São Paulo, sexta-feira, 30 de outubro de 2009

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Comissão aprova Venezuela no Mercosul sem ressalvas

Em Caracas, presidente Lula afirma que votação mostra maturidade de senadores

Texto contrário à adesão é rejeitado por 11 a 5; decisão ainda vai a plenário; para governistas, mídia distorce dados sobre governo Chávez


ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após 12 meses de discussão, o governo conseguiu aprovar, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ingresso da Venezuela no Mercosul sem nenhuma ressalva ao protocolo de adesão assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez. Na próxima semana, a discussão seguirá para o plenário, que dará a última palavra sobre o assunto.
Em Caracas, Lula elogiou a aprovação. Segundo o presidente, os senadores brasileiros "amadureceram e a grande maioria soube entender a importância desta iniciativa".
Para Lula, o Mercosul ficará mais forte economicamente, comercialmente e politicamente. "Espero que um dia todos os países da América do Sul estejam no Mercosul." O presidente participaria de jantar com Chávez ontem.
O relatório do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), contrário à adesão, foi rejeitado por 11 votos a 5, com uma abstenção. Na sequência, foi votado o substitutivo do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), este favorável ao ingresso da Venezuela, aprovado por 12 a 5.
A Venezuela é o primeiro país a pedir para ingressar formalmente no Mercosul após 18 anos de formação do bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Os Congressos da Argentina e do Uruguai já aprovaram a adesão. Faltam os de Brasil e Paraguai. A discussão no Brasil se arrasta desde 2007.
Ao ingressar no bloco, a Venezuela ganhará o direito de participar com voto das deliberações, o que significa dizer que o país de Chávez poderá vetar acordos comerciais futuros, mas não poderá deliberar sobre o que já está negociado.
A oposição tentou cansar os governistas para mudar o resultado. Foram mais de quatro horas de reunião, grande parte destinada a discutir requerimento que previa viagem dos congressistas a Caracas.
"Não tem sentido ir à Venezuela para cobrar de Chávez se ele vai ou não cumprir sua palavra", respondeu Jucá, referindo-se à intenção da oposição de cobrar um compromisso do venezuelano com cláusulas democráticas. O relatório aprovado diz que as informações sobre o governo venezuelano são distorcidas pela "imprensa sensacionalista" e por organismos internacionais, como a OEA (Organização dos Estados Americanos), que seria uma catástrofe para o Brasil rejeitar o ingresso da Venezuela devido a questões comerciais e acusa a oposição de querer politizar a discussão de olho nas eleições de 2010.
Os oposicionistas pretendem explorar na campanha a amizade entre Lula e Chávez e o que dizem ser complacência do governo com atitudes do venezuelano, como a perseguição a inimigos políticos e à mídia. "Chávez é exportador de ditadura e de populismo", disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
Os governistas responderam que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já apoiou o ingresso da Venezuela no bloco. "Chávez chamava Fernando Henrique de "mi maestro'", diz Jucá no relatório.
A mudança no discurso do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que passou a defender a adesão como forma de evitar o isolamento do país e garantir a democracia, também foi usada como argumento.
A última tentativa da oposição de evitar a derrota foi propor a junção dos relatórios, o que resultaria num terceiro texto aprovando o ingresso, mas com ressalvas. Isso garantiria condicionar a participação da Venezuela a Chávez aceitar, por exemplo, a presença de comissões de direitos humanos no país. "Nem pensar", disse Jucá, certo de que aprovará a adesão também no plenário.

Colaborou SIMONE IGLESIAS, enviada a Caracas



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