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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Na PF, Lacerda implica campanha de Lula
Assessor de Mercadante disse que dossiê seria usado pelas campanhas do PT à Presidência e aos Estados, afirma seu advogado
Pela primeira vez, um dos envolvidos no caso admite uso eleitoral de documentos e associa o material à campanha petista nacional
FÁBIO VICTOR
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um depoimento de cinco
horas ontem na superintendência da Polícia Federal em
São Paulo, Hamilton Lacerda,
ex-coordenador da campanha
de Aloizio Mercadante (PT) e
assessor parlamentar do senador, declarou que o dossiê contra tucanos poderia ser usado
nas campanhas de Lula e de outros petistas nos Estados.
A informação partiu de seu
advogado, Alberto Zacarias Toron. Foi a primeira vez que um
dos envolvidos no escândalo do
dossiê admitiu abertamente o
uso eleitoral dos documentos e
os associaram à campanha do
presidente Lula.
A Polícia Federal obteve
mandados de busca e apreensão na Justiça Federal de Cuiabá e apreendeu, ontem à tarde,
"agendas, documentos, fitas,
cds e anotações" na casa de Lacerda em São Caetano.
"A polícia o ouviu porque ele
foi chamado a Brasília para ver
se seria possível divulgar um
eventual material de repercussão na campanha", disse Toron,
sem citar à qual campanha estava se referindo.
Repercussão nacional
Questionado pela Folha, esclareceu: "A repercussão na
campanha como um todo, não
era só na campanha de São
Paulo, não. É na campanha nacional. Eventualmente nas estaduais também".
Segundo o advogado, Lacerda contou à Polícia Federal que
quem o chamou à Brasília foi
Jorge Lorenzetti, ex-coordenador de risco e mídia de Lula.
"Sabia-se até então que havia
um material comprometedor
no que concerne ao escândalo
dos sanguessugas. Como ele teve participação é que ele foi
chamado [a depor]", disse Toron. Lacerda negou que tenha
levado a Gedimar Passos verba
para comprar o dossiê.
"Ele não manuseou em qualquer momento o dinheiro, não
falou sobre a origem do dinheiro e desconhecia que o material
seria pago", disse Toron.
Imagens do circuito interno
do hotel onde Passos estava
hospedado mostraram Lacerda
entrando com uma mala no local e saindo de lá sem ela, no
dia 14 de setembro, quando Gedimar e Valdebran Padilha foram presos com o dinheiro. Para a PF, era a comprovação de
que o assessor de Mercadante
teria transportado pelo menos
uma parte do R$ 1,7 milhão.
Lacerda, de acordo com o seu
advogado, admitiu ter ido para
o hotel naquele dia, mas relatou que a mala continha um
notebook, roupas, material de
campanha do PT e boletos bancários para contribuição de
campanha. Lacerda disse que
os entregaria a Gedimar, a pedido deste, e que, por isso, saiu
sem a mala.
Segundo Toron, o notebook
seria para a conferência da autenticidade de parte do material do dossiê (cds e dvd). "Os
boletos eram para depósito por
pessoa física nos exatos termos
do que manda a lei eleitoral."
Pontos obscuros
Há pontos que permanecem
confusos. Toron não soube explicar, por exemplo, aonde foi
parar o conteúdo da mala, que
não estava no material apreendido pela PF. "Salvo engano
meu, o notebook foi apreendido", disse ele.
Toron afirmou que Lacerda
foi duas vezes para o hotel, mas
não esclareceu se foram no
mesmo dia. Lacerda reafirmou
à PF que o candidato "desconhecia por inteiro" o dossiê.
A reportagem apurou que o
depoimento de Lacerda não
acrescentou informações sobre
a origem do dinheiro.
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