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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO
Deputados ligados a Garotinho fizeram lobby para Prece não ter sigilos quebrados por CPI
SPC vê prejuízo intencional em fundo de estatal do Rio
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A SPC (Secretaria de Previdência Complementar) lavrou auto
de infração contra a Prece (fundo
de pensão dos funcionários da
Cedae, companhia estadual de saneamento do Rio), na semana
passada, por operações realizadas
no mercado financeiro "com o intuito de prejudicar" os participantes da fundação.
A secretaria identificou transações feitas entre 2004 e 2005 que
resultaram em "injustificado prejuízo" à fundação. A Prece é um
dos fundos de pensão investigados pela CPI dos Correios por
suspeitas de desvio de recursos
para atender a interesses políticos
e motivo de desentendimento entre integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito e deputados da bancada do ex-governador
Anthony Garotinho na Câmara,
como Carlos Willian (PMDB-MG) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
De acordo com a investigação
da SPC, quatro fundos de investimento exclusivos da Prece movimentaram entre 17 de fevereiro de
2004 e 23 de agosto de 2005
R$ 99,33 milhões em CVSB, um
tipo de moeda podre de privatização emitida pelo Tesouro Nacional em 1997.
Segundo a SPC, na maioria das
vezes em que adquiriram esses
papéis, os fundos da Prece os
compraram pelo valor máximo
de mercado. Quando se desfaziam deles, os vendiam recorrentemente pelo valor mínimo.
Nos 49 dias em que comprou os
títulos, em 33 os adquiriu pelo valor máximo de mercado. "A contumácia de compras efetuadas
pelo preço máximo, representando um acréscimo que oscila entre
70% e 150% sobre o preço mínimo praticado no dia, mostra que
os negócios foram conduzidos
pelos gestores com o intuito de
prejudicar a Prece", ressaltaram
os técnicos da secretaria.
No começo deste mês, os deputados Eduardo Cunha e Carlos
Willian (sub-relator da CPI para a
área de seguros) procuraram o
presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Disseram
ao senador que a razão para incluir a fundação da Cedae na lista
dos fundos de pensão seria para
prejudicar o ex-governador Garotinho, uma vez que o alvo da CPI
eram fundações federais e não estaduais, como a Prece.
Há uma divergência de versões
sobre um dos pontos da conversa.
Segundo a Folha apurou, os dois
deputados da bancada de Garotinho teriam dito que, se a Prece
não fosse retirada da lista, Carlos
Willian, na condição de sub-relator, faria requerimentos para quebrar o sigilo de corretoras supostamente ligadas ao PSDB. Eduardo Cunha nega essa versão. À reportagem, Delcídio confirmou
que houve a conversa com os dois
deputados, mas não quis falar sobre o teor do diálogo.
Independentemente das versões, de fato Carlos Willian pediu
a quebra do sigilo de quatro corretoras que a CPI não havia incluído na relação, entre as quais a
Link Corretora, dos filhos do ex-ministro tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros.
A CPI, no entanto, negou os requerimentos feitos por Willian e
ainda ameaçou extinguir sua sub-relatoria, por estar desviando o
foco das investigações, que era o
IRB (Instituto de Resseguros do
Brasil).
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal deu uma liminar à
Prece impedindo a quebra de seus
sigilos bancário e fiscal pela CPI
dos Correios.
A SPC decidiu multar os cinco
dirigentes da Prece na época em
que as operações foram feitas
(Ubiratan Lima, Magda Pereira,
Iguassu Pinto, Ana Cláudia Penha
e João Xavier) em R$ 20 mil. Após
a defesa dos acusados, a pena pode incluir inabilitação dos cinco
pelo prazo de dois a dez anos.
Somente Iguassu Pinto permanece na Prece. Lima, Magda e Ana
Cláudia saíram em setembro deste ano. Xavier, em julho.
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