São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

A carta de Lula


Os efeitos que o conforto político de Lula terá, no decorrer do 2º mandato, por ora são imprevisíveis

A GRANDE MODIFICAÇÃO que as eleições trazem ao cenário político vem da votação em segundo turno, mas não da vitória de Lula. Com as decisões para os governos estaduais, a base de apoio dos governadores à Presidência de Lula passa a contar com 2/3 deles. Considerada a influência que podem ter sobre suas bancadas no Congresso, e já confirmado o PT como segunda maior presença na Câmara e o volúvel PMDB como primeira, o que sai das urnas é um pedaço de carta branca para Lula. Embora o eleitorado, em suas decisões estaduais, não votasse com tal intenção política, nem sequer ciente de tal possibilidade.
Os efeitos que o extraordinário conforto político de Lula terá, no decorrer do segundo mandato, por ora são imprevisíveis. E o provável é que o sejam ainda por bom tempo. Que reformas Lula pretenderá fazer? Em que sentido e com que alcance? Ou, antes, pretenderá fazer reformas verdadeiras ou continuará se valendo de pretextos para delas fugir, na mesma direção dos conservadores?
Os programas, a propaganda eleitoral gratuita e os debates foram criados para proporcionar respostas preliminares a perguntas assim. Mas ainda não cumpriram sua finalidade nas eleições do nosso pós-ditadura. Collor ia usar mão forte contra a inflação e, eleito, usou-a contra as economias da população e os salários. O candidato Fernando Henrique nunca falou em privatização, arrocho salarial e de aposentadorias, amputação do dispositivo burocrático e do corpo docente universitário. Lula ia mudar o país, só mudou ele mesmo.
Uma de suas raras antecipações menos vagas, na campanha recente, teve relação com a base de apoio que recebesse, ainda sem imaginar qual seria. Bem de acordo com o Lula auto-reformado, a menção se fez em um sentido no primeiro turno e em sentido oposto no segundo. Em alguma altura, foi a afirmação sensata e promissora de que, se eleito, a composição do governo não mais se faria por considerações partidárias, mas por critérios de qualidade, e seria feita por ele, Lula. Na última semana do segundo turno, informou que a montagem do governo obedeceria com rigor à composição das forças políticas. Ou seja, basicamente, da Câmara, a catedral do fisiologismo.
Com a base política que recebe dos governos estaduais e da distribuição de forças no Congresso, seria melhor que Lula vencesse Alckmin com vantagem menos larga, para dosar um pouco mais a presunção e a suficiência -em seu e em nosso benefício. Margem pequena, porém, talvez esquentasse os ânimos dos que sonham, digam-no ou não, com as ações judiciais visando ao impeachment.
Por fim, registro indispensável: que surra espetacular levou o PFL, levado à lona no primeiro turno e nocauteado no segundo. Apesar disso, as deduções já tiradas, sobre o seu futuro ou falta de, são precipitações do jornalismo.


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