São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Dinamismo no Nordeste, região onde o presidente continua popular e favorito à reeleição, tem novo fôlego com ações sociais

Lula e economia ganham com programas

Leo Caldas/Folha Imagem
Pedro Geraldo Silva, que há cinco anos aterra lagoa para plantio de subsistência, com a mulher, Micinéia, e o enteado Luan; eles recebem R$ 95 do Bolsa-Família


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

O Bolsa-Família e os demais programas assistenciais do governo Lula estão dando um impulso considerado "vertiginoso" à venda de produtos de baixa e média rendas no Nordeste. Esse dinheiro e o dinamismo econômico tendem a desaguar a favor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2006.
Nos últimos seis meses, o comércio nos nove Estados do Nordeste apresentou taxas de crescimento até seis vezes maiores do que a média nacional. Enquanto as vendas no Brasil cresceram 4,8% este ano, na Paraíba subiram 28%. Em Pernambuco, 15%.
Na região, empresas lançam produtos e lojas voltadas aos beneficiários dos programas enquanto grandes redes de varejo, como o Wal Mart, detectam aumento de mais de 10% nas vendas de produtos dirigidos à baixa renda. Outras redes mudam estratégias, arrastando o setor publicitário em direção aos mais pobres.
O Nordeste é, proporcionalmente, a região mais beneficiada pelos programas sociais do governo. Embora tenha 28% da população brasileira, responde por 49,4% das famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família. O programa deve chegar ao fim do ano pagando entre R$ 15 e R$ 95 a mais de 8,7 milhões de famílias no país.

Impacto eleitoral
Os nove Estados nordestinos representam o segundo maior colégio eleitoral do país: 27% dos eleitores (ou 33 milhões de pessoas).
Hoje, é no Nordeste onde Lula mantém a maior taxa de aprovação ao seu trabalho como presidente: 37% gostam de seu governo, contra 28% na média nacional, segundo pesquisa Datafolha.
Outros números do Datafolha mostram que a maioria absoluta dos nordestinos (63%) já recebeu ou conhece alguém que teve algum tipo de benefício social -ante 40% na média do país.
Entre as pessoas consultadas pela Folha, o favoritismo do presidente Lula para a disputa de 2006 é indiscutível. Em um eventual segundo turno entre Lula e o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), o presidente só venceria o tucano no Nordeste.

"Salvação dos pobres"
Em visita a uma comunidade miserável em Pernambuco, famílias beneficiárias contaram à Folha como estão gastando a maior parte desse dinheiro: com mais comida, reformas de moradias precárias, roupas de baixíssimo custo e eletrodomésticos básicos.
"Nesta época de seca, principalmente, os programas sociais têm sido a salvação dos mais pobres. Os efeitos dessa renda extra sobre o consumo são surpreendentes", afirma Wilson Andrade, vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia.
Filiado ao PSDB, Andrade considera "inevitável" um impacto eleitoral favorável dos programas ao governo federal em 2006.
O Nordeste é a região que mais concentra pobres no Brasil (cerca de 3,6 milhões de famílias). Segundo estudo da consultoria MB Associados, além de quase 50% do total das famílias pobres atendidas pelos programas de transferência de renda do governo estarem no Nordeste, a região também concentra 47% das famílias miseráveis do país.
Esses números mostram um viés favorável ao Nordeste em termos de famílias atendidas pelos programas.
Além do Bolsa-Família, a região também foi a maior beneficiada pelo aumento real (acima da inflação) de 7% no salário-mínimo autorizado por Lula este ano. O percentual também corrigiu uma série de benefícios como as aposentadorias, pensões rurais e por invalidez.
Esses gastos entram na categoria de assistenciais pelo fato de grande parte dos beneficiados com a renda de até um salário mínimo jamais terem contribuído com o sistema previdenciário, de onde sai o dinheiro que recebem.
Também estão concentrados no Nordeste cerca de 45% de toda a massa de recursos até um salário-mínimo e 35% da massa de beneficiários da Previdência com o mesmo valor. Só o reajuste de 7% em termos reais do mínimo deve injetar cerca de R$ 2,9 bilhões na região durante o ano de 2005.

"Efeitos multiplicadores"
Para o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e sócio-diretor da consultoria Tendências, parte importante da renda do Nordeste vem hoje desses programas, com impactos significativos sobre a demanda. "Os efeitos gerais são multiplicadores", afirma.
Em municípios como Pedra Branca (Ceará) e Vitória de Santo Antão (Pernambuco), por exemplo, os recursos do Bolsa-Família correspondem a cerca de 40% da receita total disponível (considerando receitas próprias mais as transferências constitucionais).
Em outras muitas localidades em toda a região, é a renda dos aposentados e pensionistas que movimenta boa parte da economia local.
A explosão da oferta de créditos consignados também reforça o impacto positivo dos programas sociais sobre a economia.
Camargo avalia que os programas estão ainda "muito mais focalizados e efetivos" na exigência de condicionalidades, como manter filhos na escola ou visitas a postos de saúde.


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