São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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O POLÍTICO

Uma das deficiências mais onerosas para o governo Lula é a da ação política. Não é necessário ser exigente para concluir que Lula nunca fez política propriamente, a não ser política sindical. No PT, sua liderança e o partido nasceram juntos. Quando o partido se fragmentou, a direção tática de sua corrente foi de José Dirceu. Como deputado federal, esteve entre os mais apáticos e marginais, sem interesse algum pelas articulações e negociações ainda bastante movimentadas naqueles primórdios da redemocratização, como se forçado a estar ali. Saiu com opiniões corrosivas sobre a vida parlamentar, os congressistas, os dirigentes partidários, em uma palavra, a política.
A operações políticas do governo foram entregues a José Dirceu. Mas, a rigor, não houve operação política, houve transações grosseiras, cujos altos custos para o governo não o livraram de mais custos a cada novo passo. A visão rombuda daquela montagem de ministério e de base parlamentar, hoje se vê, era fruto da mesma concepção que se desvendaria nas revelações do valerioduto.
Quando se dispôs a fazer, ele mesmo, uma reforma do ministério, forçado pelo desgaste, Lula consumiu quase meio ano e, no final, só mudou dois ministros. Reeleito em outubro, já adiou para final de janeiro, e provavelmente entrará por fevereiro em diante, a composição do novo ministério, que nem começou. Na crise do valerioduto, Lula caiu em uma paralisia que nenhuma perplexidade, por si só, poderia criar e manter por tantas semanas. Foi o imobilismo imposto pela incapacidade de pensar e agir politicamente. E quando afinal disse alguma coisa, na cena de sua "entrevista" no pátio de um hotel em Paris, foi para acrescentar o patético pessoal e a inverdade factual à omissão de presidente. Na crise dos atos indignos de Antonio Palocci, o depoente mais adulterador de quantos do governo responderam no Congresso, a sua permanência comprometedora só foi encerrada por Lula a muito custo.
As deficiências para a ação política não contribuem só para os arranjos do tipo valerioduto. A compra de apoio com cargo público macula a democracia com a sujeição corruptora do Congresso; prejudica a administração, com nomeados sem habilitação para os cargos; e agrava a corrupção, porque a ambição de cargos não vem dos melhores motivos. Foi, porém, o método a que Lula deu continuidade com a mesma aplicação de seu antecessor.


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