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ELIO GASPARI
Os novos bruxos usam velhos métodos
Os muros de Brasília lembram que, em 1984, uma expedição comandada por um oficial do Centro de Informações do
Exército saiu pela noite pregando
cartazes nos quais Tancredo Neves estava retratado abaixo de
uma foice e martelo com a inscrição: "Chegaremos lá". Os comandantes militares das época obstruíram a investigação e disseram
que nada tinham a ver com a história.
A bruxaria difamatória voltou.
Em benefício do governo, os delinqüentes não foram favorecidos
por qualquer obstrução. O episódio dos cartazes que mostravam a
cabeça do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, no corpo de Adolf
Hitler, pode ajudar a observação
da promiscuidade estabelecida
entre o PT, o governo, o sindicalismo da CUT e os seus esquadrões aparelhados.
Aos fatos, em ordem cronológica:
22 de setembro: Avel de Alencar, 42 anos, funcionário do Serpro, petista desde 1993, diretor-jurídico do Sindicato dos Profissionais em Processamento de Dados
de Brasília, recebe uma mensagem eletrônica de Marcos Wilson,
assessor da liderança da bancada
do PT na Câmara Legislativa da
cidade. Anexa, vai a fotomontagem de Bornhausen/Hitler. Wilson expediu a encomenda usando
o endereço eletrônico de sua filiação partidária (ptcldf.org.b r).
2 de outubro: Em nome da Escola de Formação de Trabalhadores de Informática, Abelmar
Avelar, irmão de Avel, contrata a
impressão de 3.000 cartazes com
a montagem. A EFTI é um pequeno empreendimento ajudado pelo Programa de Expansão Profissional do MEC. Entre os seus
clientes lista a Fundação Banco
do Brasil, seis ministérios, dois tribunais e pelo menos outros dez
fregueses da Viúva. O serviço foi
pago com um cheque pessoal de
Avel no valor R$ 1.060. Ele é o diretor-geral da EFTI.
6 de outubro: Os cartazes são
entregues a Avel. Pelo menos mil
serão guardadas em local ao alcance da direção do Sindicato.
7 de outubro: Lula recebe a bancada petista no Planalto e, referindo-se aos parlamentares acusados de corrupção, diz que "é
preciso ter mais solidariedade,
pois todos são construtores do
PT".
19 de outubro: O repórter Jorge
Bastos Moreno é informado de
que, durante um reunião, Lula teve um descontrole verbal ao reclamar de Bornhausen.
20 de outubro: O ministro do
Trabalho, Luiz Marinho, ex-presidente da CUT, ataca a oposição
e diz que "Bornhausen tem saudades de Hitler".
24 de outubro: Moreno revela
em seu blog a informação que recebera dias antes: "Palavrões
mesmo. Desses capazes de arrepiar o mais desbocado dos desbocados". Na mesma noite o porta-voz do Planalto desmente essa informação. (A pessoa que a deu
não fez o mesmo, chegando a repeti-la em outra oportunidade.)
Durante a madrugada os cartazes, guardados há 18 dias, são colados em muros na Esplanada
dos Ministérios.
25 de outubro: Avel Alencar assume a responsabilidade pela
bruxaria: "Eu mandei fazer a arte
e paguei com meu dinheiro".
No mesmo dia o governo, a
CUT e caciques petistas condenaram a iniciativa. Cristiane Arnaud, presidente do Sindicato dos
Profissionais em Processamento
de Dados, informou: "Nós não o
apoiamos, foi uma coisa só dele".
Em seguida revelou que destruiu
mil cartazes. Falta explicar como,
não tendo nada a ver com a história, podia tomar essa providência.
Talvez interesse aos companheiros o desfecho do caso dos
bruxos de 1984. O oficial cuja tropa fora utilizada, a pedido do
CIE, teve a carreira liquidada pelo silêncio de seus cúmplices.
Lula abriu o Museu
do Nosso Guia
Deve-se aos repórteres Ana
Flor e Lula Marques a revelação
de que o presidente da República
instalou um Museu Lula no mezanino do Palácio do Planalto.
São umas vinte peças, guardadas
num mostruário envidraçado.
Vão desde as fichas de inscrição
do casal Da Silva no PT ao mandado de prisão do "Nosso Guia",
de fevereiro de 1981. A vitrine fica
na passagem de companheiros,
convidados e chefes de Estado
que porventura entrem no gabinete presidencial.
Há lugares como a Casa Branca
ou o Palácio Eliseu, onde se homenageiam os governantes do
passado. Não há notícia de gabinete presidencial onde se glorifique o titular. Se essa idéia ocorreu
a ególatras como Napoleão, Stálin ou Joseph Mobutu, algum assessor devolveu-os à sanidade. (O
casebre de quarto e sala onde Stálin nasceu foi transferido para
uma caixa de vidro, anexa ao museu do Guia Genial, em Gori, na
Geórgia. No Kremlin ele não mexeu.)
A vitrine do Nosso Guia, somada às estrelas petistas plantadas
nos jardins do Alvorada e do Torto, mostram que Lula gosta de se
confundir com o Estado e de confundir o Estado com o PT.
Tem mais
Marcos Valério tem bala para fazer novos e poderosos
estragos no tucanato mineiro. O PT sabe disso e o PSDB
sabe que o PT sabe. Maganos dos dois partidos acreditam que conseguem fazer
uma pizza. É o pessoal que
tentou conceder um habeas-caixa a Eduardo Azeredo.
Adhemar do PT
O filósofo italiano Antonio
Negri, co-autor de "Império", fabuloso trabalho sobre a globalização da economia, trouxe uma contribuição para o debate dos costumes petistas. Referindo-se à
crise por que passa o partido, disse o seguinte: "Pode
ser corrupto, mas é aberto
aos movimentos sociais".
Noves fora a necessidade de
se definir o significado de
"aberto aos movimentos",
Negri dignificou o neo-adhemarismo. Adhemar de
Barros governou São Paulo
por dez anos, entre 1938 e
1966, acompanhado pelo
slogan "rouba mas faz". O
neo-adhemarismo opõe-se
ao pesadelo de um governo
que rouba, mas não faz. Polemista destemido, Negri
penou 14 anos de exílio e dez
de prisão por ter sido considerado um ideólogo da organização terrorista italiana
Brigadas Vermelhas.
Urucubaca
O Tribunal de Contas descobriu que a revista "Brasil"
editada pela Secretaria de
Comunicação do comissário Luís Gushiken mimou
seus fornecedores com pagamentos 75% acima dos
preços do mercado. A Viúva
pode ter perdido uns R$ 5,77
milhões. Essa revista tem
urucubaca. Em novembro
de 2003, ela informou que
no governo de "Nosso Guia"
já funcionava um Conselho
de Transparência Pública e
Combate à Corrupção. Falso. O que funcionava era o
"mensalão". O Conselho
não havia sido formado.
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