São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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PSDB precisa definir candidato em bandejão, diz Aécio

Governador ironiza o jantar no restaurante Massimo, em 2006, no qual os líderes do partido discutiram quem seria o presidenciável

Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O governador de Minas, Aécio Neves, e o técnico Dunga deixam o hotel em Zurique para participar de um almoço na sede da Fifa


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

Desta vez, a candidatura do PSDB à Presidência da República tem que ser definida "no mínimo num bandejão".
Ironia do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, óbvio candidato a ser o preferido nesse hipotético "bandejão", para referir-se à famosa foto de quatro cardeais tucanos reunidos no luxuoso restaurante Massimo, em São Paulo, para discutir quem seria o nome do partido para o pleito de 2006.
A ironia é a maneira que encontra o governador, hábil e cauteloso como boa parte dos políticos mineiros, para dizer que "candidaturas têm que ser construídas" e que "qualquer candidatura presidencial tem que ter razoável dose de naturalidade". O jantar no Massimo, do qual Aécio participou, refletiu uma maneira elitista demais e, por extensão, pouco "natural" de construir uma candidatura. Aécio, hoje, reconhece: "Em determinados momentos, Serra e Alckmin não foram candidatos naturais". Como foram os dois mais recentes candidatos tucanos à Presidência, o governador acredita que o partido "apanhou tanto que não vai entrar em aventuras" desta vez. "O PSDB vai estar unido até porque tem juízo", acha Aécio.
Unido em torno dele próprio ou de Serra? "Não é hora de falar em candidaturas. Candidaturas são muito mais que um projeto pessoal. Estaremos juntos construindo uma alternativa para o Brasil", responde.
Nesse ponto, Serra está de acordo. Entrou na conversa com os jornalistas muitas horas depois, mas sempre no Hotel Marriott de Zurique, onde ambos se hospedam, convidados da CBF para a cerimônia de hoje em que será oficializada a indicação do Brasil para organizar a Copa de 2014. Mas, ao fazê-lo, Serra tomou o mesmo rumo, dividido em três pedaços:
1 - É cedo para falar em candidaturas. 2 - "Estaremos unidos." 3 - "Dentro do PSDB, Aécio e eu vamos estar juntos."
Nem tanto, a julgar pela avaliação que Aécio faz sobre a disputa municipal em São Paulo em 2008. Dando palpite em terra alheia, o mineiro afirma: "Ouso dizer que é muito natural que o PSDB tenha candidato próprio, ainda mais tendo um nome como o do Geraldo".
Serra, na sua vez, nega terminantemente que esteja apoiando a candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM): "Nunca ninguém me ouviu dizer que apóio o Gilberto". Pode ser verdade, mas o fato é que no PSDB paulista e paulistano há um virtual consenso de que Serra trabalha pela candidatura Kassab, ao passo que Alckmin corre em faixa própria e não esconde o desejo de ser candidato.
Serra evitou ao máximo falar de política. Queria restringir-se aos projetos de São Paulo para a Copa 2014. Aécio, ao contrário, não só falou com gravadores ligados como, depois de desligados, ficou um longo tempo em bate-papo informal com os jornalistas. Do pouco que Serra falou e do muito que disse Aécio, emerge outro ponto comum: a crítica de ambos ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Aécio critica-o por "estar perdendo uma ótima oportunidade para fazer reformas importantíssimas" (a reforma política, a trabalhista, a tributária). Serra critica o fato de o governo ter adotado "medidas de incentivo à entrada de dólares quando há abundância da moeda norte-americana".
O fato de o ano de 2007 ter sido perdido "sem falar em reformas fundamentais" faz Aécio acreditar que o governo não as fará: "Todo governo perde capital e força política a partir de sua segunda metade", diz.
E assume uma eventual candidatura: "Se as circunstâncias surgirem, tenho que estar preparado para elas". Completa: "Sou um instrumento de unidade, pronto a ajudar qualquer candidato que tenha condições de tocar essas reformas". Mas o mineiro quer uma aliança "ampla", sem a qual acha que "ninguém ganha nem governa".
Uma aliança em que cabe até mesmo o PT, ainda que tangencialmente: "Acho que ainda é possível -e não em tempo distante- a consolidação de uma aliança que possa trazer para perto PT e PSDB". O problema é que essa aproximação esbarra no fato de que os dois partidos são "um pouco reféns da força dos nomes de São Paulo". Implicação óbvia, mas não explicitada na conversa: um nome de Minas resgataria os "reféns".


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