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RUMO A 2004
Senadora, que não poderá concorrer à Prefeitura de Maceió se for expulsa após 3 de outubro, vai se inscrever nas prévias
Helena diz que eleição não a fará deixar PT
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DO PAINEL
Ameaçada de expulsão pelo PT,
a senadora Heloísa Helena (AL)
decidiu que não tomará a iniciativa de deixar o partido e que vai se
inscrever nas prévias para a disputa da Prefeitura de Maceió.
Se for realmente expulsa após o
dia 3 de outubro -situação que é
dada como certa pela cúpula do
PT-, ficará impossibilitada pela
legislação de disputar a eleição de
2004 por outra legenda. Heloísa
Helena tem convites do PSTU e
do PDT de Leonel Brizola. No PT,
ela integra a tendência trotskista
Democracia Socialista.
Primeira colocada nas pesquisas de intenção de voto em Maceió, a senadora quer deixar para
Lula e a direção do PT o desgaste
de ter de expeli-la da sigla. Diz que
não aceitará a imposição partidária e votará contra a reforma da
Previdência de Lula.
Avaliou que, se saísse por conta
própria, pensando no prazo de filiação, poderia ser mal interpretada pela base e que estaria fazendo
exatamente o jogo que interessa
ao Planalto. "Não saio pela porta
dos fundos. Vão ter de colocar a
digital totalitarista, a digital do
neo-stalinismo" afirma.
O processo de expulsão da parlamentar estava previsto para ser
encerrado em meados de setembro, mas foi propositalmente
atrasado pelo PT. A direção do
partido acreditava que a senadora, em razão do prazo de filiação
partidária, acabaria deixando a sigla por iniciativa própria.
Heloísa Helena e a cúpula do PT
começaram a se distanciar na eleição de 2002, quando o partido de
Lula se aliou ao PL de José Alencar. Lula exigia que a senadora,
então pré-candidata ao governo
de Alagoas, se coligasse ao PL no
Estado, a fim de ajudar a eleger
deputados da legenda.
A petista renunciou, então, à
candidatura: "O PL em Alagoas é
formado, basicamente, por
colloridos, usineiros e indiciados
na CPI do Narcotráfico. Não vou
me desmoralizar", afirmou ela na
época.
Neste ano, quando o PT decidiu
obrigar seus parlamentares a votar favoravelmente à reforma da
Previdência que o governo Lula
enviou ao Congresso, contrariando posicionamentos tradicionais
do PT, houve o rompimento.
Confira a seguir os principais
trechos da entrevista concedida
ontem pela senadora à Folha:
Folha - Ao ficar no PT, a senhora
desistiu, na prática, de disputar a
Prefeitura de Maceió?
Heloísa Helena - Não vou me curvar ao calendário eleitoral. Estou
me inscrevendo para as prévias
do PT, quero disputar a prefeitura, mas não vou fazer o que eles
querem. Filha de pobre, fui obrigada muitas vezes a entrar pela
porta dos fundos, mas não saio
por ela. Não combina comigo. Para que eu saia, vão ter de colocar a
digital do totalitarismo, a digital
do neo-stalinismo.
Folha - A senhora não teme a expulsão?
Heloísa Helena - Eu sou da caatinga, do sertão. O Palácio [do Planalto] não pode me punir por votar com base em posições defendidas ao longo de nossa história
[do PT] e modificadas sem um
amplo debate democrático. São
diretrizes que foram estabelecidas
em encontro nacional do PT.
Folha - A senhora ainda acredita
no governo Lula?
Heloísa Helena - Nos primeiros
nove meses, a política macroeconômica foi conservadora, de continuidade ao governo Fernando
Henrique e subserviente aos mercados. Poderá mudar. Não por
decisão unilateral do governo,
mas por pressão da realidade objetiva, dos movimentos sociais e
de setores da militância partidária. Será obrigada a mudar.
Folha - O que mais a decepcionou
no governo Lula?
Heloísa Helena -
Ser vítima de um processo de
expulsão enquanto delinquentes
da política brasileira são acarinhados pelo governo. Isso me
machuca profundamente. Também me deprime o abismo entre o
que nós alardeávamos para a opinião pública na oposição e o que
somos hoje no governo.
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