São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INVESTIGAÇÃO

Papéis são de empreiteiras do túnel Ayrton Senna

Maluf comprou US$ 14,3 milhões em títulos no exterior, diz Suíça

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos enviados pela Suíça revelam que duas "offshores" (empresas estrangeiras) registradas em nome do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e da filha Lígia Maluf Curi compraram no mercado internacional US$ 14,37 milhões em títulos de empreiteiras ligadas à construção do túnel Ayrton Senna -obra apontada pelo Ministério Público como escoadouro de recursos públicos.
A informação consta da ação que tramita na 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, movida pelo Ministério Público de São Paulo contra Maluf e outras 36 pessoas e empresas por enriquecimento ilícito. No total, a Promotoria estima que a família Maluf tenha movimentado US$ 446 milhões em contas na Suíça.
Segundo os papéis suíços, em 1994 a empresa White Gold, em nome de Maluf, investiu US$ 14,07 milhões na aquisição de títulos da construtora Norberto Odebrecht. Três anos depois, a Lindsay Limited, que tem Lígia como a beneficiária, comprou US$ 300 mil em títulos da CBPO Overseas -subsidiária da construtora CBPO.
O ex-prefeito e o grupo negam terem praticado qualquer irregularidade.

Mesmo grupo
Essas empreiteiras pertencem ao mesmo grupo, o Norberto Odebrecht. A CPBO, ao lado da Constran, foi a responsável pela construção do túnel, que ficou célebre por ter custado mais, em metro linear, do que o túnel sob o canal da Mancha: US$ 223,8 mil contra US$ 155 mil. O Ayrton Senna foi a principal obra na última gestão de Maluf como prefeito de São Paulo (1993-1996).
Para a Promotoria, as contas no exterior foram abastecidas com dinheiro desviado do túnel e da obra da avenida Água Espraiada (atualmente avenida Jornalista Roberto Marinho).
Lígia e o marido Maurílio foram convocados para depor na Polícia Federal na próxima semana.
O objetivo do depoimento é descobrir o motivo das compras, a origem do dinheiro e o nome da corretora ou banco que negociou os papéis no mercado financeiro.

Na Justiça
Na Justiça Estadual, Maluf, Lígia, a CBPO e outros 33 réus respondem por improbidade administrativa (má gestão pública). A Promotoria pede a devolução de R$ 5 bilhões ao município. A Justiça determinou a indisponibilidade de bens de todos para garantir eventual ressarcimento.
Na Justiça Federal, Maluf é réu numa ação por crime de evasão de divisas. O ex-prefeito e o filho Flávio foram indiciados pela Polícia Federal sob a acusação de cinco crimes. Eles negam todos.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Outro lado: "Maluf não tem conta no exterior"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.