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Para especialista, fome está no fim
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Massa corporal insuficiente é
uma magreza excessiva e um dos
indícios da fome. Pois 9,5% dos
brasileiros adultos apresentavam
em 1975 essa característica. Em
1997, quando do último levantamento, eles já eram só 4%.
Entre as crianças, nesse mesmo
período, a baixa estatura, que é
um sintoma de desnutrição, caiu
de 32,9% para 10,4%.
"A fome e a desnutrição são hoje no Brasil bem menores que há
dez anos e imensamente menores
que há 20 ou 30 anos", diz o especialista Carlos Augusto Monteiro,
diretor do Nupens (Núcleo de
Pesquisas Epidemiológicas em
Nutrição e Saúde), da Faculdade
de Saúde Pública da USP.
Ele considera exageradas as estimativas pelas quais 20 milhões ou
30 milhões de brasileiros não tenham hoje o que comer. "Esses
números talvez até reflitam a parcela da população com falta de
renda, mas não a população com
falta de alimentos", diz ele.
Insuficiência alimentar
Segundo Monteiro, há algumas
regras básicas para compreender
o assunto. "Os economistas estudam a pobreza. Fixam com frequência limites -US$ 1/dia, por
exemplo- abaixo dos quais uma
pessoa corre o risco de passar fome. Mas esses limites se referem
apenas à renda. Discute-se miséria, pobreza, mas não insuficiência alimentar, que é algo diferente", diz o professor da USP.
A fome existe sempre de forma
paralela à miséria. Mas nem sempre a miséria se traduz pela ocorrência da fome. Há o alimento da
roça familiar, há programas públicos como a merenda escolar, e
ainda redes privadas de filantropia. Famílias com uma renda extremamente baixa numa região
urbana mais rica raramente sofre
de desnutrição.
Mas essa mesma família, numa
região rural muito pobre, está
mais ameaçada pela possibilidade
de não ter o que comer. Um município pobre não tem como custear programas assistenciais, não
consegue construir e manter uma
rede que impeça que a família pobre caia na desnutrição.
No Nordeste rural, o Brasil mais
pobre, por exemplo, 5% dos adultos são excessivamente magros.
Eles têm, segundo padrão de
mensuração internacional, uma
massa corporal inferior a 18,5 kg
por metro quadrado [o peso dividido pela altura ao quadrado].
Mas no Sudeste urbano, o Brasil
mais rico, esses indivíduos chegam a apenas 3,5%. Isso não quer
dizer que 3,5% dessas pessoas
passem fome. Pode ser até que isso ocorra com algumas delas. Mas
essa porcentagem está ao mesmo
tempo muito próxima daquela de
pessoas excessivamente magras
que se encontram em países desenvolvidos, como na Alemanha
e nos Estados Unidos.
Em termos comparativos, no
Sul da Ásia, em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh,
onde a fome é um fenômeno histórico, indivíduos com índice de
massa corporal insuficiente chegam a representar 40% ou 50% da
população.
"É uma população segregada,
que come pouco, bem menos que
o necessário. Os pais e os avós já
passavam fome, e os filhos provavelmente também passarão, mulheres muito magras com crianças nascendo com pouco peso, algo como um quilo e meio", diz
Carlos Augusto Monteiro.
Na África, países como o Mali e
a Namíbia, onde a fome é um problema sazonal, são afetadas em
torno de 20% dos adultos.
O problema da fome é menos
grave que no Sul da Ásia. Nesses
países, a fome desaparece quando
há chuvas ou uma boa colheita.
Mas reaparece em circunstâncias
de natureza adversa.
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