São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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Investigação sobre Zeca do PT alcança Delcídio e deputados

Livro apreendido por promotores indica pagamentos mensais a parlamentares

Segundo Ministério Público, esquema de caixa dois no Mato Grosso do Sul teria desviado R$ 30 milhões em verba de publicidade

HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na investigação sobre esquema de caixa dois supostamente comandado por Zeca do PT, que governou o Mato Grosso do Sul de 1999 a 2006, o Ministério Público Estadual apreendeu livro com anotações de pagamentos mensais atribuídos ao senador Delcídio Amaral (PT-MS) e a dois deputados federais petistas do Estado, Vander Loubet e Antônio Carlos Biffi.
O esquema, segundo o Ministério Público, desviou R$ 30 milhões em verbas de publicidade durante o governo de Zeca. A suspeita dos promotores é de que o dinheiro desviado tenha sido usado para pagamento aos parlamentares citados no livro. Os três negam.
Raufi Marques, ex-secretário de Governo de Zeca do PT, disse à Folha que pediu à sua então secretária e ordenadora de despesas Salete Terezinha de Luca que fizesse as anotações. O livro foi apreendido na casa de Salete. Raufi afirma, porém, que as anotações se referiam a campanhas eleitorais e à disputa interna pela direção estadual do PT. "Não tinha nada a ver com o governo. Preciso analisar para ver a que se referem."
Por causa do suposto esquema, o ex-governador foi denunciado pelo Ministério Público por peculato (desvio de dinheiro público) em duas ações diferentes. Ontem, a Justiça Estadual aceitou ambas.
A lista de supostos pagamentos ainda inclui, conforme a Promotoria, deputados estaduais, o presidente estadual do PT, Mariano Cabreira, e o ex-deputado federal João Grandão (PT-MS). Os pagamentos mensais teriam ocorrido de agosto de 2004 a abril de 2005.
O promotor Marcos Antônio Martins Sottoriva disse que encaminhou na semana passada o livro com anotações para a Procuradoria Geral da República em Brasília, que pode pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) investigação contra deputados e senadores -com foro privilegiado, não podem ser investigados em nível estadual.
O Ministério Público também fará uma perícia no livro, que já foi anexado à ações penais movidas contra o ex-governador na Justiça de MS.
No livro, segundo os promotores, aparece anotado o seguinte: "dep. Biffi, dep Vander, dep João Grandão, sen Delcídio". Ao lado de cada nome, aparece escrito "25.0", que os promotores dizem acreditar ser o valor de R$ 25 mil.
Conforme a denúncia, Zeca do PT e Raufi Marques pediam à funcionária do governo Ivanete Leite Martins que procurasse agências de publicidade que tivessem contratos públicos para "levantar dinheiro".
Após não conseguir ajuda de petistas para conseguir emprego e fazer o tratamento de saúde da mãe, Martins procurou a imprensa no início do ano para revelar o suposto esquema, que funcionaria da seguinte forma:
Agências de publicidade apresentavam orçamento falso para prestar os serviços encomendados pelo governo, como, por exemplo, a confecção de cartilhas educativas.
O trabalho não era feito, mas gráficas em acordo com as agências apresentavam notas frias para cobrar pelo serviço -segundo a Promotoria, com o conhecimento de Zeca do PT. O governo pagava pelo trabalho. A agência ficava com 15% do valor e a gráfica com até 17%. O resto do dinheiro voltaria ao gabinete do governador em esquema de caixa dois para pagamentos, diz a Promotoria.


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