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Terra Legal proíbe venda a estrangeiros
Decreto de Lula que regulamenta programa de regularização fundiária só permite a venda de terra legalizada a brasileiros
Projeto que visa legalizar 67,4 milhões de hectares
na Amazônia Legal obriga proprietário a manter ou recuperar área de reserva
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Lula utilizou a regulamentação do processo de
regularização fundiária para
restringir a compra de terras
por estrangeiros na Amazônia.
Pela nova regra, os beneficiados pelo programa Terra Legal
(pequenos e médios proprietários) poderão vender os seus títulos de posse só para brasileiros -natos ou naturalizados. A
venda do lote também terá restrições caso o comprador já tenha outro pedaço de terra.
As regras fazem parte de um
decreto de Lula que regulamenta o Terra Legal, programa
criado neste ano pelo governo
por medida provisória. A MP
não criava impedimento aos estrangeiros. Isso veio agora, com
a definição das regras do programa, que tem como meta regularizar cerca de 300 mil posses localizadas em áreas da
União na Amazônia Legal (região Norte, MT e parte do MA).
A Amazônia Legal tem cerca
de 500 milhões de hectares, e o
Terra Legal pretende regularizar áreas que, somadas, chegam
a 67,4 milhões de hectares. Reportagem de anteontem da Folha revelou que o programa já
detectou tentativas de uso de
laranjas (intermediários usados para ocultar a identidade
dos verdadeiros proprietários),
falta de estrutura e boicotes de
fazendeiros e administradores.
Pelo projeto, a titulação será
gratuita para áreas de até um
módulo fiscal. Posseiros de pequenas propriedades (de 1 a 4
módulos) pagarão um preço
abaixo do valor de mercado em
até 20 anos, e os de médias propriedades (de 4 a 15 módulos
fiscais), o valor de mercado.
O pequeno proprietário beneficiado só poderá negociar
sua gleba após dez anos da titulação, e o médio proprietário,
após três anos. A venda não poderá ser feita a estrangeiros ou
a quem já for dono de outra
propriedade rural que, somada
à nova, ultrapasse os 15 módulos fiscais (1.500 hectares).
O decreto também impõe
restrições ambientais. Para receber o título, o proprietário terá se comprometer em recuperar ou manter a área de reserva
legal do terreno, além de identificar e recuperar áreas de preservação permanente -margens de rios e topos de morros.
A ideia do governo de limitar
a entrada de estrangeiros na
Amazônia é antiga. Ela chegou
a ser ensaiada em 2008, mas foi
descartada na crise, para não
frear os investimentos no país.
Finda a crise, o governo trabalha em outras duas frentes
para ampliar as restrições a investidores de outros países na
Amazônia Legal. Segundo a
atual legislação (1971), a terra
em nome de estrangeiros não
pode superar 50 Módulos de
Exploração Indefinida. Cada
módulo varia de 5 a 100 hectares, o que limita as áreas de estrangeiros a 5.000 hectares.
A primeira opção do governo
é um projeto de lei elaborado
parado na Casa Civil aguardando a definição de Lula. Segundo
o texto, o limite de propriedade
de estrangeiros cairia de 5.000
hectares (áreas contínuas e não
contínuas) para 1.500 hectares
(áreas contínuas) e 3.000 hectares (áreas não contínuas).
A outra opção do governo é
operar na tramitação de um
projeto no Congresso que limita a compra de propriedades
por estrangeiros a 15 módulos
fiscais (1.500 hectares). O texto,
aprovado recentemente na Câmara, está agora no Senado.
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