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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Ex-presidente conclamou o PSDB a explorar a crise política na corrida pelo Planalto
FHC incita tucanos a "puxar PT para briga" durante palestra
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Afirmando que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva terá de
"voltar a temas desagradáveis" ao
longo da campanha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conclamou ontem o PSDB a
explorar a crise política na disputa
pela Presidência da República.
FHC incitou o partido a "saber o
que interessa na campanha" e
"forçar essa agenda".
"Tem que puxar para a briga",
insistiu. "Não podemos embarcar
na agenda dos nossos companheiros que estão lá em cima, não.
A conversa deles é de que essa
questão moral não conta mais.
Conta, sim. Ladrão não mais."
Para ele, fazer o povo "sentir
que o novo governo está disposto
efetivamente a punir é essencial".
Mas "ninguém acredita mais que
vá acontecer" porque os "fios que
ligam hoje o eleito ao eleitor estão
desencapados".
"Tem um curto-circuito aí. Acabamos de assistir a seguidas sessões, meses a fio, na televisão, de
crimes sendo ditos ao país. Corrupção, não sei o que lá, mas em
quantidade, comprometendo urbi et orbi [cidade e mundo],
quando a gente não quer dizer o
nome fala em latim... Mas o que
aconteceu, o que vai acontecer?
Pode? Não pode."
Por isso, recomendou, o PSDB
deve votar pela cassação de todos
os envolvidos no escândalo do
mensalão -inclusive dos tucanos- para "repudiar" a idéia de
que políticos sejam "farinha do
mesmo saco" e reconquistar a
confiança do povo. "Tem que
acontecer. Não acho certo, não
acho bom que seja só para uns,
não. Para todos, inclusive para os
nossos. Se não, você não tem moral", afirmou.
Numa crítica aos que ensaiam
um acordo com o PT, o ex-presidente cobrou dos tucanos coragem para "dizer que não, votar
contra, cassar". "Não tem palavra
que diga não sou igual. Se você
procede da mesma maneira, está
perdido." FHC fez questão de frisar que muitos tucanos já estão
megulhados nessa tarefa. "Não
estou criticando irresponsavelmente. Estou dizendo que nós todos temos que fazer isso e não
aceitar essa conversa."
Ao falar na palestra de reinauguração do Instituto Social-Democrata (ISD), fundado por ele
na década de 80, FHC duvidou de
um espetáculo do crescimento
com baixo índice de investimento. Ele recomendou que o PSDB
aborde temas de interesse do povo, como violência, drogas, o fim
da impunidade e educação. E use
uma linguagem "direta" e "mais
simples", insistindo em três pontos, no máximo cinco. "Não
adianta querer levar para massa
temas muito complexos que são
importantíssimos mas são restritos a grupos, como este aqui. Aqui
podemos discutir política monetária, mas não tem cabimento fazer uma campanha de política
monetária", sugeriu, explicando.
"O povo em questão de juros quer
saber em quantas vezes? Qual é a
prestação", argumentou.
Para ele, o partido tem de investir em TV, rádio e "na conversa de
botequim". "Se você não dá aos
partidários o argumento, ele se
perde na conversa. E o argumento
é um, dois, três", repetiu.
Na entrada, FHC disse que Lula
pode ser derrotado porque terá de
se explicar "o tempo todo": "Vai
ter que voltar a temas desagradáveis. Não o tema da corrupção. Isso não adianta nem voltar. Todo
mundo já sabe. Teve muita. Mas
por que não fez o que prometeu".
Embora tenha citado o ex-ministro quatro vezes em sua palestra, FHC negou preferência pelo
prefeito paulistano José Serra como candidato à Presidência.
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