São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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ANPOCS

Mendonça de Barros afirmou que, se reeleito com a atual política econômica, presidente não poderá falar de herança maldita

Lula tem cara-de-pau, diz ex-ministro de FHC

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, disse ontem em Caxambu (MG) que o presidente "Lula tem uma cara-de-pau extraordinária".
Ele se referia à atribuição que o presidente faz de males econômicos do país ao governo anterior, de FHC (1995-2002).
Se Lula for reeleito praticando a atual política econômica, Mendonça de Barros disse, não poderá mais ter a "cara-de-pau" de falar em "herança maldita" após dar continuidade à receita. Nesse caso, seria claramente uma "herança maldita dele", Lula, afirmou o ex-ministro. A assessoria de imprensa da Presidência disse que não comentará as declarações.
As declarações foram feitas durante debate sobre a conjuntura brasileira, no último dia de discussões do 28º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
O ex-ministro defendeu que, apesar do atual crescimento experimentado pelo país, o tipo de inserção na economia global escolhido por esta administração limita a possibilidade de ação do Estado em outras áreas, "é muito perigoso" e deve tornar o Brasil refém de outra crise internacional, caso ela venha a ocorrer.
O atual ambiente internacional favorável a exportações e a investimentos em economias periféricas (dadas as baixas taxas de juros praticadas nos países ricos), para Mendonça de Barros, é um "cenário artificial" que "em algum momento será mudado".
Quando isso ocorrer -antes ou depois das eleições de 2006-, a conseqüência será uma crise política dentro do governo, disse o economista, devido ao "pólo anti-[Antonio] Palocci [ministro da Fazenda]" existente na administração federal. "Vai haver uma hora da verdade", declarou. "O governo não está preparado."

"Samba do crioulo doido"
O país não se insere na economia mundial, a seu ver, com um "projeto nacional", mas refletindo "100% o dinamismo desse corpo [os mercados financeiros e comerciais externos]".
Os responsáveis por isso, segundo o economista, estão na equipe do ministro Palocci, que "reflete o liberalismo mais exacerbado".
Mendonça de Barros lembrou o governo Fernando Henrique, em que existia debate sobre o modo de abertura econômica do país -de que saíram vitoriosos os mais ortodoxos.
No PT, em contrapartida, segundo ele, por nunca terem debatido a sério as diferentes alternativas, "é o samba do crioulo doido".


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