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POLÍTICA DA IMAGEM
O vermelho e o azul
RENATA LO PRETE
Pouco antes do horário gratuito de 1998, a equipe que
então cuidava do marketing de
Lula decidiu "desavermelhar" a
propaganda do candidato. Usou
a cor histórica do partido apenas
para pintar o número 13 e foi ao
ar com muito branco, acrescido
de toques de verde-e-amarelo.
"O que não queremos é apresentar um Lula raivoso e assim
reforçar o preconceito contra ele",
justificou à época um dos publicitários da campanha.
A diretriz durou um programa.
Forte reação, dentro do PT, ao
que se considerou uma descaracterização de imagem determinou
a ressurreição do vermelho.
Com uma cor ou com outra,
aquela foi uma disputa em tudo
desfavorável ao petista, derrotado já no primeiro turno.
Hoje, filtrado pela lente de Duda Mendonça, o vermelho domina a propaganda de Lula. Não está apenas na estrela e nas bandeiras, mas em toda a ambiência dos
programas de televisão.
Dá o tom da sala onde os "notáveis" se reúnem para ajudar Lula
-e, desde a semana passada,
também para aplaudi-lo, inflexão reveladora do cenário com
que trabalha o marqueteiro. É a
cor do fundo sobre o qual são projetados itens do "programa de governo", quadro de presença obrigatória no horário petista.
Preservando, de forma reciclada, a simbologia do partido, Duda Mendonça encontrou outros
meios para suavizar a imagem de
Lula e vaciná-la contra: a) preconceitos, na visão de simpatizantes; b) pontos fracos do candidato, no entender de adversários.
Para isso contribuiu, sem dúvida, o talento do marqueteiro. Mas
seria equivocado enaltecer a comunicação e esquecer que a campanha petista é realizada em condições políticas ótimas.
Fala a um eleitorado majoritariamente desejoso de mudança e
que viu seguidas opções não-lulistas caírem pelo caminho.
Enquanto seu principal adversário se enreda na tentativa de
explicar que é governo, mas não
muito, Lula está à vontade para
vender na TV um futuro sem conflitos. No mundo encantado da
propaganda petista, empresários
e trabalhadores estarão sempre
do mesmo lado, as invasões de
terras vão acabar e o país, prometeu o candidato em debate recente, "não vai quebrar".
Nesse contexto, o vermelho dos
programas não transmite "raiva", como se temia quatro anos
atrás, mas calor e um sentimento
"para cima". No horário de Lula
não há sinal do Brasil triste, confinado às propagandas de Garotinho e principalmente de Ciro.
Em comparação, o azul tucano,
que bem serviu FHC em 1994 e
1998, parece agora frio e "para
baixo". A despeito do esforço publicitário, não está fácil achar
quem acredite que "a mudança é
azul", como canta Nana Caymmi
em um dos jingles de Serra.
A culpa obviamente não é da
cor, cuja principal função é dar à
propaganda uma unidade visual,
fazendo com que o eleitor a reconheça no mar de ofertas do horário gratuito. Mas o contraste ilustra bem a diferença de circunstâncias, tão favoráveis a Lula
quanto adversas para Serra.
No fundo, a propaganda é julgada exclusivamente com base na
situação do candidato na disputa. Os políticos tucanos que haviam aplaudido a ofensiva anti-Lula se voltaram contra os marqueteiros uma vez constatado o
prejuízo nas pesquisas.
E os marqueteiros, que anunciaram com entusiasmo à imprensa o "início da guerra total",
agora se consideram mal-interpretados, pois queriam apenas
"debater idéias" e "apontar contradições". Como diz a peça teatral, assim é, se lhe parece.
A repórter RENATA LO PRETE escreve
às segundas-feiras nesta coluna
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