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Versão sobre ajuda da Abin à PF causou a queda de Lacerda
Abrangência da ação da agência na Satiagraha fez Lula se sentir enganado por diretor, que havia admitido colaboração lateral
O ministro Nelson Jobim liderou a pressão pela saída do delegado por ele ter permitido atuação maior do que sabiam seus superiores
KENNEDY ALENCAR
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A principal razão para a queda definitiva de Paulo Lacerda
da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) foi o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter se sentido enganado pelo
auxiliar. Lacerda havia dito que
a Abin tinha apenas colaborado
de forma lateral na Operação
Satiagraha. Deu essa versão ao
presidente e a confirmou na
CPI dos Grampos.
No entanto, foi revelada uma
atuação da Abin na operação da
Polícia Federal que foi considerada por ministros de Lula como fora dos padrões. Foram colocados à disposição do delegado Protógenes Queiroz mais de
60 agentes, entre outras funções, para analisar escutas telefônicas. O ministro da Defesa,
Nelson Jobim, liderou a pressão pela queda de Lacerda.
Segundo um ministro, Lacerda extrapolou ao permitir uma
participação da agência "maior
do que sabiam seus superiores"
na Operação Satiagraha. Ou seja: maior do que afirmaram saber Lula e o general Jorge Felix,
ministro do GSI (Gabinete de
Segurança Institucional).
Nos quase quatro meses em
que Lacerda ficou afastado da
Abin, Lula sinalizou afirmou
que ele retornaria ao cargo se
não ficasse provada sua participação no suposto grampo de
um diálogo do presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Gilmar Mendes,
e o senador Demóstenes Torres
(DEM-GO).
No entanto, revelações a conta-gotas sobre o tamanho da
participação da Abin e o depoimento do agente Marcio Seltz
de que entregara a Paulo Lacerda transcrições de grampos da
Satiagraha acabaram por miná-lo junto ao presidente Lula.
"Convite"
Nos bastidores, Lacerda foi
convidado a sair, a deixar a
Abin. Recebeu um convite do
Ministério da Justiça para ser
adido policial em Lisboa. Lula
não falou diretamente com ele.
Segundo amigos do ex-diretor-geral da Abin, ele entendeu
o convite como a confirmação
de que não retornaria ao comando da agência. Então, preferiu aceitar o novo cargo.
Afastado da Abin após a acusação de Mendes, Paulo Lacerda tinha a expectativa de voltar
ao posto caso não fosse provada
sua participação no grampo.
Sindicância do Ministério do
Gabinete da Segurança Institucional, ao qual a Abin é vinculada, não foi conclusiva sobre a
participação da agência -embora o próprio Felix tivesse
afirmado em reunião com
agentes que o vazamento do
grampo ocorrera na agência, o
que ele nega oficialmente.
A investigação da Polícia Federal sobre o mesmo caso também caminha para que não seja
determinada autoria do suposto grampo.
Nas palavras de um ministro,
Lacerda avançou o sinal ao
manter contato estreito com o
delegado federal Protógenes
Queiroz, que conduziu a Operação Satiagraha até a sua deflagração em julho passado.
Lula resolveu dar uma compensação a Lacerda, nomeando-o como adido da embaixada
em Portugal, devido à longa ficha de serviços prestados ao
governo petista.
Lacerda foi o diretor-geral da
Polícia Federal no primeiro
mandato de Lula. Deixou o posto no início do segundo mandato, num movimento do Palácio
do Planalto para tentar diminuir o que ministros chamam
de espetacularização das operações da PF.
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