirigia chegaram aos mais pobres: "Dados do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] mostram que nos grandes municípios há bolsões de pobreza. As pessoas acham que Niterói, por exemplo, é só o centro e Icaraí [bairros mais nobres], mas quem anda nos morros sabe que há muitas comunidades carentes".
Ela afirma também que os programas seriam expandidos: "Estávamos num processo de expansão do Cheque Cidadão para todos os municípios. A distribuição era feita com critério, com a exigência de que a criança estivesse na escola e vacinada".
Usando linguagem simples e popular, um de seus trunfos políticos, ela dá sua explicação sobre os motivos dos ataques: "Meus adversários têm dor-de-cotovelo porque não conseguem tirar nada do papel e colocar em prática."
A imagem de mãe de uma família unida (nove filhos, cinco adotados) serve, para publicitários, como escudo. "É difícil convencer o eleitor de qualquer idéia malsã de uma mãe de nove filhos", diz Pacheco. "Para o eleitor, uma pessoa com nove filhos, que adota, não pode ser insensível", diz Maria Tereza Monteiro, diretora da Retrato Consultoria e Marketing.


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