São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Pode comemorar

Foi manchete do "Jornal da Record" de Boris Casoy ao "Jornal Nacional" de William Bonner, no dia anterior, com enunciados como "miséria caiu 8%". Mas ontem Lula queria mais, queria "bumbo".
Na manchete da Folha Online, com enunciado semelhante no Globo Online, UOL, Terra, iG e até no Google Notícias, também nos canais de notícias e depois nos telejornais, "Política econômica não atrapalha social".
 
"Lula pode comemorar", dizia Gilberto Dimenstein na home da Folha Online, justificando:
- A julgar por todos os dados disponíveis, pelo menos até o fim do próximo ano esses dados devem melhorar, levando-se em conta crescimento, expansão do Bolsa-Família e a elevação, neste ano, do mínimo em 9%.
Ao que interessa:
- Traduzindo politicamente, Lula terá o que apresentar para tentar a reeleição em 2006.
O blog de Josias de Souza fez avaliação semelhante ao falar da "redução da taxa de miséria":
- Combinando-se esse dado com a retomada do crescimento em 2006, Lula ganha discurso consistente para apresentar em sua campanha reeleitoral. Para desespero do tucanato.
 
Mais até do que Lula, quem "bateu bumbo" o dia todo foi o ministro Patrus Ananias.
Ele vinha da semana anterior, nos sites Carta Maior e Adital, dizendo que o Bolsa-Família "não é assistencialismo" e sim "construção de direitos".
Ontem foi além, na cobertura on-line, e arredondou "três anos consecutivos, no governo do presidente Lula, com a miséria caindo, refletindo nosso acerto". Lembrou até o Fome Zero, "eixo condutor das políticas sociais" -e, nos intervalos comerciais, a maior bandeira reeleitoral.

TURBULÊNCIA

Sai hoje o que o blog de Fernando Rodrigues anuncia como "fundo do poço na perda de prestígio de Palocci". O IBGE divulga "o crescimento (ou a queda) do PIB".
Mas até aí o ministro andou ganhando fôlego, ontem, com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico fazendo "previsão favorável de crescimento do Brasil a médio prazo", segundo a agência Dow Jones. Fez mais por Palocci, a OCDE. Listou, como riscos ao crescimento do país, a inflação, a eleição e a crise:
- A turbulência devida a acusações no financiamento de campanha está atrapalhando o calendário legislativo.
A "turbulência" prosseguia ontem, com depoimentos de Palocci e um assessor em transmissão ao vivo por Globo News, Band News e TV Câmara e pelos portais, a ponto de Tutty Vasques sair reclamando, no noblog:
- Fuja. Não perca o seu tempo com essa chatice.
Chatice ou não, lá estava na escalada do "JN", depois.
 
Sobre OCDE, manchete no "Financial Times" e outros, registre-se ainda a pressão da organização sobre a União Européia, por maior corte no subsídio agrícola. Pressão que o próprio representante europeu, Peter Mandelson, no alemão "Berliner Zeitung", transferiu para a França.

"BENGALADAS"

Reprodução

Enquanto Palocci surgia beijando criancinha nos telejornais, José Dirceu era agredido nas imagens feitas ontem por Globo (à esq.), Band e TV Câmara. Foi "atacado a golpes de bengala", na manchete irônica do "JN", por "idoso nervoso", no enunciado irônico do Globo Online. Dos blogs aos telejornais, sobrou sarcasmo. Só os algoritmos do Google Notícias deram em manchete que, "para Dirceu, agressão reflete clima hostil gerado" contra ele.

Em campanha 1
Estava na capa do "Valor", "Serra e Alckmin disputam a periferia de São Paulo". E no texto, sobre os presidenciáveis prefeito e governador:
- Além de manter os CEUs, Serra vai construir mais cinco no padrão. Em sete distritos, os CEUs terão como vizinhos a Fábrica de Cultura, o projeto semelhante de Alckmin.

Em campanha 2
Marta Suplicy ressurgiu e se lançou ao governo de SP. Ato contínuo, Aloizio Mercadante deu entrevista à Band:
- O Estado de São Paulo é o mais importante do país. É a locomotiva, tem a melhor base industrial, agrícola, científica, universidades de ponta, pólo de serviços, as comunicações, sistema financeiro. Um Estado espetacular. Me sentiria muito orgulhoso se pudesse exercer a função [de governador].

Operação
Sites no exterior, como o "NYT", mal cobriram. Mas por aqui a Globo bombardeou que "Bush citou o combate à entrada de brasileiros como exemplo de sucesso da política contra imigração ilegal".
É que também foi dia de uma tal Operação América, tirada do nome da novela e realizada pela Polícia Civil e Ministério Público de SP -além, é claro, das câmeras da Globo.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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