|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Reestruturação da Abin fica congelada após a Satiagraha
Afastamento de Paulo Lacerda da agência de inteligência paralisa processo de integração com outros órgãos federais
A Abin não comenta a crise nem fala se algum órgão
do governo federal já teria indicado representante para integrar ações da agência
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise deflagrada pela Operação Satiagraha põe em risco o
projeto de reestruturação da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O afastamento do
delegado Paulo Lacerda da direção do órgão desacelerou o
processo de mudanças que vinha implementando havia 11
meses e que tinha, como linha
mestra, a integração com outros órgãos do governo.
A denúncia de que teria autorizado a participação irregular
de agentes da Abin na investigação, comandada pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, contaminou a reforma, causando desconfiança
entre as autoridades do governo sobre as conseqüências de
futuras ações conjuntas. Até
que a situação seja esclarecida,
não há clima de cooperação.
Um dos pilares da breve gestão de Lacerda foi a criação do
Disbin (Departamento de Integração do Sisbin), um centro de
operações que funcionaria em
regime de plantão, 24 horas por
dia, incluindo representantes
de todos os órgãos do Sisbin
(Sistema Brasileiro de Inteligência), entre eles, Polícia Federal, Coaf, Secretaria Nacional
de Segurança Pública, Forças
Armadas e Receita Federal.
Quando ainda estava na
Abin, Lacerda mandou reformar um dos 16 prédios do complexo da agência em Brasília.
Estariam à disposição salas
com mobiliário de escritório,
equipamentos de informática e
suporte de rede segura, além de
dormitórios. Questionada pela
reportagem, a Abin não comentou as mudanças nem informou se os demais órgãos já indicaram representantes.
Para o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), presidente da
CPI do Grampo, "o sistema de
inteligência está desmontado".
"A Abin está no limbo", afirma.
Crítico de Lacerda, Itagiba defende a integração. "Mas tudo
vai por água abaixo quando a
pessoa que idealiza isso, como o
Lacerda, trai o princípio estabelecido. Ele saiu da integração
institucional e foi para uma integração pessoal", diz.
Desde outubro de 2007,
quando trocou a PF pela Abin,
Lacerda conseguiu a aprovação
de um plano de carreira para os
arapongas, melhorias salariais
e até um concurso para admitir
novos efetivos. A meta do delegado era ampliar o atual contingente de 1.700 para cerca de
5.000 funcionários -em cinco
anos na Polícia Federal ele triplicou o efetivo e engordou o
caixa. A expectativa era que fizesse o mesmo na Abin.
Controle de operações
Embora as medidas trabalhistas tenham agradado a
maioria dos servidores, o mesmo não ocorreu com a reformulação operacional. Especialmente a criação da corregedoria e a extinção do Departamento de Operações de Inteligência, que analistas consideram a principal causa da falta
de controle sobre a atividade
dos agentes na Satiagraha.
"O controle das operações é o
calcanhar de aquiles de qualquer sistema de inteligência.
Descentralizar para outros três
departamentos foi um erro e
permitiu os desmandos", diz
Marco Antonio dos Santos, diretor da Prospect Intelligence e
ex-integrante do CIE (Centro
de Inteligência do Exército).
Santos atuou na elaboração da
lei 9.883/99, que criou o Sisbin.
O especialista concorda que a
crise adia os planos de reforma
e sugere que a Abin tenha na direção alguém "com visão estratégica e experiência no ramo".
(CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA)
Texto Anterior: Outro lado: Advogado afirma que vai provar regularidade de operações Próximo Texto: Inteligência: Delegado mantém poder mesmo afastado Índice
|