São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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ECOS DO REGIME

Comissão inicia hoje análise sobre liberação dos documentos

Deputado quer abertura de arquivos

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os arquivos da ditadura precisam ser abertos para mostrar o que ocorreu no período (1964-1985) e acabar com a cultura de glorificar o regime militar. Essa é a opinião do deputado Mário Heringer (PDT-MG), presidente da Comissão de Arquivos da Ditadura da Câmara, cujos trabalhos começam hoje.
Segundo ele, os argumentos apresentados para desestimular a abertura não são válidos porque as vítimas não serão expostas e os culpados não serão apontados.
"O que sobrou da ditadura é a cultura que foi transmitida, mesmo não tendo a mesma força da época. A abertura dos arquivos é a forma de frear a continuidade desse tipo de cultura", disse. "O que era feito tem que vir à tona. Não é só contar uma história. A história tem que educar", completou, referindo-se ao ufanismo do regime militar que poderia estar sendo propagado no ensino do setor até hoje.
À Folha, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, disse ser contra a abertura dos documentos. Chegou a dizer que "não há nada bonito ali" e justificou dizendo que gostaria de poupar perseguidos, e não torturadores.
Ontem, o Exército informou que não iria se pronunciar.
Os cinco deputados da comissão devem se encontrar hoje para analisar o decreto presidencial que mantém documentos sob sigilo de Estado -o primeiro entrave. Além disso, o grupo irá definir as normas para a abertura.
Nesta semana, o Executivo também começará a trabalhar com o assunto. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) irá se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para definir um grupo de trabalho interministerial para estudar a abertura dos arquivos.
Segundo Heringer, as reuniões serão conjuntas entre os dois Poderes, para facilitar o consenso nas decisões e garantir a implementação. "Há pressa, mas não haverá atropelos", disse o deputado, que deu prazo de seis meses para o fim dos trabalhos.
A preocupação com a preservação das vítimas é resultado da divulgação de fotos de um homem nu, que chegou a ser identificado como o jornalista Vladimir Herzog. As imagens eram, na verdade, de um padre canadense.
Sobre revanchismos, Heringer é categórico: "Já se passaram 40 anos do golpe. Quem era tenente em 1964 está reformado hoje. Já é tempo suficiente".


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