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Fecundidade cai e só recompõe a população
Pela primeira vez, taxa atinge o nível de 2,1 filhos por mulher, o que coloca o Brasil próximo ao padrão de países desenvolvidos
DA SUCURSAL DO RIO
A taxa de fecundidade da mulher brasileira chegou pela primeira vez ao limite de 2,1 filhos
por mulher, que indica tendência
de mera reposição populacional.
A taxa de 2,1 é considerada de
reposição porque supõe que, num
casal com dois filhos, uma criança
substituirá a mãe e outra substituirá o pai. O excedente de 0,1 é
necessário porque leva em conta
os efeitos da mortalidade.
A fecundidade no Brasil se
aproxima do padrão dos países
mais desenvolvidos e se une ao
grupo de 64 países (de um total de
187) que apresentam regime de
fecundidade baixo (menos de 2,1
filhos por mulher), segundo dados da ONU para 2002.
Na Europa, o número médio de
filhos por mulher é de 1,4, enquanto na África essa taxa chega a
4,9, segundo dados da ONU para
este ano. A taxa brasileira é semelhante à dos EUA: 2,1.
Por ter origem na Pnad (uma
pesquisa diferente do censo, já
que é feita por amostragem), o dado ainda está sujeito a oscilações
no futuro. Mas os demógrafos
vêem clara tendência de queda.
A chegada da fecundidade ao
padrão de reposição não significa
que a população já vai começar a
diminuir porque, com a redução
da mortalidade infantil e o aumento na expectativa de vida, os
brasileiros estão morrendo menos na infância e vivendo mais.
O demógrafo José Eustáquio
Diniz Alves, da Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas do
IBGE), diz que a queda na taxa de
fecundidade afasta o risco de explosão populacional. "Com essa
taxa, o país vai apresentar crescimento demográfico cada vez menor, até se estabilizar", afirma.
Alves diz que ainda existem
grandes diferenças regionais e socioecônomicas na população. O
Censo 2000 indica que as brasileiras de maior renda tinham, em
média, 1,11 filho. No extremo de
menor renda, a taxa era de 5,3.
"Vamos ter que dar aos filhos de
classes mais baixas o que a elite
sempre negou: educação de qualidade e de tempo integral", diz
Eduardo Rios-Neto, pesquisador
do Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional da
UFMG. "O desafio será educar
com qualidade filhos de mulheres
que tiveram pouca escolaridade,
muitas vezes analfabetas."
A diminuição do número de filhos por mulher não é, necessariamente, um dado apenas positivo.
A demógrafa panamenha Carmem Miró diz que "os europeus
estão tendo grave problema com
essa taxa [reduzida] porque não
têm força de trabalho suficiente e
precisam importar trabalhadores". Ela aponta que "alta porcentagem de idosos causa peso muito
grande sobre a economia".
Para Alves, da Ence, o Brasil entrou num processo irreversível de
envelhecimento populacional que
precisará ser acompanhado pelas
políticas públicas. "A proporção
de pessoas acima de 65 anos vai
aumentar constantemente e, por
volta de 2030, será a única parcela
que vai apresentar crescimento
populacional positivo."
Essa mudança já vem sendo verificada nos últimos 25 anos,
quando a taxa de fecundidade
caiu de 4,1 para 2,1. Como a expectativa de vida aumentou, houve mudança no padrão etário.
A comparação das Pnads de
1992 e de 2003 mostra que o percentual de crianças de 0 a 9 anos
caiu de 22,1% para 17,8% e que a
proporção de idosos (60 anos ou
mais) foi de 7,9% para 9,6%. Em
2003, segundo a Pnad, o país tinha
173.966.052 habitantes.
(ANTÔNIO GOIS E GABRIELA WOLTHERS)
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