São Paulo, segunda, 30 de novembro de 1998

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SEM SIGILO
Ministério passa por varredura da PF

da Redação

O ministro Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração) classificou ontem como "lamentável" a descoberta do que parece ser um grampo no telefone de seu gabinete. A central telefônica do prédio passará por varredura amanhã à noite.
"Isso é uma prática generalizada no Brasil, infelizmente", afirmou Bresser, que deixou a apuração do caso a cargo de seu chefe de gabinete, José Walter Bastos. O ministro não sabe se haverá abertura de inquérito e disse não ter idéia de quem possa ser o autor do grampo.
A varredura será feita por agentes da Polícia Federal.
O suposto grampo foi descoberto há dez dias por uma empresa especializada na venda de equipamentos para escuta telefônica. A empresa estava demonstrando a assessores do ministro como funcionava o aparelho antigrampo, usado para detectar e desativar grampos telefônicos.
O primeiro telefone testado foi justamente o do ministro, que fica em seu gabinete e é usado para conversas com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Bresser disse que há um segundo telefone em seu gabinete, o qual só FHC utiliza quando precisa falar urgentemente com ele, que não foi grampeado.
Ao acoplar o aparelho na linha telefônica, a luz que indica a existência do grampo acendeu.
Apesar do teste positivo, Bastos afirmou que só será possível ter certeza de que o telefone estava grampeado depois da varredura feita pela PF.
"Mesmo que tudo indique que há grampo, a própria empresa nos alertou para o fato de que a luz pode ter acendido porque a nossa central não é totalmente compatível com o sistema deles", disse Bastos.
Segundo ele, a luz do detector de grampo usado no ministério acende sempre que há variação de voltagem na linha. "Essa variação pode ter sido causada pelo grampo, mas também é possível que seja fruto dos sistemas incompatíveis."
A PF tentará também localizar a origem do grampo.
Os assessores de Bresser decidiram fazer o teste na linha do ministro porque ela não era criptografada -com aparelhos que embaralham a voz da pessoa.
"Aqui no Mare não há nenhuma linha criptografada. Na verdade, nunca nos preocupamos com grampos. Mas depois do caso do grampo no BNDES, ficamos mais alertas", disse Bastos.
A preocupação com um possível grampo no telefone privativo de Bresser aumentou porque, durante o período eleitoral, Bresser ficou encarregado da arrecadação de fundos para a campanha à reeleição de FHC.
Na opinião do general Alberto Cardoso (Casa Militar), a existência de várias escutas ilegais em órgãos públicos (BNDES, PF e no telefone do ministro de Bresser Pereira) não significa que há um complô contra o governo. "São interesses individuais."



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