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ECOS DO REGIME
Comissão inicia hoje análise sobre liberação dos documentos
Deputado quer abertura de arquivos
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os arquivos da ditadura precisam ser abertos para mostrar o
que ocorreu no período (1964-1985) e acabar com a cultura de
glorificar o regime militar. Essa é a
opinião do deputado Mário Heringer (PDT-MG), presidente da
Comissão de Arquivos da Ditadura da Câmara, cujos trabalhos começam hoje.
Segundo ele, os argumentos
apresentados para desestimular a
abertura não são válidos porque
as vítimas não serão expostas e os
culpados não serão apontados.
"O que sobrou da ditadura é a
cultura que foi transmitida, mesmo não tendo a mesma força da
época. A abertura dos arquivos é a
forma de frear a continuidade
desse tipo de cultura", disse. "O
que era feito tem que vir à tona.
Não é só contar uma história. A
história tem que educar", completou, referindo-se ao ufanismo
do regime militar que poderia estar sendo propagado no ensino
do setor até hoje.
À Folha, o ministro do Gabinete
de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, disse ser
contra a abertura dos documentos. Chegou a dizer que "não há
nada bonito ali" e justificou dizendo que gostaria de poupar
perseguidos, e não torturadores.
Ontem, o Exército informou
que não iria se pronunciar.
Os cinco deputados da comissão devem se encontrar hoje para
analisar o decreto presidencial
que mantém documentos sob sigilo de Estado -o primeiro entrave. Além disso, o grupo irá definir as normas para a abertura.
Nesta semana, o Executivo também começará a trabalhar com o
assunto. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) irá se reunir
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva para definir um grupo de
trabalho interministerial para estudar a abertura dos arquivos.
Segundo Heringer, as reuniões
serão conjuntas entre os dois Poderes, para facilitar o consenso
nas decisões e garantir a implementação. "Há pressa, mas não
haverá atropelos", disse o deputado, que deu prazo de seis meses
para o fim dos trabalhos.
A preocupação com a preservação das vítimas é resultado da divulgação de fotos de um homem
nu, que chegou a ser identificado
como o jornalista Vladimir Herzog. As imagens eram, na verdade, de um padre canadense.
Sobre revanchismos, Heringer é
categórico: "Já se passaram 40
anos do golpe. Quem era tenente
em 1964 está reformado hoje. Já é
tempo suficiente".
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