|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em encontro reservado de 55 minutos, presidente eleito afirma aprovar a adoção do foro privilegiado para ex-presidentes
Lula pede a FHC o apoio pontual do PSDB
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No encontro reservado de 55
minutos com Fernando Henrique
Cardoso, o presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), disse
que não fará um governo de revanche, afirmou julgar natural
que os tucanos optem pela oposição, mas pediu ajuda do atual presidente para convencer o PSDB a
apoiá-lo pontualmente no Congresso. FHC se dispôs a fazê-lo,
segundo a Folha apurou.
Na conversa, Lula disse ainda
que considera justo o pedido de
FHC para aprovar no Congresso
o foro privilegiado para ex-autoridades, o que permitiria a FHC
continuar a responder a processos nas instâncias judiciais superiores quando deixar o cargo.
Em nenhum momento da conversa, Lula e FHC condicionaram
o foro privilegiado a um eventual
apoio pontual do PSDB ao PT. O
foro privilegiado, criticado no
passado pelo PT, também interessa a Lula e a autoridades petistas,
pois os protegerá no futuro.
Lula agradeceu e elogiou o comportamento de FHC na eleição,
bem como seu formato de transição. Ele disse que a transição, que
começou ontem com o primeiro
encontro pós-eleitoral entre os
dois, é a mais democrática já feita
no Brasil e que reflete o amadurecimento institucional do país, servindo de exemplo para toda a
América Latina.
Quando pediu o apoio pontual
do PSDB ao seu governo, Lula disse a FHC que pretende fazer cinco
reformas. Dessas, quatro teriam
de ser aprovadas no Congresso: a
tributária, a primeira da lista, a
previdenciária, a trabalhista e a
política. A reforma agrária é a
quinta e não depende de mudança constitucional.
Para aprovar reformas na Constituição, é preciso o apoio de três
quintos da Câmara e do Senado,
em dois turnos de votação.
Lula disse a FHC que quer conversar com José Serra (PSDB),
candidato a presidente derrotado,
para falar de suas reformas. Os tucanos mais ligados a Serra pregam oposição dura à Lula.
O petista tentará aparar arestas
com Serra e tucanos mais radicais. Lula já conta com a ajuda do
presidente da Câmara e governador eleito de Minas, Aécio Neves,
a quem visitou ontem, para colocar o PSDB numa oposição "light".
Esse tipo de oposição é considerado pela cúpula petista a mais
conveniente para Lula. O presidente eleito sabe que as feridas
eleitorais e as divergências estaduais entre PT e PSDB impedem
aliança para formar o governo.
Nesse contexto, a Folha apurou
que Lula julga útil que o PSDB lidere a oposição. O raciocínio da
cúpula petista é o seguinte: o
PSDB impediria uma eventual
tentativa de Anthony Garotinho
(PSB) e de Ciro Gomes (PPS) de
liderar a oposição pela esquerda.
Isso ajudaria o PT consolidar de
vez o prometido apoio do PSB e
do PPS, mantendo a hegemonia
petista na esquerda.
Ao mesmo tempo, por ser o
PSDB um partido com idéias
mais próximas do PT, uma oposição liderada pelos tucanos tiraria
gás de legendas conservadoras,
como PFL e PPB. Isso permitiria
negociação pontual com setores
pefelistas e pepebistas.
O petista também disse a FHC
que, apesar das divergências nos
últimos oito anos, sempre teve
apreço pelo tucano. FHC disse ter
o mesmo sentimento em relação a
Lula. O petista afirmou que FHC
ajudou a melhorar a imagem do
Brasil no exterior. Ficou implícito
que Lula espera contar com uma
espécie de aval de FHC na comunidade internacional.
Os dois combinaram de voltar a
conversar pessoalmente, sem data definida, e de terem mais liberdade para telefonar um ao outro
quando desejarem.
A um interlocutor, FHC relatou
que Lula disse estar um pouco
cansado da maratona eleitoral e
que iria descansar uns dias.
Texto Anterior: Prefeito de Ribeirão, coordenador pede licença Próximo Texto: Petista terá uma linha direta para falar com tucano Índice
|