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DINHEIRO PÚBLICO
Ministério Público suspeita de superfaturamento, e construtora paulista alega problemas financeiros
Obra de fórum pára após gastar R$ 236 mi
BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local
Depois de absorver R$ 235,87
milhões em verbas federais, segundo o Ministério Público Federal, a
construção do Fórum Trabalhista
de São Paulo está paralisada.
A obra, na avenida Marquês de
São Vicente (Barra Funda, centro
de São Paulo), acumula um atraso
de dois anos em seu prazo de conclusão, faltando ainda cerca de
30% para ser finalizada, além de já
ter ultrapassado o orçamento inicial em R$ 8,9 milhões.
A interrupção da obra foi constatada na semana passada por um
engenheiro do Ministério Público
e por um funcionário do TRT-SP
(Tribunal Regional do Trabalho de
São Paulo). A vistoria também
constatou infiltração de água nas
paredes e pisos dos quatro pavimentos do subsolo do prédio.
Outro lado
A Construtora Ikal, responsável
pela construção, não confirmou a
interrupção das obras. José Antonio de Seixas Pereira Neto, advogado da empresa, disse que a Ikal
está sendo prejudicada pelo bloqueio judicial de pagamentos previstos em contrato com o TRT-SP
de 17 de junho de 98.
O Sindicato dos Trabalhadores
na Construção Civil de São Paulo,
no entanto, confirma a demissão
no último dia 10 de 504 operários a
serviço da Ikal, sendo 204 contratados para a obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.
O bloqueio de pagamentos do
TRT-SP para a Ikal atinge aproximadamente R$ 21,69 milhões de
um total de R$ 34,08 milhões pleiteados pela construtora e aceitos
pelo órgão a título de recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato de construção do prédio.
Bloqueio
O Ministério Público, que solicitou o bloqueio à Justiça, não aceita
os argumentos apresentados pela
Ikal.
Por isso, na última sexta-feira,
pediu à Justiça Federal a contratação de outra empresa para concluir a obra do fórum. Os procuradores querem que a nova construtora contratada seja paga pela própria Ikal até o fim.
O entendimento da Procuradoria é que há um superfaturamento
de 218% na obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.
A base para essa acusação é uma
fiscalização feita pela Receita Federal na Ikal e na Incal Incorporações S/A, empresas que têm sócios
comuns.
Os fiscais da Receita constataram
que as empresas registraram em
suas próprias contabilidades gastos de R$ 59,55 milhões, a preços
atualizados em setembro de 98,
com a construção do fórum.
Considerando uma margem de
lucro de 15%, admitida pelos advogados da Ikal consultados pela Folha para comentar o caso, o custo
da obra para o TRT-SP deveria ter
sido, no máximo, R$ 69 milhões,
aproximadamente, menos de um
terço dos R$ 235,87 milhões já pagos pelos cofres públicos.
Alegação
Os advogados da Ikal-Incal alegam que a correção atribuída pelo
Ministério Público aos valores pagos pelo TRT-SP está equivocada.
Segundo os advogados, considerando apenas os prejuízos decorrentes de atrasos no pagamento de
parcelas da obra, o preço do contrato foi reduzido em R$ 23,74 milhões em relação ao valor original.
Baseando-se também na fiscalização da Receita Federal, a Procuradoria não concorda com os prejuízos e a falta de recursos alegados
pela Ikal-Incal.
Os fiscais constataram transferência de recursos da Ikal-Incal
para outras empresas do grupo e o
envio de R$ 49,73 milhões para
uma financeira instalada no paraíso fiscal do Panamá.
A Folha apurou que o Banco
Central não tem registros oficiais
dessa remessa de divisas para o exterior.
O que o Ministério Público Federal tenta provar é que, sendo a obra
do Fórum Trabalhista de São Paulo a única fonte de receita da Ikal-Incal, as empresas não teriam como registrar prejuízo no contrato
com o TRT-SP e ao mesmo tempo
remeter dinheiro para firmas coligadas e para uma financeira no exterior -no caso, a empresa se chama International Real Estate Company.
O advogados da Ikal-Incal sustentam que a remessa de dinheiro
para o exterior ocorreu dentro dos
parâmetros legais e não guardam
nenhuma relação com a obra do
fórum.
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