|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Incra é o maior desmatador do país, diz Minc
Autarquia foi multada em R$ 265,6 milhões, o que equivale a 35% do total de multas aplicadas aos maiores desmatadores
Ministro afirma que "falta sustentabilidade ambiental para a reforma agrária", mas isso não é razão para deixar de fazer assentamentos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Assentamentos federais de
reforma agrária ocupam os seis
primeiros lugares do ranking
dos cem maiores desmatadores
da Amazônia Legal. A lista foi
divulgada ontem pelo Ministério do Meio Ambiente em resposta a um novo aumento no
ritmo de abate da floresta, registrado em agosto.
De acordo com a lista, o Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, autarquia vinculada ao Ministério do
Desenvolvimento Agrário) foi
multado em R$ 265,6 milhões
por desmatamento em oito assentamentos diferentes, todos
localizados no Estado do Mato
Grosso.
O valor equivale a 35% do total de multas aplicadas aos
maiores desmatadores pelo
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis).
Com R$ 32,3 milhões em
multas, Léo Andrade Gomes
aparece na lista logo depois do
Incra, como responsável pelo
corte de floresta em fazendas
em dois municípios do Estado
do Pará: Santa Maria das Barreiras e Santana do Araguaia.
Contestação
Ainda cabem recursos às
multas. O presidente do Incra,
Rolf Hackbart, contesta as punições, que foram aplicadas nos
dois últimos anos: "Isso [o desmatamento] é coisa antiga, vamos recorrer".
Ao divulgar a lista ontem, o
ministro Carlos Minc (Meio
Ambiente) se disse surpreso
com o destaque do Incra no
ranking. "É muito grave que
exista desmatamento em áreas
de reforma agrária", disse.
Segundo o ministro, o fato de
o Incra liderar a lista reforça a
responsabilidade dos assentamentos nos índices de desmatamento, contestada por colegas de governo, mas não autoriza ataques à reforma agrária.
"Falta sustentabilidade ambiental para a reforma agrária.
Não está tudo bem. Não vamos
ocultar o problema nem ver no
problema base para acabar com
a reforma agrária", disse.
Existem na Amazônia Legal
2,257 assentamentos de reforma agrária. Eles somam uma
área de 37 milhões de hectares
-ou 370 mil quilômetros quadrados, mais do que o território
da Alemanha. Os assentamentos estão sujeitos aos mesmos
limites de desmatamento impostos aos demais imóveis localizados no chamado bioma
amazônia, de 20% da área total
do imóvel.
Levantamento feito pelo Ibama nos 36 municípios que mais
desmataram a Amazônia mostra que os assentamentos respondem por 27% do total desmatado por propriedades rurais na região, um número considerado "expressivo" pelo ministro do Meio Ambiente. O levantamento também mostra
desmatamento em terras indígenas e unidades de conservação federais. "O desmatamento
privado é muito maior", insistiu Minc.
A divulgação da lista dos
maiores desmatadores da
Amazônia vinha sendo adiada
desde o início do ano. Desde então, fazia parte do pacote de
medidas de combate ao desmatamento.
O Ibama tinha dificuldades,
no entanto, em localizar os responsáveis pelos imóveis autuados, e sua identificação envolveu uma força-tarefa no governo. Os cem maiores desmatadores receberam multas de R$
751 milhões.
Minc avaliou que, de cada
cem processos abertos por crime ambiental contra desmatadores, apenas dez vão a julgamento e pouco mais de um vira
condenação. "A impunidade
ambiental prospera e vamos
detonar esses cem maiores",
disse o ministro ontem.
Texto Anterior: Ambiente fica fora da pauta eleitoral no Pará Próximo Texto: Outro lado: Incra promete recorrer, e proprietários apontam erros no relatório Índice
|