São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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ECOS DO REGIME

Em ato pelos 25 anos da morte de metalúrgico, Ana diz que país vive momento diferente, mas sem "trabalho nem esperança"

Viúva de Santo Dias não vê mudança com Lula

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Os 25 anos da morte do operário Santo Dias da Silva, assassinado por um policial militar quando participava de uma das primeiras greves de metalúrgicos de São Paulo, foram celebrados ontem em passeata que reuniu familiares, amigos e representantes de cerca de 25 ONGs paulistanas.
A marcha, que saiu da Igreja da Consolação e seguiu até a praça da Sé, na região central da cidade, refez o trajeto do cortejo do operário, morto em outubro de 1979.
A viúva de Santo Dias, Ana Dias, 61, que fez discurso bastante emocionado, estava acompanhada por filhos e netos. "Nós não desistimos, a luta continua. Acho que a condição dos trabalhadores hoje está muito pior, não temos trabalho nem esperança. O governo não mudou, apesar de ser dirigido por um metalúrgico, que também sofreu com a repressão", afirmou Ana.
No entanto, ela diz acreditar que o país vive um momento diferente e que há interesse em fazer algo com relação às perdas do regime. "Mas, sinceramente, não vi mudanças", completou. Perguntada sobre a possível abertura dos arquivos da ditadura pelo governo, disse ser a favor, mas não vê resultados práticos: "Acho que devem ser abertos [os arquivos], mas nossa história já está escancarada. Vivemos na pele toda aquela tortura, vai abrir a ferida pra quê? Todo mundo sofreu, eu sofri, a Clarice [Herzog] sofreu... hoje, o que vai adiantar essa abertura, vai resolver o quê?", disse.
O cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Cláudio Hummes, também presente no evento, disse lembrar claramente a comoção da sociedade quando da morte de Santo Dias da Silva. "Foi chocante porque foi era mais uma morte marcada pela repressão da época", disse o cardeal, que exaltou a importância do ato e da luta contra a repressão.
Sobre a abertura dos arquivos, falou: "Há os que defendem que sejam abertos imediatamente. Outros acham que devem ser abertos gradualmente. Creio que isso é uma questão técnica que deve ser discutida profundamente com o governo e com a sociedade, sobretudo com os familiares das vítimas. Eles é que devem chegar a uma conclusão e serem ouvidos em primeiro lugar".
A filha do metalúrgico, Luciana Dias da Silva, 34, escreveu livro sobre a trajetória do pai, "Santo Dias - Quando o Passado Se Transforma em História", baseado em depoimentos e documentos, lançado ontem em evento na Câmara Municipal de São Paulo, com a presença do arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns e do vice-prefeito da cidade Hélio Bicudo.


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