São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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Versão sobre ajuda da Abin à PF causou a queda de Lacerda

Abrangência da ação da agência na Satiagraha fez Lula se sentir enganado por diretor, que havia admitido colaboração lateral

O ministro Nelson Jobim liderou a pressão pela saída do delegado por ele ter permitido atuação maior do que sabiam seus superiores

KENNEDY ALENCAR
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A principal razão para a queda definitiva de Paulo Lacerda da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter se sentido enganado pelo auxiliar. Lacerda havia dito que a Abin tinha apenas colaborado de forma lateral na Operação Satiagraha. Deu essa versão ao presidente e a confirmou na CPI dos Grampos.
No entanto, foi revelada uma atuação da Abin na operação da Polícia Federal que foi considerada por ministros de Lula como fora dos padrões. Foram colocados à disposição do delegado Protógenes Queiroz mais de 60 agentes, entre outras funções, para analisar escutas telefônicas. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, liderou a pressão pela queda de Lacerda.
Segundo um ministro, Lacerda extrapolou ao permitir uma participação da agência "maior do que sabiam seus superiores" na Operação Satiagraha. Ou seja: maior do que afirmaram saber Lula e o general Jorge Felix, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Nos quase quatro meses em que Lacerda ficou afastado da Abin, Lula sinalizou afirmou que ele retornaria ao cargo se não ficasse provada sua participação no suposto grampo de um diálogo do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
No entanto, revelações a conta-gotas sobre o tamanho da participação da Abin e o depoimento do agente Marcio Seltz de que entregara a Paulo Lacerda transcrições de grampos da Satiagraha acabaram por miná-lo junto ao presidente Lula.

"Convite"
Nos bastidores, Lacerda foi convidado a sair, a deixar a Abin. Recebeu um convite do Ministério da Justiça para ser adido policial em Lisboa. Lula não falou diretamente com ele.
Segundo amigos do ex-diretor-geral da Abin, ele entendeu o convite como a confirmação de que não retornaria ao comando da agência. Então, preferiu aceitar o novo cargo.
Afastado da Abin após a acusação de Mendes, Paulo Lacerda tinha a expectativa de voltar ao posto caso não fosse provada sua participação no grampo.
Sindicância do Ministério do Gabinete da Segurança Institucional, ao qual a Abin é vinculada, não foi conclusiva sobre a participação da agência -embora o próprio Felix tivesse afirmado em reunião com agentes que o vazamento do grampo ocorrera na agência, o que ele nega oficialmente.
A investigação da Polícia Federal sobre o mesmo caso também caminha para que não seja determinada autoria do suposto grampo.
Nas palavras de um ministro, Lacerda avançou o sinal ao manter contato estreito com o delegado federal Protógenes Queiroz, que conduziu a Operação Satiagraha até a sua deflagração em julho passado.
Lula resolveu dar uma compensação a Lacerda, nomeando-o como adido da embaixada em Portugal, devido à longa ficha de serviços prestados ao governo petista.
Lacerda foi o diretor-geral da Polícia Federal no primeiro mandato de Lula. Deixou o posto no início do segundo mandato, num movimento do Palácio do Planalto para tentar diminuir o que ministros chamam de espetacularização das operações da PF.


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