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JANIO DE FREITAS
A carta de Lula
Os efeitos que o conforto político de Lula terá, no decorrer do 2º mandato,
por ora são imprevisíveis
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A GRANDE MODIFICAÇÃO que as
eleições trazem ao cenário
político vem da votação em
segundo turno, mas não da vitória de
Lula. Com as decisões para os governos estaduais, a base de apoio dos
governadores à Presidência de Lula
passa a contar com 2/3 deles. Considerada a influência que podem ter
sobre suas bancadas no Congresso, e
já confirmado o PT como segunda
maior presença na Câmara e o volúvel PMDB como primeira, o que sai
das urnas é um pedaço de carta
branca para Lula. Embora o eleitorado, em suas decisões estaduais,
não votasse com tal intenção política, nem sequer ciente de tal possibilidade.
Os efeitos que o extraordinário
conforto político de Lula terá, no decorrer do segundo mandato, por ora
são imprevisíveis. E o provável é que
o sejam ainda por bom tempo. Que
reformas Lula pretenderá fazer? Em
que sentido e com que alcance? Ou,
antes, pretenderá fazer reformas
verdadeiras ou continuará se valendo de pretextos para delas fugir, na
mesma direção dos conservadores?
Os programas, a propaganda eleitoral gratuita e os debates foram
criados para proporcionar respostas
preliminares a perguntas assim.
Mas ainda não cumpriram sua finalidade nas eleições do nosso pós-ditadura. Collor ia usar mão forte contra a inflação e, eleito, usou-a contra
as economias da população e os salários. O candidato Fernando Henrique nunca falou em privatização, arrocho salarial e de aposentadorias,
amputação do dispositivo burocrático e do corpo docente universitário.
Lula ia mudar o país, só mudou ele
mesmo.
Uma de suas raras antecipações
menos vagas, na campanha recente,
teve relação com a base de apoio que
recebesse, ainda sem imaginar qual
seria. Bem de acordo com o Lula auto-reformado, a menção se fez em
um sentido no primeiro turno e em
sentido oposto no segundo. Em alguma altura, foi a afirmação sensata
e promissora de que, se eleito, a
composição do governo não mais se
faria por considerações partidárias,
mas por critérios de qualidade, e seria feita por ele, Lula. Na última semana do segundo turno, informou
que a montagem do governo obedeceria com rigor à composição das
forças políticas. Ou seja, basicamente, da Câmara, a catedral do fisiologismo.
Com a base política que recebe
dos governos estaduais e da distribuição de forças no Congresso, seria
melhor que Lula vencesse Alckmin
com vantagem menos larga, para
dosar um pouco mais a presunção e
a suficiência -em seu e em nosso
benefício. Margem pequena, porém,
talvez esquentasse os ânimos dos
que sonham, digam-no ou não, com
as ações judiciais visando ao impeachment.
Por fim, registro indispensável:
que surra espetacular levou o PFL,
levado à lona no primeiro turno e
nocauteado no segundo. Apesar disso, as deduções já tiradas, sobre o
seu futuro ou falta de, são precipitações do jornalismo.
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