São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Na PF, Lacerda implica campanha de Lula

Assessor de Mercadante disse que dossiê seria usado pelas campanhas do PT à Presidência e aos Estados, afirma seu advogado

Pela primeira vez, um dos envolvidos no caso admite uso eleitoral de documentos e associa o material à campanha petista nacional


FÁBIO VICTOR
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um depoimento de cinco horas ontem na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) e assessor parlamentar do senador, declarou que o dossiê contra tucanos poderia ser usado nas campanhas de Lula e de outros petistas nos Estados.
A informação partiu de seu advogado, Alberto Zacarias Toron. Foi a primeira vez que um dos envolvidos no escândalo do dossiê admitiu abertamente o uso eleitoral dos documentos e os associaram à campanha do presidente Lula.
A Polícia Federal obteve mandados de busca e apreensão na Justiça Federal de Cuiabá e apreendeu, ontem à tarde, "agendas, documentos, fitas, cds e anotações" na casa de Lacerda em São Caetano.
"A polícia o ouviu porque ele foi chamado a Brasília para ver se seria possível divulgar um eventual material de repercussão na campanha", disse Toron, sem citar à qual campanha estava se referindo.

Repercussão nacional
Questionado pela Folha, esclareceu: "A repercussão na campanha como um todo, não era só na campanha de São Paulo, não. É na campanha nacional. Eventualmente nas estaduais também".
Segundo o advogado, Lacerda contou à Polícia Federal que quem o chamou à Brasília foi Jorge Lorenzetti, ex-coordenador de risco e mídia de Lula.
"Sabia-se até então que havia um material comprometedor no que concerne ao escândalo dos sanguessugas. Como ele teve participação é que ele foi chamado [a depor]", disse Toron. Lacerda negou que tenha levado a Gedimar Passos verba para comprar o dossiê.
"Ele não manuseou em qualquer momento o dinheiro, não falou sobre a origem do dinheiro e desconhecia que o material seria pago", disse Toron.
Imagens do circuito interno do hotel onde Passos estava hospedado mostraram Lacerda entrando com uma mala no local e saindo de lá sem ela, no dia 14 de setembro, quando Gedimar e Valdebran Padilha foram presos com o dinheiro. Para a PF, era a comprovação de que o assessor de Mercadante teria transportado pelo menos uma parte do R$ 1,7 milhão.
Lacerda, de acordo com o seu advogado, admitiu ter ido para o hotel naquele dia, mas relatou que a mala continha um notebook, roupas, material de campanha do PT e boletos bancários para contribuição de campanha. Lacerda disse que os entregaria a Gedimar, a pedido deste, e que, por isso, saiu sem a mala.
Segundo Toron, o notebook seria para a conferência da autenticidade de parte do material do dossiê (cds e dvd). "Os boletos eram para depósito por pessoa física nos exatos termos do que manda a lei eleitoral."

Pontos obscuros
Há pontos que permanecem confusos. Toron não soube explicar, por exemplo, aonde foi parar o conteúdo da mala, que não estava no material apreendido pela PF. "Salvo engano meu, o notebook foi apreendido", disse ele.
Toron afirmou que Lacerda foi duas vezes para o hotel, mas não esclareceu se foram no mesmo dia. Lacerda reafirmou à PF que o candidato "desconhecia por inteiro" o dossiê.
A reportagem apurou que o depoimento de Lacerda não acrescentou informações sobre a origem do dinheiro.


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