São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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CRIME ORGANIZADO

A maior dívida pertence ao presidente e ao ex-presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso; eles negam

União cobra R$ 88 mi de devedores de Arcanjo

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

A União Federal está cobrando em Mato Grosso R$ 88 milhões de devedores das empresas de factoring do ex-policial João Arcanjo Ribeiro, 53, condenado no fim do ano passado por lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e formação de organização criminosa.
Segundo a AGU (Advocacia Geral da União), a dívida mais alta tem o valor de R$ 30,5 milhões e é dos deputados José Geraldo Riva (PTB) e Humberto Melo Bosaipo (sem partido), respectivamente presidente e ex-presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso. A AGU entrou, nesta semana, com ação de cobrança contra os dois na Justiça Federal.
Além de condenar o ex-policial, o juiz federal Julier Sebastião da Silva também seqüestrou todo o patrimônio dele em favor da União Federal. Segundo a decisão do juiz, as dívidas que as empresas de Arcanjo têm para receber também passaram a fazer parte do patrimônio repassado à União. Por isso, a Justiça mandou a AGU cobrar os devedores.
São cerca de 5.000 cheques, notas promissórias e duplicatas apreendidos nas empresas de factoring no mês de dezembro de 2002, quando foi decretada a prisão de Arcanjo.
Factorings compram notas promissórias e cheques, encarregando-se de cobrá-los.
Ao menos oito factorings de Arcanjo operavam ilegalmente como se fossem bancos, segundo a Justiça Federal. Entre os devedores estão políticos, empresários, comerciantes e pessoas físicas. Há cheques de R$ 100 a R$ 1 milhão.
A maioria dos devedores não operou com as empresas, só emitiu cheques trocados por comerciantes com Arcanjo. Parte da cobrança da União tem sido feita por comunicados enviados aos devedores, sem ações na Justiça.

Deputados
Em carta enviada à AGU, Riva afirma que ele e Bosaipo não devem a Arcanjo. Argumenta que assinou 22 notas promissórias (no valor de R$ 30,5 milhões) para que fornecedores e prestadores de serviço da Assembléia obtivessem empréstimo na factoring.
Como a Assembléia pagou os fornecedores e esses quitaram o débito com a factoring, não existem mais dívidas, diz o deputado.
A Justiça Federal apontou que a Assembléia, então presidida por Bosaipo em revezamento com Riva, depositou na conta da factoring de Arcanjo R$ 80,7 milhões, de 1995 a 2003.
Os depósitos são considerados ilegais pelo Ministério Público Federal e Justiça Federal.


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