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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU
Planalto articula com líderes da base aliada redução de quórum para evitar cassação; Lula já não crê que "degola" de deputado esfriaria crise
Governo quer sessão vazia para salvar Dirceu
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diferentemente de quatro meses atrás, quando tinha interesse
na cassação de José Dirceu (PT-SP) para acelerar o desfecho da
crise, o governo atua discretamente para ajudar o ex-ministro a
se salvar ou, no mínimo, a perder
o mandato de deputado por placar que não seja humilhante e que
lhe permita entoar o discurso de
vítima de vingança política.
O ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) tem deixado claro em conversas com líderes de partidos aliados que a cassação de Dirceu não é mais boa
notícia para o Planalto. Essa avaliação estimulou a cúpula do PT a
fazer uma operação de última hora para tentar salvar o deputado.
A articulação do governo e do
PT consiste em pedir que setores
das legendas que apóiam o governo não compareçam à sessão em
que será votada a cassação do
mandato do deputado. Acusado
de ser um dos responsáveis pelo
esquema do "mensalão", Dirceu
nega, dizendo não haver provas.
Dirceu deverá contar com apoio
de PT, PSB e PC do B. Os partidos
de oposição tendem a votar pela
cassação. Dirceu dependerá dos
votos das legendas mais envolvidas no "mensalão" (PP, PL e
PTB), além do PMDB. Quanto
menor o quórum, maior a chance
de Dirceu. Há possibilidade de a
votação ocorrer hoje, caso o Supremo Tribunal Federal não decida pela refeitura de parte do processo no Conselho de Ética.
Para cassá-lo, são necessários ao
menos 257 votos, número que a
oposição só alcançará se tiver
apoio de segmentos dos partidos
aliados. Como o voto é secreto,
quem votar a favor de Dirceu não
seria exposto a crítica pública.
Contra Dirceu pesam as avaliações de líderes partidários de que
a opinião pública exige sua cassação e de que a Câmara será muito
criticada se o salvar. Um sentimento de autopreservação da Casa tornaria a cassação provável.
Nas palavras de um auxiliar do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há um "fio de esperança" para
Dirceu. Quatros meses atrás, Lula
e auxiliares avaliavam que entregar a cabeça de Dirceu arrefeceria
a crise desencadeada pela entrevista de Roberto Jefferson à Folha, dada no início de junho.
A avaliação no Planalto é que
pouco adiantará sacrificá-lo, já
que o ministro Antonio Palocci
(Fazenda) veio para o centro da
crise e o próprio Lula é alvo da
oposição. O PT tem dito que salvar Dirceu reforçaria o discurso
de que não houve "mensalão".
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