São Paulo, sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

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CONEXÃO TUCANA

Tesoureiro diz à PF que Valério cobrou Azeredo

ANDRÉA MICHAEL
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à Polícia Federal, o administrador Cláudio Mourão da Silveira disse que o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) recebeu o publicitário Marcos Valério de Souza para discutir dívidas da campanha de 1998, quando o tucano disputou a reeleição para o governo de Minas.
No depoimento, colhido em 13 de dezembro, Mourão afirmou: "Marcos Valério, diversas vezes, solicitou ao declarante que obtivesse audiência com o sr. Eduardo Azeredo; porém, as reuniões não foram bem-sucedidas para Marcos Valério, sendo, pelo contrário, conflitantes, não se chegando a um acordo sobre a dívida reclamada pelo publicitário".
Procurado pela Folha ontem, Mourão disse que foram "quatro ou cinco encontros", entre 1999 e o final de 2001. "O Eduardo não aceitava a dívida, não tinha como pagar. Marcos Valério ficou na expectativa de que o Eduardo pudesse achar uma forma de pagar, mas [isso] não [aconteceu]."
A pendência cobrada, cujo valor principal era de R$ 9 milhões, irrigou o caixa dois da campanha tucana em Minas, segundo Mourão. O dinheiro seria fruto de um empréstimo tomado por Valério no Banco Rural, em 1998, por meio da DNA, uma de suas empresas.
Azeredo disse ontem, por meio de sua assessoria, que tomou conhecimento do empréstimo quando "foi cobrado, quando virou dívida", sem especificar em que momento isso aconteceu.
Em agosto, quando se tornou público o uso de caixa dois em sua campanha, Azeredo, então presidente do PSDB, divulgou nota na qual se afirmava "que [ele] desconhecia o empréstimo feito pela agência DNA no Banco Rural".
Conforme a quebra de sigilos telefônicos obtida pela CPI dos Correios, houve 53 chamadas do telefone celular de Marcos Valério para Azeredo e mais duas no sentido inverso entre 2001 e 2002.
Na ocasião, o senador atribuiu as chamadas a "conversas" sobre "política", além de um trabalho experimental que Valério teria feito para a campanha de 2002, mas que foi descartado.
Em depoimento à já extinta CPI do Mensalão, em agosto, Marcos Valério afirmou que esteve duas vezes com Azeredo para tratar da pendência relativa à campanha.
Azeredo sempre atribuiu ao tesoureiro Mourão a responsabilidade pela tomada do empréstimo bancário e pelo uso de caixa dois.

Lobista
Tesoureiro da campanha de Azeredo em 1998, Mourão admite ter usado um caixa dois de R$ 10 milhões, com base no dinheiro repassado por Marcos Valério.
Ainda no depoimento, Mourão "afirma peremptoriamente" não ter feito um documento segundo o qual o número verdadeiro da contabilidade paralela de Azeredo seria de R$ 91,5 milhões.
Perícia do Instituto Nacional de Criminalística concluiu que não houve montagem do documento, que chegou às mãos da PF por meio do lobista mineiro Nilton Monteiro. Mourão será convocado para novo depoimento.


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