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Comissão aprova Venezuela no Mercosul sem ressalvas
Em Caracas, presidente Lula afirma que votação mostra maturidade de senadores
Texto contrário à adesão é rejeitado por 11 a 5; decisão ainda vai a plenário; para governistas, mídia distorce dados sobre governo Chávez
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após 12 meses de discussão,
o governo conseguiu aprovar,
na Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ingresso da
Venezuela no Mercosul sem
nenhuma ressalva ao protocolo
de adesão assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva
e Hugo Chávez. Na próxima semana, a discussão seguirá para
o plenário, que dará a última
palavra sobre o assunto.
Em Caracas, Lula elogiou a
aprovação. Segundo o presidente, os senadores brasileiros
"amadureceram e a grande
maioria soube entender a importância desta iniciativa".
Para Lula, o Mercosul ficará
mais forte economicamente,
comercialmente e politicamente. "Espero que um dia todos os países da América do Sul
estejam no Mercosul." O presidente participaria de jantar
com Chávez ontem.
O relatório do senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE), contrário à adesão, foi rejeitado por 11
votos a 5, com uma abstenção.
Na sequência, foi votado o
substitutivo do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR),
este favorável ao ingresso da
Venezuela, aprovado por 12 a 5.
A Venezuela é o primeiro
país a pedir para ingressar formalmente no Mercosul após 18
anos de formação do bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Os Congressos da Argentina
e do Uruguai já aprovaram a
adesão. Faltam os de Brasil e
Paraguai. A discussão no Brasil
se arrasta desde 2007.
Ao ingressar no bloco, a Venezuela ganhará o direito de
participar com voto das deliberações, o que significa dizer que
o país de Chávez poderá vetar
acordos comerciais futuros,
mas não poderá deliberar sobre
o que já está negociado.
A oposição tentou cansar os
governistas para mudar o resultado. Foram mais de quatro
horas de reunião, grande parte
destinada a discutir requerimento que previa viagem dos
congressistas a Caracas.
"Não tem sentido ir à Venezuela para cobrar de Chávez se
ele vai ou não cumprir sua palavra", respondeu Jucá, referindo-se à intenção da oposição de
cobrar um compromisso do venezuelano com cláusulas democráticas.
O relatório aprovado diz que
as informações sobre o governo
venezuelano são distorcidas
pela "imprensa sensacionalista" e por organismos internacionais, como a OEA (Organização dos Estados Americanos), que seria uma catástrofe
para o Brasil rejeitar o ingresso
da Venezuela devido a questões
comerciais e acusa a oposição
de querer politizar a discussão
de olho nas eleições de 2010.
Os oposicionistas pretendem
explorar na campanha a amizade entre Lula e Chávez e o que
dizem ser complacência do governo com atitudes do venezuelano, como a perseguição a
inimigos políticos e à mídia.
"Chávez é exportador de ditadura e de populismo", disse o
presidente do PSDB, Sérgio
Guerra (PE).
Os governistas responderam
que o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso já apoiou o
ingresso da Venezuela no bloco. "Chávez chamava Fernando
Henrique de "mi maestro'", diz
Jucá no relatório.
A mudança no discurso do
prefeito de Caracas, Antonio
Ledezma, que passou a defender a adesão como forma de
evitar o isolamento do país e
garantir a democracia, também
foi usada como argumento.
A última tentativa da oposição de evitar a derrota foi propor a junção dos relatórios, o
que resultaria num terceiro
texto aprovando o ingresso,
mas com ressalvas. Isso garantiria condicionar a participação
da Venezuela a Chávez aceitar,
por exemplo, a presença de comissões de direitos humanos
no país. "Nem pensar", disse
Jucá, certo de que aprovará a
adesão também no plenário.
Colaborou SIMONE IGLESIAS, enviada a Caracas
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